7º dia, 1º mês, 3º ano

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O ambiente sanguepurista da doce e rígida França não poderia ser melhor. O café era o mais rico e encorpado no país além do espaço ter a mais fina avaliação por parte da comunidade pura.

Apreciava a bebida forte com gosto amargo e sem açúcar, mas não poderia ter paz.

— Não transei com você naquele dia.

O bruxo se sobressaltou com a pessoa que sentou ao seu lado do balcão de madeira escura.

— Que inferno...? — procurou respostas para a Greengrass lhe dizer isso naquele momento inesperado e ainda por cima em outro país.

Lembrou.

Quase três anos atrás.

— E vem me falar isso depois de anos? — uma ideia o ocorreu e o irritou. — Oh, pelo amor, se vier com o papinho de “foi o único homem que não se aproveitou de mim e blá-blá-blá estou apaixonada” eu quero que vá se fuder.

A Greengrass lhe fez uma careta de nojo por ter pensado na absurda probabilidade.

— Eu tenho apagões severos quando bebo muito...

— Nem deu pra notar — zombou bebendo o líquido quente.

—... Mas costumo lembrar de tudo depois — continuou ignorando a interrupção.

Isso fez a xícara pousar perigosamente sobre o pires de porcelana cara mesmo antes de terminar o gole.

O único gesto depois de pousar os cotovelos na mesa e cruzar os dedos foi um leve assentir.

— Geralmente não quero — informou a mulher bem trajada em vestes bruxas. — Mas sempre demonstrou ser um talento quando eu tentava me lembrar — fez uma pausa. — Se chama osmose... Na linguagem coloquial se trata como alguém que quer aprender sem estudar, mas é possível ter enlaces com o movimento das memórias através de uma membrana semipermeável ocasionado por diferenças na pressão osmótica; é um fator importante na vida das células neurológicas...

Theodore conhecia bem tal habilidade, porém não ousou a interromper.

— E eu quis lembrar — contou. — Pelo simples fato de que citou a “porra da brecha” a qual eu deveria me manter — pronunciou a frase dele usando as próprias palavras na modificação que não mudava em nada o fator original. O encarou. — E eu não transei com você.

Nott concordou caminhando no mesmo delicado jogo.

— Mas também não impedi que tirasse a roupa enquanto me contava o quão podre é ao mentir sobre a veracidade da súplica de sua irmã estuprada por benefício próprio — sussurrou.

Daphne nem tremeu.

— Poderia deixar isso passar, pois aconteceu há quase três anos e sequer disse algo, porém... — pensou um pouco. — Sou uma Greengrass, não gosto de arriscar, então... — passou a língua pelos lábios, preparando a ameaça. — Você vai continuar mantendo segredo.

Nott enrugou o cenho. Não era um homem a qual permitia ser encurralado.

— E porque deveria?

— Tsc, tsc, tsc... — ela fez com a boca e negando com a cabeça. — Ainda não acredita que lembrei de tudo? — pegou o coringa e jogou sobre a mesa, dando o xeque mortal: — Eu vi os corpos trouxas espalhados no seu sótão, Nottingham.

Usou o antigo e não mais usual nome da família para lembrar das macabras gerações anteriores.

Theodore, com um gesto, pediu mais um copo de café.

Durante Esses Quatro Anos...Onde histórias criam vida. Descubra agora