that's a unity

68 0 0
                                    

• Ariana •

Minha vida estava em uma confusão total, tudo parecia dar errado. Eu esperava que morar com meu pai fosse ajudar, que meu sofrimento e angústia cessariam de alguma forma, mas estava enganada. Apesar de ter uma família totalmente amorosa, nada mudou. Eu continuava um caos e o pior, havia trazido o caos pra dentro da vida deles. Percebia o quanto eles estavam abismados com o ocorrido e com os relatos da minha mãe sobre minha vida antes de vir pra cá, eles agiam como se um fosse um vidro que pudesse ser quebrado qualquer momento, conversavam comigo como se estivesse pisando em ovos, tinham medo de falar ou fazer algo errado, mas sentia que eles queriam perguntar, seja sobre o bebê ou meu namoro com o Travis, eles queriam saber se eu sabia sobre a gravidez e porque nunca fiz nada pra impedir as agressões do meu namorado. Mas isso é mais complicado do que imaginam, eu não conseguia me desvencilhar daquele ciclo vicioso, agora enxergo com maior clareza o quão tóxico nosso relacionamento é, por ambas as partes.

Nunca irei saber porque eu o perdi, se foi pelas agressões de Travis, minhas incontáveis bebedeiras, o nervoso, as complicações que o doutor não descartou ou até mesmo o tombo que levei na sala com Justin. Isso não fazia diferença, de qualquer modo eu sabia que a culpa era minha, somente minha e nunca iria me perdoar. Eu juro que não sabia da gravidez, nem sequer desconfiava, além de não ter barriga alguma, não tive qualquer sintomas, talvez alguns enjoos mas nada que me deixasse alarmada. Quando descobri a existência do meu bebê, ele já estava morto e fora da minha barriga. Não o peguei, não o escutei chorar, não sei se seria um menininho ou menininha, isso doía. Se eu soubesse, teria cuidado da gestação e daria todo amor que aquele bebê merecia, não me importaria com os julgamentos por conta da minha idade, sei que meus pais me apoiariam mesmo depois de tudo e era isso que importava. Apesar de não estar mais aqui, irei sempre me lembrar que eu tive sim um filho mas sua passagem foi breve.

Após eu ter escutado as palavras de Julie e sair sem rumo pra espairecer, decidi voltar. Todos estavam na sala, o semblante de papai estava preocupado e ele andava de um lado para o outro.

- Finalmente! Onde você estava? - Papai pergunta vindo até mim.

- Fui dar uma volta - Responde baixo, quase inaudível e me encolho apertando meus braços contra o corpo. Meu pai me olha surpreso, provavelmente por eu ter o respondido.

- Tudo bem meu amor, só ficamos preocupados! - Me dá um beijo longo na testa.

- Precisa de alguma coisa querida? Quer fazer algo? Sair ou algo assim? - Pattie pronuncia ficando ao lado do meu pai.

- Não, obrigado - Sussurro encarando o chão como se na naquele momento fosse a única coisa presente na sala.

- Então senta, queremos te contar uma novidade - Papai diz entusiasmo me puxando pra sentar ao lado de Julie e Justin. Julie se encolhe, estava receosa de chegar perto de mim depois da cena na cozinha. - Eu e Pattie já estávamos com a idéia em mente, mas agora decidimos que será melhor pra todos! Iremos nós mudar pra uma casa maior e mais perto da cidade, você precisa de um quarto e de sua privacidade e nós precisamos conhecer novos ares - Termina e me olha esperançoso, como se esperasse minha aprovação.

- Não precisa se mudar só por minha causa, daqui uns meses irei embora - argumento. Meu pai retrai os ombros, como se estivesse me escondendo algo. - Não é pai? - Insisto.

- Filha, vou ser sincero com você! Sua mãe e eu achamos melhor você morar comigo, já que a convivência de vocês não é uma das melhores e agora tende a ficar pior. Mas não se preocupe, sempre que quiser visitar ela ou sua avó, será recebida de braços abertos, tudo bem? - Fala docemente, fazendo carinhos em meus joelhos em forma de consolo. Eu apenas aceno, estava triste por saber que minha mãe não me queria por perto, apesar de tudo, ela é minha mãe e eu a amo mais que tudo.

- E também estamos pensando em adotar um cachorro! - Completa Pattie contente. A encaro com olhos brilharam, sempre quis ter um cachorro.

- Sério mamãe? - Julie levanta em um pulo batendo palmas.

- Ah não mãe! não precisamos de um puguento correndo pela casa - Diz Justin rabugento.

- Um cachorro? - Pergunto ainda baixinho com um pequeno sorriso no rosto - Sempre quis ter um cachorro - Digo pensando longe.

- Então vamos adotar um cachorro - Os três (Justin, Pattie e papai) falam ao mesmo tempo, oque acaba arrancando risadas de todos, inclusive a minha.

- Se isso for fazer Ariana feliz, eu prometo cuidar do puguento com todo amor do mundo - Justin fala me olhando.

- Eu também prometo - Julie diz logo em seguida.

- Também prometemos - Pattie e papai finalizam em uníssono e me olham sorrindo. Meus olhos enchem de lágrimas, porra eu amava essa família demais.

- Eu amo vocês...- Sussurro os encarando.

- Nós também te amamos meu amor, estamos aqui pro que der e vier, na alegria e na tristeza. - Papai

- Na saúde e na doença - Pattie

- Até que as mortes nos separe - Finaliza Justin gargalhando com a pequena cena deles. Então todos vem até mim, me levantam e fazem uma roda em torno do meu corpo, logo me abraçando forte. Todos tinham lágrimas nos olhos, menos Julie que não estava entendendo nada, só abraçava minhas pernas. Aquele abraço me fez se sentir viva, feliz e ...amada.

- Obrigado por tudo, vocês são a melhor família do mundo - Minha frase sai abafada porque estou com o rosto colado no peito de meu pai.

- Pizza no jantar? - Pergunta Pattie se afastando e limpando os resquícios de lágrimas.

- Pizza no jantar - Afirma nós quatro juntos, caindo na risada mais uma vez.

E então eu esqueci de todas os tormentos que me assombravam, naquele momento eu só sentia felicidade e...gratidão por não terem desistido de mim.

Miss Violence Onde histórias criam vida. Descubra agora