Um céu vazio

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"Depois das primeiras vinte e quatro horas", o detetive responsável pelo caso explicou "as chances de a vítima estarem vivas diminuem quase até a metade. Cada minuto, hora e dia depois disso as chances se vão, até que nós estamos procurando apenas por um corpo para consolar o velório. Não há mais vida no esquecimento."

Izuku também se lembrava dessas palavras. Eram amargas. Difíceis de aceitar. Machucaram seu coração. Enquanto ela assistia Angie tentar animar Cake para brincar, perguntava-se o que poderia ter acontecido.

Um mês inteiro havia se passado desde o desaparecimento misterioso e cruel de Zaraya. Como um toque de mágica: nas gravações das câmeras ela aparecia durante a madrugada. Descia as escadas e ia até a sala, ligava a televisão. Era possível ver o brilho da TV pelas gravações, mesmo que elas filmassem apenas o corredor principal. Vinte minutos se passavam e então Zaraya aparecia no corredor novamente. As luzes automáticas se ascendiam e ela atravessava o corredor até a cozinha.

Um, dois, três, quatro, cinco. Cinco segundos e, mesmo com o corredor deserto, as luzes ligavam novamente.

E Zaraya nunca voltava de lá.

Katsuki assistiu as nove horas e vinte e um minutos da gravação seis vezes nos primeiros dias. Ele a repetia, acelerava a gravação, voltava algum detalhe, aplicava um zoom na tela, mas o resultado era sempre o mesmo: Zaraya não voltava.

Ela nunca saiu da cozinha.

Aquilo, é claro, levou todos a entender que, o que quer que tenha acontecido, aconteceu ali dentro. Havia alguém esperando por ela ali? Talvez um poder de teleporte. Se fosse essa a alternativa eles jamais teriam como saber.

A única pista era o colar com a pedra rosada que Izuku encontrou no chão, no dia seguinte.

Dia apos dia, durante todo o mês que se foi, Izuku encarou a pedra cor de rosa entre seus dedos enquanto se perguntava onde estava sua filha. Ela não podia abandona-lo daquela forma. Ninguém podia desaparecer e nunca mais ser encontrado, podia?

Após tantos dias, Izuku achava que sim.

// Katsuki //

O grito apavorado me acordou; sobressaltado, virei-me no sofá e subi as escadas até o quarto. Izuku ainda estava dormindo, gritando enquanto batia os pés, preso em algum sonho ruim demais para acordar.

- Ei, ei - eu o chamei e segurei seus braços, afim de evitar que ele os batesse na cama como no outro dia. - Izu.

Os olhos verdes se arregalaram. Izuku se sentou com tudo na cama, ofegando, o suor escorrendo pelo rosto e grudando o cabelo na nuca. Ele olhou ao redor durante alguns instantes e pareceu se dar conta de onde estava. As lágrimas silenciosas deixaram seus olhos logo em seguida e eu suspirei, abraçando-o.

- Está tudo bem - eu o tranquilizei. - Tudo bem, amor. Eu estou aqui com você.

Izuku concordou e soluçou contra meu peito, as mãos segurando minha camisa enquanto ele chorava cada vez mais alto. Afastei seu cabelo do rosto e o beijei uma vez, apertando-o um pouco mais contra mim.

Eu me sentia um herói inútil sem poder salva-lo daquele medo. Sem poder resgatar Zaraya, onde quer que ela estivesse.

- Kacchan.

Distrai-me de meus pensamentos e afastei os braços para poder escuta-lo.

- Sim?

- Você... Você quer se separar de mim?

Eu o encarei.

Contei doze segundos antes de finalmente entender a pergunta.

- Me separar? De você? 

INSTANT SHOCK | BAKUDEKU Onde histórias criam vida. Descubra agora