1.6 - Redescobrindo

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KARA

Passaram-se alguns dias desde aquele que julguei ser um divisor de águas da minha vida. Fitar Lena nunca foi um problema, mas desde então eu não consigo parar de pensar nela, ou evitar de fixar meus olhos quando ela não está olhando. Não consigo parar de me perguntar como vim parar nesse estado? Quer dizer, antes eu não tinha motivos para isso ou tinha?

Será que eu reprimi meus pensamentos por estar em outro relacionamento?

Tudo está tão confuso em minha cabeça, tudo que sei é que ela é a primeira coisa que eu penso quando acordo e quando vou dormir, ela é a pessoa que sou a primeira que quero contar tudo sobre meu dia e a última que quero magoar. 

Estive esperando por um momento para conversar com Alex sobre isso, essas palpitações estranhas em meu peito, esse calor que eu sinto perto dela, isso é normal certo? Eu não fico assim com a Sam. 

De qualquer forma, Alex está sempre trabalhando e eu também então não tenho a encontrado muito para conversarmos, isso me deixa bastante triste e mais ansiosa ainda.

Controlar minha ansiedade nunca foi fácil e sem ter ninguém de confiança para falar sobre esses sentimentos novos, não sei o que fazer.

Durante esse pequeno curto de tempo em que acabei mudando minhas formas de pensar sobre tudo, Sam tem me observado vez ou outra com um riso traveso nos lábios. 

- O que está olhando? - perguntei erguendo uma sobrancelha.

- Você não para de olhar para ela, Kara, seja franca, você tá afim dela não tá?

- O quê? Não sei o que você está falando - cruzei os braços, sentindo as bochechas esquentarem. Ela gargalhou baixinho porque estávamos em aula.

Meu rosto sempre me entrega. Que droga.

- Aham, estou vendo, por que você não a chama para sair?

- Fala sério, Sam, eu sou hétero! - reclamei no mesmo tom.

- Não é isso que seu olhar mostra, idiota - zombou prontamente. Revirei os olhos.

- Não pode acontecer nada entre nós, somos boas amigas só - falei mais para mim do que para ela. Sam deu de ombros inconformada e voltou sua atenção ao quadro.

Surpreendentemente, ao olhar para o lado, lá estava ela, respondendo a pergunta do professor com a autoridade de quem estudou mesmo não estando ali por vontade própria. Isso era uma das coisas que eu mais amava nela, sempre que entrava em algo, se entregava completamente naquilo.

Perdi os olhos nela por longos minutos até analisar meu pensamento anterior. Eu acabei de dizer que amava? Não. Não. Não.

Depois das últimas aulas, praticamente fugi até o banheiro onde coloquei um pouco de água sob o rosto. Estava sentindo um sufocar absurdo com tudo isso, uma pressão inexplicável de modo que eu não aguentava mais, precisava falar disso com alguém. 

Do banheiro fui diretamente procurar um outro grupo meu de amigos.

- James, podemos conversar? - indaguei diretamente a ele, ignorando todo mundo. 

Ele franziu o cenho, imagino que fosse pelo meu semblante explícito de desespero.

- Kara, poxa, você mal fala comigo mais, estou vendo isso viu - Win cruzou os braços e pedi desculpas com um olhar triste.

Era verdade. Eu tinha me afastado deles para ficar mais com a Lena, é só que eu não conseguia aguentar vê-la sozinha pelos corredores, Sam ficava com ela, mas ainda sim sei que ela não gostava de intimidades, embora comigo ela o fizesse. 

onquistando-a aos pouquinhos.

James e eu nos afastamos um pouco do grupo que aparentemente esperava a próxima aula enquanto eu já estava livre. 

- O que aconteceu Kara? - seus olhos me fitavam com zelo, ele sabia que eu não teria o chamado dessa forma se não fosse algo sério.

- É uma dúvida amorosa... olha, não me julgue está bem? - perguntei mexendo as mãos nervosamente. Ele assentiu de pronto ainda com as sobrancelhas contraídas confuso com tudo - o que você faria se uma garota... digo uma pessoa que você tem amizade profunda estivesse chamando sua atenção de outra forma? Tipo mais que amigas? Quero dizer amigos... você entendeu...

Ele pensou por um momento, segundos que pareciam não acabar, infernais.

- Isso tem a ver com o Mike? 

- Não... James, não tem, você sabe que terminei com ele, por que está me perguntando isso?- perguntei impaciente.

- Desculpa, eu ainda sou amigo dele também, você sabe, mas, sobre quem você está falando? - ele perguntou intrigado. Suspirei.

- Lena - respondi baixinho.

- Oh.

- Você precisa me dizer o que fazer, porque toda vez que eu fico perto dela eu tenho vontades... eu nunca senti isso! EU não sei como é sentir isso, o que devo fazer? - indaguei desesperada, ele segurou-me pelos ombros.

- Kara, você está tendo um ataque de ansiedade, respira fundo - ele pediu calmamente e obedeci, sentindo meu peito subir e descer pela respiração descompassada que nem havia notado antes.

Ao conseguir amenizar a situação, ele me fitou sério.

- Eu acho que você apenas deveria experimentar, sabe, se você quer isso... - sugeriu dando de ombros - talvez passe, talvez não, você só vai saber se der uma chance.

- Não seria errado? - indaguei ainda receosa.

- Claro que não, Kara, estamos no século XXI, acorde para a vida - respondeu com um sorriso de canto.

- Obrigada, James - falei e o abracei aproveitando um pouco daquele carinho.

Jamais deveria ter me afastado deles. Despedi-me de Win e da galera e fui rumo ao meu apartamento convicta de que iria tentar. 

Tentar não mata ninguém.

***

SAD EYES - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora