Apenas um Conto de Terror

Parte 30 - Revelações Pt. 2

Henry não conseguia pensar direito. Estava nervoso demais para isso. Foi então que pôde lembrar nitidamente o que houve.

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Ele se lembrou quando foi possuído por vários espíritos, e contra sua vontade massacrou os próprios pais. Se lembrou do ódio que sentiu ao ser obrigado a fazer tudo aquilo e assistir a tudo. Mas Henry não era um humano comum, ele tinha de certa forma, uma resistência... ou sensitividade... o que provavelmente vinha de família...

Então Henry retomou o controle do próprio corpo. Queria se livrar desses espíritos mas não fazia ideia de como. Aquilo não poderia ocorrer de novo. No outro dia, Henry se demitiu e tentou encontrar uma maneira de acabar com aquilo. Foi quando percebeu que sua ira não estava mais tão grande e os espíritos estavam quase retomando o controle. Não podia permitir aquilo.

Foi então que teve uma grande ideia. Talvez se morresse, aqueles espíritos morreriam junto, ou pelo menos seriam banidos dali. Porém o pai de Henry apareceu. Não o pai, propriamente dito, mas sim sua alma. Ele disse apenas uma coisa: "Encontre a casa. Destrua-a. Todos eles estão presos também à ela."

Henry pensou que fosse apenas sua imaginação. Pegou um terço que havia na cama de sua mãe, e começou a rezar. Rezou, não para conseguir salvação, até porque não era muito religioso, mas para que Deus, se de fato existisse, pelo menos entendesse os seus motivos. Foi para seu quarto e usou uma corda para tirar sua própria vida.

Tudo poderia ter acabado ali, mas a alma de Henry buscava por vingança. Com esse sentimento de ódio, não conseguiu ir ao além. Sua alma entrou num cara que dormia à beira da estrada, que parecia ter mais ou menos sua idade. A ira de uma pessoa nem se compara à ira de um espírito, tanto que Henry se tornou tão poderoso que conseguiu dominar o humano à força, resistindo à sua força de vontade. Porém, algo aconteceu. Um demônio que passara despercebido entre os espíritos, se agarrara a Henry, e tentava entrar no humano junto com ele. Henry conseguiu resistir até mesmo ao demônio, mesmo travando algumas "batalhas mentais" tamanha era sua ira. O demônio, chamado Damien, teve uma ideia: apagou as lembranças de Henry, restando apenas alguns instintos... quem sabe conseguiria dominá-lo assim? O demônio até mesmo mudou os traços físicos do homem possuído usando grande parte de sua energia, para que tudo saísse como o planejado. Porém um desses instintos, o de vingança, sem querer levou Henry àquela casa... e assim se iniciou uma jornada aterradora na nova vida de Henry.

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Henry agora mal podia se conter. Afinal aqueles incubus desgraçados já tinham mesmo tirado tudo o que ele tinha, inclusive sua vida. Precisava acabar com todos. Aquele demônio porém seria algo muito mais difícil, e só agora se dava conta disso. Ele já não gastava energia falando em sua mente nem causando pesadelos (batalhas mentais) havia bastante tempo. Provavelmente estava mais poderoso do que Henry se lembrava. Henry podia vê-lo quase como se fosse real, bem atrás dos dois garotinhos (os únicos que realmente o haviam ajudado até agora, além dos padres).

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Damien percebeu que Henry estava recobrando sua memória ou consciência. Em breve algo de interessante aconteceria... Mas não poderia deixá-lo ficar com tanta raiva, pois ainda não conseguira se recuperar totalmente. Nunca tinha gostado muito de ficar no "plano espiritual" pois não tinha seus plenos poderes lá. Tinha de parecer formidável, mas suas forças estavam bem abaixo do esperado, até um espírito humano poderia ser um problema daquele jeito...

Foi então que Damien percebeu algo. Haviam muitos espíritos na casa. Todos o odiavam... E se por acaso resolvessem unir suas forças? Apenas dois dos espíritos estavam realmente fora deste mundo: um deles Damien mesmo matara (ou fizera sumir); e um que a "vadiazinha" matara, com o mesmo truque.

Ele colocou as mãos na cabeça dos dois garotinhos e eles começaram a meio que pegar fogo e serem eletrocutados ao mesmo tempo...

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Henry olhou para o demônio, que sorriu. Ele tinha uma forma vagamente humana (exceto pelo fato de que parecia usar uma armadura de ossos que tampava cada parte de seu corpo; uma cauda enorme e asas, pés e mãos parecidos com de um dragão. Seu rosto era algo estranho, pois ao mesmo tempo em que sua cabeça parecia ter um capacete de ossos haviam dentes pontiagudos à mostra e sugeriam um sorriso enorme. Os olhos apenas brilhavam em dois circulos vermelhos envoltos em uma camada negra.

Henry viu que precisaria de ajuda contra esse demônio com toda a certeza. Pensou em correr, mas Damien tampava a única saída. Foi aí que aconteceu algo realmente surpreendente. Os outros espíritos, outrora fracos e cansados, se agarraram todos à Damien e o prenderam à parede.

Henry passou pela porta correndo, e sabia exatamente onde iria primeiro. Se tinha algo que poderia ajudá-lo na luta, seria o livro. Assim que o pegou, correu para a cozinha e deixou o fogão vazando gás. Ouviu os barulhos no andar de cima, e então correu para pegar uma outra roupa, pois não poderia sair na rua todo sujo de sangue... pegou uma jaqueta, colocou o capuz e saiu caminhando pela rua. Olhou para trás e resolveu experimentar um pouco do que sabia e aceitava agora: estava morto. Apontou para a casa e imaginou uma pequena faísca saindo rapidamente de seu dedo e entrando pela janela... A faísca fez como o imaginado.

Henry continuou andando, mesmo sem ter ideia de para onde ir.