CAPÍTULO 1 - SOBRE O QUE TODOS FALAM.

13 0 0
                                    


As pessoas ao meu redor só falavam sobre uma coisa.

Eu podia ouvir os comentários de longe, podia ver seus rostos vidrados nas telas de celulares e os dedinhos nervosos nos teclados. Eles estavam se preparando para apenas uma coisa e eu não tinha nem tempo para sequer pensar naquilo. Estava muito longe do meu alcance, muito "popular" para mim. Pelo menos era isso que eu repetia para mim mesmo, forçando a ideia de que me inscrever para aquela brincadeira era burrice demais. É claro que é, pensei comigo mesmo novamente, enquanto guardava meus materiais escolares. Ninguém vai querer que você participe, aliás.

Deixei minha mochila em cima da cadeira, enquanto me levantava, e olhei em volta, enquanto todos saíam da sala e iam para casa. Eu queria deixar para lá, queria pensar em outra coisa, mas não podia deixar de notar a animação de todos. Mas, para minha felicidade, eu não era o único que não gostava nem da ideia daquela brincadeira.

— Meu Deus, todo mundo só fala desse tal de Mala Suerte. — Amelia disse, balançando os pés. Ela estava sentada em cima de uma das mesas, parecendo irritada com toda a animação do colégio. Não era para menos: fora eu mesmo, Amelia era a pessoa que mais odiava o conceito de Mala Suerte.

— Eu acho que alguém vai acabar com isso, antes que consigam consagrar o evento. — Comentei.

— Por Deus, não fale consagrar. — Ela olhou para mim com uma cara de nojo. — Só faz parecer que estão marcando para transar.

— E não é isso? — Perguntei, confuso.

— Espero que não.

Olhamos novamente para uma menina que estava parada na frente da porta, com um sorrisinho na direção do celular. Ela parecia muito animada (talvez até exageradamente), então meio que concluímos que, de fato, todo o conceito de Mala Suerte era transar no final de semana. Meu estômago se revirou.

Enquanto a garota conversava no celular, uma outra figura entrou pela porta, parecendo cansada. Como se tivesse percorrido todo o campus correndo, Cora parou na nossa frente, suando e com o rosto vermelho de cansaço. Sua vou soou sem força.

— Estão prontos? — Ela perguntou.

Eu e Amelia simplesmente concordamos em silêncio.

— Então vamos. — Cora continuou, girando sobre os calcanhares e se afastando o mais rápido possível. Não estamos atrasados, pensei comigo mesmo. Não precisamos correr.

Conforme saíamos daquela confusão de gente, de todos os alunos que se aglomeravam nos corredores, com seus rostos vidrados nos celulares, Cora foi andando cada vez mais rápido. Eu queria colocar uma mão em seu ombro, para fazê-la andar mais devagar, mas seria injusto da minha parte. Eu sabia que ela não gostava de multidões e só estava andando mais rapidamente para sair logo dali. Eu podia ver seu cabelo azul voando de um lado para o outro, enquanto ela se distanciava, praticamente correndo.

— Cora tem cara de quem se inscreveria no Mala Suerte. — Brinquei. Amelia parou ao meu lado, olhando singelamente para a garota de cabelo azul, que já estava quase saindo do prédio.

— Provavelmente. — Disse.

Continuamos a andar, apressadamente, e finalmente saímos daquele lugar. O barulho de pessoas conversando ficou para trás, conforme apressamos o passo para onde precisávamos ir. Fiquei um pouco irritado nessa parte. Não era como se o Clube de Xadrez fosse sair do lugar. Eram todos fracassados como a gente. Não tinham mais nenhum lugar importante para estar.

— Cora — falei, chamando a atenção da menina à nossa frente —, você vai se inscrever no Mala Suerte? Hoje é o último dia...

— Se eu vou me inscrever numa gincana sexista que obviamente só vai levar as pessoas a transarem num hotel de quinta categoria? — Ela perguntou ironicamente. — Acho que não. Vai contra os meus princípios.

Mala SuerteOnde histórias criam vida. Descubra agora