Ep.9

26 4 4
                                    


Algumas semanas se passaram desde a sala da diretora. Pelo que eu soube Melanie telefonou para a sua mãe e esclareceu tudo.

Todos tentavam sobreviver em suas respectivas casas.
D.J era obrigado a frequentar a igreja católica por seus pais e mesmo que preferisse ficar ensaiando passos de dança em seu quarto, ele sempre era arrastado até o salão da capela todos os domingos.
Já que não tinha escolhas ele ía, mas não ficava mais que quinze minutos ao lado da familia, ele se esgueirava entre as paredes sagradas e de vez em quando ía até o confessionário, dar amassos em garotas socialmente puritanas e intocadas.

Fred só tinha sossego em seu quarto, mas de vez em sempre servia de babá para a mãe.
Cuidava do irmão mais novo como se fosse seu filho e limpava a casa como um maníaco por limpeza, mas nunca fazia o suficiente.
Não para sua mãe, a faxineira rabugenta que trocava de namorado toda semana mas exigia responsabilidade do filho adolescente.

Nely não tinha liberdade de expressão em sua própria casa, quando tinha treze anos mostrou seu primeiro quadro para os pais, uma polícial fumando cigarro. Segundo eles aquilo foi vulgar e inapropriado, então eles queimaram todos os quadros dela no jardim, enquanto ela chorava no quarto.
Desde então, todo quadro que ela pintava era escondido, ela se reprimia e isso era um porre para uma garota tão revolucionária.

Stive sempre ignorou as burradas do pai e sua má influência, com a chegada de Beth os conflitos aumentaram, ele só ouvia a voz do pai em tom auto, ofensivo e acusatório.
Quando não conseguia suporta-lo, se trancava no quarto e tocava a guitarra com força, gritando alto qualquer canção, até que os dedos ardessem e o ar lhe faltasse, então se calava apenas para chorar baixo e amaldiçoar aquela vida infeliz que levava em Loveland.

Mas eles ainda tinham um ao outro.
Eram como sinalizadores rasgando o céu nublado, se um desistisse estaria apunhalando os outros, estaria os incentivando a cair e isso não era o objetivo deles.

Todos em sua confusão e angústia lembraram de Melanie.
A primeira deles a alcançar o sol, imaginaram suas próprias reações quando mais tarde ela aparecesse na tv, com alguma peruca engraçadas e botas extravagantes, fazendo a plateia rir com suas respostas inusitadas.
Depois se imaginaram nos palcos, nos ringues, nos estúdios de dança e nas grandes exposições.
Mentalizaram as sensações e quase que verdadeiramente às sentiram, o medo, a insegurança, a adrenalina, a coragem, a euforia, a liberdade e por fim, depois de tudo isso, os aplausos e o reconhecimento.
Finalmente a glória de ser amado por pessoas que reconhecessem seu talento e abracassem sua verdade.

Passaram mais essa noite, venceram mais essa luta e sentiram mais essa dor.
A dor de uma vida que até poderia melhorar, contanto que eles continuassem lutando, engolindo as lágrimas pesadas e resistindo a toda a ausência de expectativas que lhes eram depositadas.

Segundo suas familias.
Nely séria a esposa de um logista de classe média, teria muitos filhos e se dedicaria inteiramente a casa e a sua família.
Fred, séria o faz tudo da cidade, o cara que você liga quando quer aparar a grama do jardim ou consertar a pia da cozinha.
D.J séria o futuro medico de Loveland, seguindo os passos do pai, dando continuidade ao legado profissional da familia Johnson.
Stive, ficaria com a mercearia do pai, quem sabe também veria o cair de seus cabelos e o crescer da sua barriga, enquanto os anos se passavam detrás do balcão empoeirado da pequena loja.
Melanie, séria a empregada da familia, depois se casaria com um homem velho e asqueroso e passaria a ser a empregada dele e o local onde o mesmo depositária sêmen sempre que desejasse.
Que bom que aquela não era mais sua realidade, que estava fora da estatística.

Todos eles seguiriam firmes seus chamados, sem desistir do futuro glorioso que haviam desenhado para si mesmos.
Ninguém iria impedi-los, mas tinham ciência de quê o único que poderia sabotar seu futuro perfeitamente imaginado, estava no reflexo do espelho.

The Destined.Onde histórias criam vida. Descubra agora