Entrevista

1.3K 121 147
                                    


Por mais que a vontade de ir embora tivesse sido maior, eu não pude me deixar abalar pela imponência e frieza nas quais esse lugar exalou assim que estive em seu primeiro degrau. Segui firme, paralisando assim que tive a primeira visão de seu interior.

E, woah!

Estou diante de uma perfeita releitura do Guggenheim de Frank Lloyd Wright. Um enorme cilindro espiralado de concreto armado, que contrasta as curvas dramáticas de sua parte exterior. Estando na minha posição de observador, exatamente no átrio desta enorme empreiteira, é possível notar o corpo de seus andares, que se interligam parecendo enormes mezaninos abertos, como uma rampa contínua, que dão acesso a todos os pavimentos do prédio. Subindo há mais ou menos uns trinta metros, acredito eu, é possível se enxergar uma enorme abóbada de vidro. Com toda a certeza atende aos princípios da escala monumental, dando uma certa ilusão óptica de ser ainda maior do que suas dimensões aparentam.

E, apesar de conter todos esses aspectos do museu americano, J.N's Vintage Bounce possui caracteres próprios, que me chamaram atenção tanto quanto. Seu entorno é marcado por colorações neutras, entre cinza escuro e branco, porém o design dos móveis servem como um verdadeiro oposto para isso, ganhando cores e estéticas próprias, sem que haja exatamente uma padronização das mobílias. E, como se não bastasse me matar com toda essa beleza magnífica, este ainda apresenta uma enorme porta-janela, que se volta para o jardim traseiro, com lindas flores orientais gravadas.

Talvez uma das edificações mais brilhantes que já visitei, ficando atrás apenas para o museu do louvre e para a obra verdadeira de Frank, pois esta última não tem comparação. No mais, acho que esse não é o melhor momento para se admira-la. Pessoas caminham para todos os lados apressadas, ostentando seus trajes sociais caros e elegantes, o suficiente para que eu deduza que cheguei em um péssimo horário. Alguma coisa importante provavelmente está para acontecer, o que é de se esperar levando em consideração que corporações normalmente funcionam dessa forma, pois só isso é capaz de explicar o porquê dos andares térreos estarem tão exaltados.

Até tiraria uma foto com a câmera de meu celular para ficar de recordação, caso não tivesse sido surpreendido por uma presença repentina tocando em meu braço.

― Admirando a vista? ― Uma jovem, muito bem vestida e perfumada diga-se de passagem, pergunta-me simpática, me fazendo virar automaticamente para dar de cara com sua mais elegante aparência polida. Estava tão ocupado, apreciando a grandiosidade do local, que mal dei conta da sua aproximação, acabando por dar um leve pulo assustado.

― D-desculpe. ― Coço a nuca envergonhado. Não era essa a impressão que queria passar na minha primeira entrevista de emprego. Ainda mais agora, quando necessito mais do que tudo consegui-la. Mesmo sabendo que não tenho tantas chances se comparado aos conhecimentos dos meus concorrentes de vaga, que provavelmente devem estar alguns semestres mais avançados, a esperança é última que morre. Meu currículo é simples e vazio quando o assunto é experiências na área, o que obviamente será um agravante na hora deles escolherem a pessoa ideal para o cargo.

― Não, tudo bem, eu também gostava de apreciar a vista quando ainda tinha um tempo para tal. ― Ri contida. ― Devo admitir que o avô do senhor Lee foi um verdadeiro gênio quando ergueu esse lugar. ― Passa suas mãos por uma das colunas de etílica corintiana, a mais nobre dos caracteres gregos, que faz parte de uma sequência que nos leva até o enorme hall com a cafeteria. Ao lado de fora também pude perceber algumas dóricas espalhadas, porém aqui e no segundo pavimento só consigo observar estas e as compósitas, provavelmente para seguir um padrão parecido com o antigo clássico. ― Bom, infelizmente teremos que deixar a conversa para outra hora, pois presumo que seja um dos candidatos à vaga de estágio. Huang Renjun, não é?

Circunstâncias // NorenminOnde histórias criam vida. Descubra agora