Mateus 6:14-15

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•Ariana on•

Chego no aeroporto, ajudo Dan a retirar minhas malas do carro, ele me leva até a entrada, onde colocamos as malas em carrinho de apoio, a partir dali seguiria sozinha. Agradeço Dan e me despeço.
Vou direto fazer o check-up e depois de resolver todos os trâmites, compro uma água e me sento em uma cadeira, esperando meu vôo ser chamado.
Fico mexendo em meu celular, enviou uma mensagem para Travis contando sobre minha repentina viagem, já imaginado o quão puto ele ficaria por eu não ter o avisado ou me despedido. Seria bom passar esse tempo longe dele.

Depois de 5 horas de viagem, aqui estou no Arizona. Já disse o quando odeio esse lugar? Além de quente, parece um interior. Chato e longe de tudo. Bufo irritada. Estava muito enjoada e com dor, queria apenas uma cama confortável e um banho relaxante, nada mais.
Fico a procura do meu pai, mas não o encontro. Ótimo fui esquecida, como sempre. Me sento em um dos bancos e fico olhando para os lados, tentando encontrar ele. Logo vejo um cara mediado, branco, cabelos meio grisalho, usando um óculos de grau e bone, segurando uma plaquinha. Nela estava escrito: Seja bem-vinda Ariana!" e um coração vermelho pintado de tinta. Reconheço de imediato ser o meu pai, ele não havia me visto ou não tinha me reconhecido, já fazia tanto tempo.
Aceno tentando fazer ele me olhar e obtenho resultado, pois o homem sorri largo e vem em minha direção. Ele me abraça tão forte que chega a me tirar do chão, retribui o abraço meio relutante, mas retribui. Vejo os olhos do meu pai passendo por todo meu rosto e corpo, ele parece não acreditar que sou e que estou aqui realmente.

- Seja bem-vinda Filha, como você está? Senti tanta sua falta! - Diz o homem ainda sorrindo e passando as mãos em meu rosto. Reviro os olhos. Se tivesse sentindo tanta minha falta assim era só ter ido me visitar. Patético.

- Estou bem. - Repondo de maneira seca - Podemos ir logo? é que eu estou muito enojada e com dor.
- Dor? Dor aonde? Quer que eu te leve a um médico? Oque você tem? - Ele fala tudo de maneira rápida e afobada. Olhando assim, parecia até um pai preocupado, mas quem conhece sabe.
- Não, não é nada sério, só uma dor de cabeça - Minto pois não quero ser bombardeada de perguntas novamente.
- Então ok, chegando em casa falo pra Pattie te dar um remédio! Aliás ela está fazendo um almoço delicioso pra você, estão todos muito ansiosos pra te conhecer.
- Quem é Pattie? Todos quem? - Pergunto sem entender nada.
- Minha esposa, justin seu filho e Julie. - ele pronuncia como se eu já soubesse de tudo. Meu pai tinha casado e eu não sabia. Quem diabos era Julie. Ótimo, estou mais perdida que tudo.
- Bom, podemos visitar eles qualquer dia né? quantos anos o filhinho dela tem? 10?
- Não bobinha, ele tem 19 e não será preciso visita-los, eles moram na mesma que você irá morar agora. - Diz meu pai em um tom risonho.
Bufo. Era só oque me faltava, ter que morar com dois estranhos que eu nem sabia da existência.
Resolvo não responder meu pai, só começo a caminha em direção a saída com minha mala e ele vem logo atrás com as outras.
Chegamos no estacionamento, guardamos as malas e entramos no carro. Logo estamos em direção a sua casa.

- E então, como estão as coisas por lá? - Ele tenta puxar assunto.
- Você saberia se tivesse ao menos nos ligado. - Digo grossa e coloco meus fones. Não estou a fim de conversar com ele.
Sinto meus fones serem retirados e meu celular puxado das minhas mãos.
- Me responde direito mocinha, eu sou seu pai e exijo respeito. - Ele fala tudo isso olhando pra estrada.
- Me dá meu celular Edward. - Respiro fundo.
- Edward não, pai. - Fecho meus punhos e resolvo não discutir, ele que se dane.
Me encolho no banco e começo a olhar a vista pela janela, sinto os olhares dele em mim mas ele nada diz.

Chego em meu novo inferno e desço do carro. Edward não tira minhas malas do carro, só sai e me encara arrependido.
- Desculpa por hoje, não quero que a gente tenha uma convivência ruim. Eu te amo minha filha, tudo oque estamos fazendo é pro seu bem. Quero que você tenha ótimos momentos e se sinta bem aqui, irei me esforçar pra realizar tudo isso ok? - Diz ele e me abraça. Dessa vez eu retribuo. Senti saudades desse abraço. Mas não posso simplesmente esquecer sua ausência nos últimos 5 anos de minha vida. Ele não foi pai quando eu precisei.
Ele me solta e seguimos em direção a casa simples, mas bonita. Olho em direção as outras coisas, era um bairro bonito, as casas eram uma afastada da outra, não havia ninguém na rua, típico bairro de inteiror.
Seguimos em direção a sua casa e logo entramos.
- Querida, chegamos- Edward grita pra alguém. Escuto barulhos de passos e vejo uma mulher baixa, de cabelos compridos e grandes olhos azuis saindo de algum cômodo que eu ainda não identifiquei.
- Oi Ariana, seja bem-vinda! Seu pai falou muito de você, o quando era bonita e baixinha! - Fala a mulher que eu deduzo ser Pattie. Ela me abraça feliz e percebo que somos do mesmo tamanho.
- Pelo visto não só sou eu que sou peuqena aqui né! - Digo rindo. Gostei dessa Pattie, ela exalava paz e bom humor, era tudo oque eu precisava.
- Ah querida, não passamos na fila da altura! - Ela brinca rindo.
- Pois é.
- Senta meu amor, o almoço já está pronto, só estamos esperando o Justin pegar Julie na escola. Edward vai tirar as malas do carro, vou pegar uma água pra Ariana. - Ela fala antes de se retirar.
Meu pai revira os olhos e eu dou risada me sentando no sofá.
Observo a casa, era bonita, pequena e sofisticada. A sala era mediana e tinha uma escada logo na entrada, logo na frente tinha um corredor que eu suponho que vá em direção a cozinha e sala de jantar.
Pattie volta com minha água e diz que vai arrumar a mesa, me ofereço pra ajudá-la e ela aceita. Seguimos em direção a sala de jantar que tinha divisória com uma cozinha americana e logo começamos a organizar. Meu pai aparece e se junta a nós, puxando um assunto qualquer ao qual eu não prestei muita atenção.
Escuto o barulho da porta da sala se abrindo e uma voz masculina dizer:
- Mãe, chegamos! - Deduzo ser o tal Justin e a Julie, que com certeza era sua namorada.
De repente passos de alguém correndo foi escutado e uma garotinha loirinha aparece no ambiente.
- Papai Papai, hoje eu desenhei um mostro gigante na escola quer ver quer ver? - Pergunta a meninha afobada se jogando nos braços de Edward, que logo a pega no colo.
Fico parada reformulando a cena em minha mente, mas oque estava acontecendo? Porque aquela criança chamou Edward de pai, talvez ela fosse filha de pattie ou filha dos doi...Interrompo meus pensamentos e pergunto.
- Papai? - Todos me encaram e o ambiente antes leve, pareceu ficar pesado. Pattie pega a garotinha no colo e se coloca ao lado do meu pai que parecia meio receoso de dizer algo.
- Essa que é minha irmãzinha? Que linda! Quer brincar comigo Oriana? - Diz a criança agitada nos braços da mulher.
Quero rir do modo que ele pronunciou meu nome mas não consigo.
- Julie essa é sua irmã Ariana, Ariana essa é Julie minha filha com Pattie e sua irmã. - Diz o mais velho meio desconcertado.
Não consigo acreditar nisso, meu pai tinha uma filha, uma nova família. Ele nos abandonou pra brincar de família feliz. Isso só pode ser uma brincadeira.
O lugar ficou em um silêncio total. Eu estava estática, a pequena me encara meio triste por não ter a respondido e recepcionado bem. Edward e Pattie aguardavam minha reação e me encaravam preocupados.
- Então é isso? Você largou seus filhos pra brincar de família feliz aqui? Quando ia me contar? EM PORRA! - Falo irada, mas por dentro queria chorar, aquilo era demais pra mim.
- Ariana, olha a boca, julie está aqui! - Diz ele chamando minha atenção - Depois prometo te explicar tudo, agora não é o momento, por favor.
- FODA-SE! Você não tinha esse direito Edward, não tinha! Você teve a porra de uma filha e não me contou! Vai se fuder, eu te odeio tanto, como pode, como VOCÊ PODE? - Falo já chorando - Eu não poderia esperar menos de você, não teve nem a capacidade de ir se despedir de luke, SEU FILHO, SEU FILHO - Estapeio o peito dele - Ele sentia sua falta, te ligava toda semana e você não atendia! Quando precisei de você, nunca esteve lá, nunca! Agora me aparece com o caralho de família dizendo que vai ficar tudo bem! EU QUERO IR EMBORA, ME LEVA EMBORA AGORA - Já se encontrava fora de mim. Não estava raciocinando. Só queria ir embora, pra longe de tudo e todos.
Vou em direção a sala mas acabo esbarrando em em algo ou melhor, alguém. O cara em minha frente me encarava confuso. Acho que é Justin.
- Oque está acontecendo? - Pergunta ele.
- Não é da sua conta - Digo saindo da sua frente e seguindo meu caminho. Procuro meu celular pra pedir um uber ou slá, mas não o encontro, lembro que está com Edward. Volto até lá onde todos estavam reunidos, Pattie e edward estavam cabisbaixos, ela consolava o marido que chorava, Justin me encarou com raiva e Julie parecia não entender nada. Ela parecia luke, não aguentei a observar por muito tempo.
- Me devolve meu celular! - Falo alto chamando atenção do casal.
- Você não vai embora Ariana, independente de tudo, irá ficar aqui. - Repondo Edward limpando os resquícios de choro - Prometi pra sua mãe que cuidaria de você e vou cumprir.
- Meio tarde pra isso não acha? - Repondo de maneira irônica. Estava com tanta mágoa, tanta.
- Abaixa a bola garota, ele ainda é seu pai, Ed estava todo feliz ai com sua chegada e você vem e faz esse show? - Se pronuncia Justin pela primeira vez. O encaro, ele era lindo, muito lindo e sua voz grossa me deixou arrepiada. Maldição, não é hora pra pensar nisso Ariana.
- Vai se fuder, quem é você pra dizer oque eu posso ou não fazer? - A raiva era perceptível em minha voz.
- CHEGA ARIANA! Você vai ficar aqui durante esses meses, querendo ou não eu ainda sou seu pai e mando em você. Depois vamos conversar melhor, tudo vai se resolver. Quando você ficar bem, pode voltar pra LA, mas por agora, ficará longe de confusão e deixará sua mãe esfriar a cabeça. Ela me ligou chorando dizendo que não aguentava mais você chegando bêbada, a desrespeitando e andando com aquele garoto problemático! Então você vai ficar. - Edward fala levantando. - Nessa casa só temos três quartos, o da Julie é muito pequeno para as duas dormirem, então optamos por colocar um colchonete no chão do quarto do Justin e é lá que você vai dormir.
- Eu não vou dormir com esse imbecil. - Só me faltava essa.
- Você vai! Chega de me desafiar! Acabou a palhaçada. - Ele diz se exaltando- Agora vamos almoçar, em paz, sem discussões, como uma família normal.
- Eu não faço parte dessa família, então não vou almoçar - Falo antes de sair do cômodo.
Saio pela porta da sala e me sento na calçada, coloco a cabeça entre meus braços e me permito chorar. Era um choro doído, de mágoa e frustação. Eu odiava aquela situação, odiava estar ali. Tudo estava dando errado, minha vida tinha desandado e eu já não tinha mais controle sobre ela.
Sinto braços me abraçarem de lado, encaro a pessoa que praticou tal ato e voltou a chorar desesperadamente.
- Eu sinto muito por tudo isso meu amor! Eu sinto muito mesmo! Não queria te causar todo esse transtorno, me perdoe. - Choro ainda mais - Seu pai errou, mas ele te ama tanto meu bem, tanto. Todos os dias ele falava sobre você e seu irmão pra Julie, dizia o quanto te amava. Ele se arrependi muito de não ter procurado vocês, se arrependi tanto que é comum ve-lo chorando pelos cantos da casa. Não quero que você o perdoe, só quero que dê uma chance pra ele mostrar que mudou.
- Não sei se consigo - Repondo fungando- Foi tudo tão difícil, minha mente não está em um bom estado, estou esgotada fisicamente e psicologicamente. Tudo oque menos preciso é lidar com Edward e suas mentiras agora.
- Eu entendo querida, só peço que tente! Edward não irá forçar a barra, mas sei que vai tentar mostrar o pai maravilhoso que é. Você e Julie tem muita sorte. - Diz ela baixinho me soltando de seus braços.
Não respondo, só aproveito o carinho que Pattie faz em meus cabelos. Minha costas doem tanto quanto minha cabeça.
- Será que você pode me arrumar um remédio pra dor muscular, por favor? - Pergunto baixinho.
- Claro minha querida, vamos entrar pois está esfriando e a comida também. - Ela se levanta e me estende as mãos.
- Não quero comer, só quero tomar um banho e dormir. - Pego em suas mãos e me levanto a acompanhado em direção a porta de entrada.
- Tudo bem meu amor, como quiser - Ela havia ficado meio triste com minha reposta.
Entramos na casa e seguimos em direção a sala de jantar, não encaro as pessoas ali presentes, só abaixo a cabeça e me escoro na parede esperando Pattie trazer meu remédio. Logo ela aparece segurando um copo da água e um comprimido pequeno, mas que alivia minha dor. Sussuro um obrigada baixinho e ela sorri fraco. Todos começam a sentar na mesa, que já estava posta com uma grande travessa de algo que parecia gostoso, a comida cheirava muito bem, minha barriga logo roncou, mas me mantendo em pé.
- Senta conosco minha filha, deve estar com fome, a viagem foi longa. Por favor - Pedi Edward me encarando calmo, seus olhos ainda estavam inchados indicando que o homem ali em minha frente havia chorado.
- Papai ela pode sentar do meu lado, pufavozinho! Vem irmã, senta aqui comigo. - Súplica a mais nova batendo as mãozinhas na cadeira ao seu lado. Não consigo encara-lá, tudo nela me lembrava Luke, ela era sua copia fiél.
- Eu não quero comer, estou com dor. Só quero tomar banho e dormir, se não for incômodo. - Repondo receosa a ele.
Julie abaixa a cabeça chateada. Ela não tem culpa de nada, era uma criança inocente mas minha mente não conseguiria lidar com nada agora, eu mal conseguia olha-lá, tudo nela me trazia dor.
- Tudo bem meu amor, vou levá-la até o quarto e te providenciar uma toalha. - Diz Pattie quebrando o clima chato.
Susurro um bom almoço e sigo a mulher até "meu" novo quarto. Assim que entro no cômodo me surpreendo, tudo era tão organizado e limpo, não esperava um quarto desse vindo de um garoto. Ele era inteirinho cinza claro, com alguns quadros pendurados na parede e uma grande janela na parede central, possuia um banheiro e um closet mediano onde haviam reservado um espaço para as minhas roupas, havia uma grande televisão pendurada em uma das paredes e uma pequena estante onde tinha um video-game e varios jogos organizados em pilhas. A cama não era de casal como de costume e sim uma cama de solteiro um pouco maior que o normal, no chão havia um colchão grosso e alto que me parecia confortável só de olhar, percebo uma escrivaninha grande do lado direito do cômodo e um puff vermelho ao seu lado, era tudo simples mas bonito, gostei. Pattie me entrega uma toalha e diz pra mim ir tomando banho enquanto ela arruma minha cama. Concordo e logo entro no banheiro, tiro meus tênis, roupas e as salompas em minha costas, tento observar os hematomas pelo espelho e faço careta ao tentar tocar, àquilo doía e parecia pior do que já estava. Entro no chuveiro e logo início um banho morno e demorado. Penso em lavar meus cabelos mas não havia shampoo ali, tinha esquecido na mala lá embaixo, aliás esqueci minhas roupas também. Putz.
Saio do banho e me enrolo na toalha, quando abro a porta do banheiro percebo que minhas malas já se encontravam no canto do quarto. Pattie pensa em tudo mesmo. Me visto com um short de moletom e um camisetão que mais parecia um vestido, passo hidratante no corpo e coloco outras salompas. Nesse momento eu só queria um whisky, mas como nada é perfeito, me deito na cama sentindo falta do meu celular. Estava envergonhada demais pra descer até lá, então resolvo dormir pra tentar esquecer esse dia horrível que eu tive. Nada fora do comum, minha vida era uma confusão total, mas hoje foi o auge, ganhei até uma irmã surpresa. Sorrio em meus pensamentos logo me entregando ao sono e desejando que os próximos dias fossem melhores.

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