21º dia, 11º mês, 4º ano

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Theodore tinha acabado de chegar ao apartamento escuro com um breu penumbro e perpétuo.

As trevas foram iluminadas por uma varinha brilhante num “Lumos”.

Com certeza ele estaria se perguntando o que aquela mulher fazia ali.

Daphne não podia o ver porque a luz não era potente na parte que o bruxo estava, porém o fato não a deteu.

— Você errou — disse, as lágrimas rolando. — Você errou...

Os punhos se fecharam até causar dor de unhas perfurando a carne.

— Você errou! — acusa em gritos. — Eu não preciso de redenção! De ninguém! Sou Daphne Greengrass e jamais vou precisar! — apontou vorazmente. — Porque tenho a plena consciência de que meus atos nunca receberão tamanha dádiva! — sarcastizou.

Moveu a mão com a varinha para enxugar o fluxo de lágrimas, em vão.

— Eu não procuro perdão nas noites que me embriago e deito com homens — assegurou firme na verdade, mas com as pernas fracas. — E nem quando despejo meus pecados — se aproximou um passo, agora podia claramente observar um vestígio do queixo de Theodore. — Mas, malditos, eles sempre tem uma opinião sobre meu corrupto segredo — revelou. — Ou quase explodiam de nojo, ou me adoravam ainda mais por causa de minha ânsia por poder — a postura fraquejou. — Eu cansei de pontos de vistas porque já ouvi a todos — decretou exausta. — Por essa causa os obliviava — os lábios tremeram. — Não preciso que deprecie ou enalteçam, necessito de alguém que não se importe.

Mas o que eu quero te falar, Greengrass, é que a mesma repulsa que os vários sentiram, eu sinto, o mesmo ódio e desprezo pela atitude covarde e egoísta pulsa em mim, a única coisa que me difere dos demais é que eu estou pouco me fodendo”.

— Não uma pessoa que aceite porque de qualquer forma estaria tomando um partido — esperou uma pausa se concretizar. — Mas que não ligue, pois querendo ou não, eu sou assim — rendeu-se. — Sou egoísta, má e tudo o que me importa nessa porra de vida somente sou eu.

O silencio se tornou mordaz.

— E se isso for a causa do quanto... — num gesto exasperado moveu a varinha num movimento brusco e quase não acreditou ao observar um detalhe.

Qualquer possível continuação da frase morreu.

Com cautela, avançou um metro com a luz brilhando.

Theodore chorava em silêncio.

Mas as lágrimas não tinha qualquer contato com o que a Greengrass murmurava pois mal havia assimilado as palavras do desabafo.

Daphne não conseguia entender nem nada dizer.

Por fim, realizou a única atitude que era capaz:

— Nox.

A luz apagou.

***

O sol brilhava a muito tempo, sabiam.

Porém não impedia que continuassem sentados no chão frio da cozinha, as costas apoiadas na parede que dividia o antro da sala, olhando fixamente para a abertura da janela que iluminava todo o cômodo.

As mãos estavam entrelaçadas a horas. Nenhum dos dois havia dormido.

Só jaziam parados na antiga escuridão e permaneceram até se aplacar.

As faces secas pareciam ter adquirido uma segunda pele por causa dos rastros das lágrimas.

Theodore sorriu.

Durante Esses Quatro Anos...Onde histórias criam vida. Descubra agora