Ep.10

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Stive on.

Era madrugada de domingo e eles estavam ofegantes, jogados na grama, depois de ter dançado feito loucos ao som da guitarra e voz de Stive.

- Somos da madrugada e você vai lotar os estádios de Los Angeles Stive!
Nely falou antes de tragar o cigarro.
- É, você vai ser legal!
Fred tentou, meio grogue de licor.
- O mundo é pequeno e nos somos grandes! O que custa é sair daqui, depois de decolar nunca mais tocaremos o chão outra vez.
D.J falou erguendo o copo, como se brindasse com o universo.
- Eu só espero que não se esqueçam de mim, quando eu estiver bem não vou esquecer de vocês, somos uma família e dependemos uns dos outros, certo?
Perguntei com medo da resposta.
- Esquecer a irmandade?! Isso não vai acontecer!
Fred falou, um tantinho sóbrio.
- Não sei, Melanie não liga a dois meses, tenho medo que as coisas tenham desandado e ela não tenha dinheiro nem para nos contatar. Mas a impressão que tenho é que ela está bem e apenas nos jogou na caixa do esquecimento, como se fossemos a galera que tentou mas não conseguiu e drentre nos ela fosse a única capaz.
D.J falou e depois disso todos nos ficamos em silencio, até Nely se levantar e entrar para dentro de sua casa.
Depois de um tempo ela voltou com papel, canetas e um pote de água.

- Vamos escrever nossos medos e afoga-los na bacia. Vocês sabem, não podem nos parar, mas como nada é completo, somos alto sabotaveis.

Começamos a escrever e quando todos terminaram chegou a hora de ler os papeis em voz alta.
Fiquei assustado, era como dar voz aos demônios.

- Não quero deixar meus sonhos por coisas momentâneas, que as ilusões com data de validade não me joguem para fora dos trilhos do sucesso.
Nely amassou o papel como se fosse seu pior inimigo e em seguida o jogou na bacia, a água o cobriu aos poucos como se fosse uma memória se desintegrando.

- Que eu não volte para Loveland depois de sair dela, não aceito ser o faz tudo dessa cidadezinha fudida!
Fred falou e rasgou o papel, que molhou até afundar.

- Que eu não fique cego coma luz do sucesso e possa ter mais noites como essa, com as minhas pessaos preferidas, seja na bosta de Loveland ou na cidade dos meus sonhos.
D.J fez diferente, ele enfiou o papel no bolso e falou que ía cola-lo na parede de seu quarto.

- Que eu não me perca tentando ser o cara que todos amam! E que por favor, eu não esteja cuspindo para cima.
Então pus o papel na água, aberto como o recebi, e ele demorou para afundar, foi como se o relógio tivesse parado, como se eu tivesse tido uma visão do futuro e precisasse aceita-la, mesmo que fosse difícil.
Nely parece ter visto o desespero em meus olhos, porque ela espalmou a mão no papel e o afundou até que ele esfarrelasse na água, diante de todos.

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Quando acordei em minha cama vi que tinha dormido apenas por três horas, a minha cabeça doia pelo porre recente.
Me arrastei até o banheiro, tirei toda a roupa e quando liguei o chuveiro a água não veio. Então apenas me enrolei na toalha e voltei para meu quarto. Vesti uma roupa limpa e resolvi ignorar a alfinetada.

Tinha água na pia, o que significava que o velho estava querendo discutir e com a ressaca que me tomava eu não estava para conversa.

Quando subi para a cozinha ele já estava lá, sentado na mesa, com a mesma tigela de sempre e o mesmo cereal barato.
- Como foi seu banho Rollin?
- Não foi.
- Quer saber o motivo?
- Fique a vontade.
- Ontem minha querida Beth foi me comprar um jornal, numa banca, que fica de frente para minha loja, me disse que você estava dando bebidas de graça aos guris.
- Então é isso?! Eles iam pagar depois, são do meu colégio.
Puxei o dinheiro do almoço de dentro do bolso da calça e joguei na mesa.
- Aqui tem mais do que eles levaram, Rollin.
- Então dá de esmola para sua querida Beth!
Falei antes de atravessar a casa a passos duros e montar na bicicleta, pedalando como se pudesse levantar voou.
Essas pequenas coisas me desgastam, me frustram e ao fim do dia eu me sinto uma bomba prestes a explodir.
Porque não consigo evitar as sensações, é isso, sou sensível demais, quando sou enfrentado não há outra reação além do choro. Puro fracasso.
Eu gostaria de não ser tão covarde.


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