Ep.2

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Início de 1997, os carros antigos  soltam fumaça, atiçam as garotas e fazem os garotos sonhar.
A pequena cidade de Loveland, onde o tempo passa mas nada evolui, é o lugar perfeito para uns e um grande fardo para outros.
Todos se vestem a seu próprio gosto, nas ruas ninguém segue a moda, não a ambições maiores que terminar o colegial, ter um trabalho na loja da familia e construir uma casa para morar com a mulher da rua de trás.
E isso é muito bom para alguns que vivem por aqui, mas para Stive não. Para Stive existe uma vida maravilhosa depois das fronteiras, com palcos enormes e multidões eufóricas de pessoas que adorariam ouvir sua voz ecoar nos estádios. 

Aos onze anos, ele viu sua vó morrer de um infarto.
Estavam jantando a mesa, somente ele e ela, ficou paralisado por vinte minutos antes de conseguir discar o número da emergência no telefone de fio.
Perdeu a mulher que mais admirava e teve de ir morar com seu pai, era estranho chama-lo assim, era mais o homem ausente afundado em trabalho, ganancioso por mais clientes na mercearia mixuruca.
Cresceu sozinho, descobrindo tudo ao seu próprio tempo, encobrindo sentimentos e os despejando em palavras, que junto aos acordes da guitarra mais tarde virariam música.

Tinha dezoito anos e ainda estava no colégio.
Repetiu os últimos anos da última série, porque gostava de ter algum lugar para ir, um lugar onde todos admiravam a sua voz e talento. Gostava de como as garotas o olhavam, como se fosse a porta para o paraíso, mas gostava mais de como os caras o aplaudiam e cantavam junto. Como se ele fosse o modelo a se seguir, alguém que puxa os outros para um lugar melhor, que mostra o caminho para a liberdade, fora das ruas cinzentas e dos futuros medíocres.

As vezes tinha que encobrir o velho na mercearia.
Quando o mesmo saia para fazer apostas, dava bebidas alcoólicas de graça para os adolescentes.
Gostava muito dos rebeldes, porque se identificava, é claro que nunca precisou ser tão agressivo, mas entendia que cada um tinha suas formas de manifestar liberdade e tinha uma crença de que eles, irradiando hormônios e em plena puberdade, eram os portadores da revolução que Loveland precisava.

Quando tinha insônia costumava sair de madrugada.
Ía para o metrô, tampava os olhos, passava o dedo pelo pequeno mapa e sorteava as linhas parando em qualquer lugar e seguindo a risca o destino.
Pegava o vagão vencedor e descendo em qualquer parada, procurava por cantos em que pessoas se reuniam, seja bebendo ou fumando.
Fazia amizade facilmente e quando já sabia dos gostos musicais da maioria,  cantava.
Ao final de cada canção era ovacionado, fechava os olhos e era assim que ele se sentia, dono de um público enorme, mesmo que na maioria das vezes a platéia não passasse de uma dezena.

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