Alvorada / parte 2

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Se é suposto que o sol se erga todos os dias, todos os dias é suposto que haja um motivo de algo especial acontecer - deitado em uma cama de hospital com agulhas inseridas em suas veias e um aparelho para monitorar cada ação de seu corpo, Izuku ainda pensava assim.

Ele encarava a janela do lado de fora, ansioso, esperando pelo horário de visitas.

Havia muitas coisas fora do lugar.

Aparentemente, o fato de Izuku estar vivo era um milagre. Ele e Zaraya estiveram presos em um lugar onde ninguém sabia da existência e não havia como voltar.

Izuku ainda pensava nas coisas que encontrou por lá; Diana e seu assassinato brutal, junto com o desaparecimento de sua filha e a descoberta de seu corpo, abandonado sob a casa onde ele havia se mudado no último ano. Era cruel, ele pensava, que se apenas uma coisa naquela noite fosse diferente, tudo também seria. Se Diana não houvesse voltado a dormir ela poderia ter visto seu ex-marido e assassino, Matty, chegar. Ela poderia ter corrido e se escondido com a filha; ela teria feito qualquer coisa.

E o pior de tudo isso, ainda assim, era o pequeno garoto de olhos dourados.

Quando Jack Bakugo apareceu e disse que os levaria de volta para casa, Sol sorriu com tristeza e deu um passo para trás.

- Você não vem com a gente? - Izuku se lembrava de ter perguntado.

Sol desviou o olhar e coçou um dos braços; ele finalmente disse:

- Eu não posso voltar com vocês porque eu não pertenço ao mesmo lugar. Meu vizinho... Ele me levou para um lugar onde só as pessoas mortas podem ficar... E eu estive aqui por tempo demais.

E daquela forma, Izuku descobriu que a terra das sombras onde ele e Zaraya estiveram presos era como um lugar para almas perdidas, que não sabiam ou não aceitavam estar mortas.

Era tão triste, Izuku pensava, que o pequeno Sol houvesse descoberto isso sendo tão novo.

O caso de Sol Kaguro foi desarquivado e dado como encerrado alguns dias depois da volta de Izuku para o plano real, depois de seu relato; aquele já não seria mais um caso morto, mas sim o de um assassinato.

A batida na porta distraiu Izuku daqueles pensamentos e ele se virou para ver o marido entrando. Ele trazia consigo uma mochila e um vaso de flores. Todas as tardes Katsuki ia visitar o esposo no hospital e levava flores e outras coisas para que ele pudesse se divertir.

- Bom dia, amor - Katsuki murmurou ainda sem acreditar que aquele ali era Izuku. Ele se sentou na cadeira confortável ao lado da cama do hospital e deixou as flores na cômoda.

Katsuki não sabia o que fazer com o fato de que Izuku ainda estava recuperado suas lembranças e a noção da realidade.

- Trouxe mais fotos da Kai hoje - o rapaz murmurou para Izuku que o encarava curioso.
- Quer ver?

Izuku piscou algumas vezes e encarou as agulhas inseridas nas próprias veias.

- Kai é a nossa filha, não é? - ele murmurou para se recordar. 

- Isso mesmo - Katsuki respondeu. - Lembra do que eu te disse ontem? Ela é igualzinha a nós dois.

- Somos os pais biológicos dela - Izuku comentou ainda desacreditado e o marido concordou.

- Eu também trouxe sua aliança.

Izuku sorriu.

- Eu me lembro das alianças. Elas tem esmeraldas - ele disse alegre e Katsuki riu.

Ele tirou do bolso da própria calça a linda aliança com sua esmeralda solitária. O rapaz segurou as mãos de Izuku e escorregou a aliança pelo dedo anelar do marido. Izuku sorriu de novo ao ver o metal em seu dedo.

INSTANT SHOCK | BAKUDEKU Onde histórias criam vida. Descubra agora