Henry estava sem saída. Não conseguia pensar em nada. Não havia escapatória dessa vez. Custara sobreviver a um espírito apenas, e com um enorme corte no braço. E por falar nisso, estava doendo pra caramba. Henry respirou fundo e tentou pensar com clareza. Fugir estava fora de questão. Ele seria morto assim que se mechesse. Se soltasse o fogo teria o mesmo destino. O jeito seria enrolar. Quem sabe conseguia abrir alguma brecha? Além do mais, tinha uma arma secreta... ele sabia como usar os nomes contra eles. Só precisava se lembrar do nome de algum deles.
- E aí Henry? - Disse a única mulher entre os espíritos. Ela dava calafrios em Henry... Ainda se lembrava da primeira vez que a viu, em sua janela. Apesar de assustadora de qualquer modo, parecia que a atual situação a fazia ainda mais horripilante, com seus cabelos tampando o rosto, feridas por toda a pele... - Como vai ser? Do jeito dífícil, ou do fácil?
- Ahn... o que seria o jeito fácil? - "Pense, pense, pense!" , pensava Henry.
Os espíritos piscaram meio confusos. Um, que parecia ter levado uma surra de alguém, respondeu:
- Seria você largar essa merda em sua mão, e nos deixar entrar em seu corpo sem reclamar.
- E o difícil? - Perguntou Henry.
O cara da furadeira respondeu:
- Você morre. E aí?
Henry ouviu outra vez um sussurro em seu ouvido. Dizia apenas: "Berta". Ele lembrou-se subitamente que Berta era o nome da madrasta de Alícia. Pelo que parecia, teria que usar o seu trunfo logo de cara. Uma pena, pois deveria ser o elemento surpresa.
Subitamente, Henry percebeu que um dos corpos no chão estava chamuscado. E o dono de seu corpo, parecia mais claro que os outros. Olhando mais atentamente percebeu que Berta era bem mais escura que os outros, e se olhada de relance quase parecia ser real. Então algo começou a fazer sentido... seria um espírito claro mais fraco que um espírito escuro? Se sua teoria estivesse certa, Berta seria o espírito mais forte entre eles. Seria ela o tal poltergeist? Se ele a vencesse os outros o deixariam em paz? Ou, na melhor da hipóteses, sumiriam junto com ela?
Rapidamente, apagou o fogo, e puxou uma caneta do bolso. Os espíritos ficaram alarmados e fizeram menção de atacar. Pegou um papel que havia trazido consigo e escreveu o nome de Berta numa folha. Todos os espíritos ficaram olhando sem entender, enquanto Henry rasgou a folha em pedaços e colocou na boca de um dos corpos.
...
Alícia assistia à cena, ao longe. Se perguntando o que Henry estava fazendo. Seria alguma coisa nova que ele apredeu com o livro?
Ainda se sentia péssima, devido o esforço ao abrir aquele porão novamente. Ainda sentia sangue pingando de seus olhos, o que era uma sensação terrível, mesmo para alguém morto...
...
Os espíritos, inclusive Berta, recuaram alarmados. "Graças a Deus", pensou Henry, seu blefe havia funcionado. O nome no papel não valia de nada, pois o modo de se obter poder sobre um espírito era completamente diferente. Mas os espíritos não precisavam saber disso... Na verdade, enquanto estava rasgando o papel, o havia encharcado de água benta, que havia num garrafinha em seu bolso. Quem sabe algum dos espíritos fosse burro o suficiente para tentar retirá-lo?
Por sorte, Berta foi burra o suficiente. Talvez não burra, mas receosa devido seu nome estar escrito lá. Assim que tocou o papel, desapareceu. A confiança dos espíritos se abalou por tempo suficiente para que Henry pudesse acender um fósforo e lançá-lo nos corpos, cobertos em gasolina. O sussurro e a voz gritante disseram quase que na mesma hora: "Eu Fecharia os olhos se fosse você". Henry havia aprendido a confiar no sussurro, e tomar cuidado com a voz. Se virou e correu. Então fechou os olhos com força quase na mesma hora em que sentiu um grande calor atrás de si e percebeu uma luminosidade muito forte.
...
Alícia finalmente entendeu uma coisa. Agora sabia porque o fogo de combate consumia a energia vital dos espíritos. Ela viu Henry colocar fogo nos corpos e alguns segundos depois, todos os espíritos pareciam estar usando o modo de chamas. Tinha quase certeza que quando se usava o tal modo de combate, o inverso acontecia. Começava a se sentir melhor, o sangue parou de lhe incomodar. Mas sua aparência ainda era terrível. Isso iria mudar em breve...
...
Henry ouviu um dos espíritos - seu palpite era que fosse o mais claro - gritar e depois sentiu um calor um pouco maior por um tempo. Não pôde evitar. Abriu os olhos. Eles doeram bastante quando ele os abriu, mas fora isso, estavam intactos. Um dos espíritos - o mais claro, para ser exato - estava se desfazendo em névoa. Os outros pareciam pegar fogo, cada um com uma cor diferente. O fogo parecia os consumir, à medida que seu próprios corpos eram consumidos. Todas as cores pareciam se transformar lentamente em vermelho. Quando os espíritos perceberam Henry, o olharam com um ódio perfurante. Disseram, então, aos berros:
- Se nós queimarmos, você queimará conosco...
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Apenas um Conto de Terror
ParanormalHenry Acabou de se mudar para sua nova casa depois de uma discussão com os pais. Mal sabe ele o destino que terá de enfrentar devido a essa escolha.