1.7 - Paradoxo

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LENA

Estava quase recuperando da minha paixão da Kara.

Recuperar é uma palavra muito forte, parece que estou insinuando estar doente, mas não é o caso, o que eu quero realmente dizer é que eu estava superando o fato de ela não me querer como mais que uma amiga. 

Finalmente, tenho me aberto estes últimos dias com minha psicóloga e com minha família. Isso os deixou realmente animados e eu senti esse calor no peito, o fato de orgulhá-los me dava mais coragem em fazê-lo, não sei porque insisti em ser teimosa afinal.

Sentia-me bem mais confortável em contar com a ajuda do que ficar sem ela e por um minuto me perguntei como nunca deixei eles entrarem na minha vida antes? Quer dizer, eles já faziam parte, mas eu os impedia de entrar.

De qualquer maneira, isso não é muito importante agora para mim porque a Kara me chamou para ir até sua casa hoje a tarde e eu já estava a caminho, pedi para que meu irmão me levasse até seu prédio de carro. Era um sábado e estávamos livres.

- Hey - Kara cumprimentou saindo do apartamento antes mesmo de eu adentrar  - estava pensando, por que não damos uma volta? 

- Claro - assenti dando de ombros.

Naquela tarde em específico, pressenti algo de errado, Kara estava mais tensa que o normal. Não que eu não tivesse percebido isso antes, nos dias anteriores ela saía apressada da sala o que me deu leves pontadas de ciúme. 

Isso tudo era para ver o namorado? Nossa que pressa...

Enfim, prefiro não pensar nisso.

- Kara, está tudo bem? - perguntei, fitando-a de soslaio.

Nesse momento estávamos num parque próximo, a grama verdinha reluzia com a luz fraca do sol por ser um dia nublado e o som de risadas de crianças ao fundo animavam o lugar. Bem agradável, devo dizer.

Kara não respondeu, ela apenas me olhou por alguns segundos e me puxou para um banquinho por ali, sentando-se junto comigo. Tombei a cabeça em dúvida, eu a conhecia bem demais para saber que isso não era do feitio dela.

Seus olhos cristalinos transpassavam aflição.

- Kara?

Ela respirou fundo, virou-se de frente para mim, agarrou meu rosto com as duas mãos e simplesmente me beijou. 

Um beijo calmo e agressivo ao mesmo tempo. Vou explicar o paradoxo.

Definia-se agressivo porque ela não me perguntou se eu queria. Ela simplesmente tomou meu rosto como se já tivesse a minha resposta. Não se importou com o que eu poderia pensar, não se importou com o fato de que eu já tive sentimentos por ela e isso tudo não poderia vir à tona de novo se fosse para ela voltar com o namorado outra vez.

Ela foi egoísta assim como eu fui da primeira vez. 

Isso não me impediu de aproveitar, sendo uma hipócrita ao ponto de fechar os olhos e me entregar a sensação que eu simplesmente amava, que mesmo que meu pensamento dissesse ser errado, me conquistava pelo coração. 

O beijo também era calmo porque ela era delicada e atenciosa, suas mãos pousavam acariciando em círculos minhas bochechas, sem pressa, com carinho que ela claramente demonstrava em beijos curtos e longos, os vários que trocamos. 

Lábios tão macios quanto só os dela poderiam ser.

E mesmo que eu não soubesse ainda, aquele banquinho ficaria marcado eternamente para mim. 

Depois de algum tempo, nos separamos um pouco ofegantes. Ergui uma sobrancelha sugestiva para ela, como quem perguntava implicitamente o que acabou de acontecer. 

Seus lábios estavam levemente inchados e roseados devido as mordiscadas, seus dedos trêmulos em meu queixo e suas bochechas quentes como as minhas. Nossos olhos, obviamente, contemplavam-se silenciosos e intensos.

- Eu gosto de você - ela respondeu simplesmente.

- O quê? - fechei os olhos e os abri novamente, piscando lentamente atordoada - o que você disse?

- Eu gosto de você, Lena - repetiu baixinho, mirando meus lábios - e-eu fiquei com medo, quando você me beijou antes, porque você me faz sentir coisas...

- Você está realmente falando sério? - minha voz saiu mais rouca do que eu gostaria - você acha mesmo que é só seu namorado terminar que você pode vir me usar como segunda opção? - perguntei um tanto ríspida.

Eu não sou uma otária se ela realmente está pensando isso, soube pela Sam que eles terminaram de novo. Kara arregalou os olhos e negou com a cabeça veemente.

- Não, como você sabe que... esquece... Lê, não é isso - ela pegou uma das minhas mãos e franzi o cenho - eu estou tão confusa quanto você, eu queria experimentar isso com você.

De repente tudo estava tão confuso, minha mente parecia estar dando aquela típica tela azul, eu não conseguia raciocinar. Meu peito palpitava de sentimentos misturados. 

Quando eu estava quase superando tudo ela se declara? Eu deveria ficar feliz ou triste porque não me quis antes? Pensei que essa oportunidade nunca chegaria e aqui estou.

Então porque diabos eu não estou dando pulos de alegria? Depois de muito pensar, me pronunciei novamente. 

- Não quero ser um teste, não quero que alguém fique comigo para se descobrir - iniciei novamente - como se eu fosse de uso descartável. Eu não sou uma experiência, eu não quero ser tratada como uma.

Kara ficou alguns minutos em silêncio, com os lábios curvados e os olhos arregalados.

 Retirei minhas mãos das dela, parece que eu já tinha minha resposta.

- Foi o que eu pensei.

***

SAD EYES - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora