O príncipe Adam Cimbad reprimiu a vontade de revirar os olhos, enquanto seu irmão mais velho contava-lhe - de novo - a história do mundo. Ele estava farto desta história.
Era de se acreditar que o mundo fora criado por dois deuses, representados pelo que nós chamamos de tartarugas. A fêmea chamava-se Zaratan, a mãe da vida e da morte; o macho era Testudines, o senhor da cura e da dor. Com a união da energia emanada dos dois, o mundo tornou-se o que é. Após isso os deuses se despediram, resolvendo vagar por sua criação, esperando se encontrarem novamente mil anos depois, no mesmo local.
O príncipe virou-se para seu irmão, chegando na parte menos chata da história:
Juntamente com o mundo onde vivemos, Zaratan e Testudines geraram filhotes, que a fêmea carregava sobre o casco. As crias futuramente nasceram, destinados a viver novecentos e noventa e nove anos.
Acontece que, com o tempo, novos animais surgiram, incluindo os seres humanos, o que fez com que os filhos dos deuses fossem cada vez mais raros, pois as outras criaturas também consumiam a energia de Zaratan. Mesmo assim, deusa amava todos os seres existentes sobre ela, sendo ela chamada pelos homens de ilha.
Adam escutara inúmeras vezes sobre como o seu amado ancestral, Thomas Cimbad, notou que a ilha se movia. Ele foi o primeiro e único a se comunicar com ela. A grande tartaruga contou-lhe sobre o mundo e os seres, levando o homem a espalhar os fatos para o resto de seu povo. Thomas foi coroado rei, levando suas terras à prosperidade e incentivando seu herdeiros a fazerem o mesmo.
Cimbad jurou proteger Zaratan, ela, por sua vez, prometeu que quem a habitasse teria parte de sua energia, sendo assim, vidas prolongadas. O rei viveu até os cento e dezenove anos, mas muitos homens excederam tal idade.
O príncipe mais velho chamou a atenção do caçula, que novamente devaneava, aguardando a confortável carruagem chegar ao porto, onde os dois partiram para a Ilha Testudines, a fim de se encontrarem com o rei Gaspar.
Os testudinianos dedicavam-se à exploração marítima, podendo até serem considerados piratas.
Adam jamais saíra de sua terra natal, portanto, estava radiante. Derek, com seus dezessete anos, fora inúmeras vezes à Ilha Pai, voltando sempre com algo para contar. O principezinho se perguntava se o irmão gostava mais de Testudines.
– Anime-se! – Disse Derek – Vai gostar muito da viagem!
– Eu sei! Só estou cheio de ouvir a mesma história – Adam resmungou, provocando a risada do irmão.
– Essa história é sagrada. Acredite, vai envelhecer ouvindo-a.
Os príncipes não trocaram mais palavras até o condutor anunciar a chegada ao porto. A animação de Adam retornou imediatamente e ele teve que se controlar para não saltitar.
A viagem fora mais emocionante do que o esperado, Derek explicou ao irmão como seguir as estrelas e a navegar. Comeram banquetes formados por frutos do mar e os tripulantes muitas vezes brincavam com Adam.
Era a primeira vez que seu pai permitia uma viagem grande como esta, ele parecia preocupado quando se despediu dos filhos, Derek disse que era apenas porque Adam tinha seis anos.
O capitão do navio anunciou a chegada à Testudines após duas semanas.
Quando pisou na ilha, o príncipe entendeu o porquê de seu irmão amar tanto o lugar, Zaratan era linda, mas Testudines era lindíssima. Crianças corriam com espadas de brinquedo, pessoas caminhavam pelas ruas com roupas diferentes, o sol brilhava mais forte do que jamais vira; Zaratan era fria e era frequente a neve. Adam não sabia que um lugar poderia ser tão quente. Ele tirou o casaco.
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Ouro Quebrado
FantastikNas profundezas da imaginação, existe um mundo onde quase todos reverenciam deuses em forma de tartarugas, onde estes são quem garante vida longa e saudável. Adam Cimbad, príncipe da ilha Zaratan, está em um dilema: ou arrisca a vida de seu povo pa...