Era isso. O grande dia havia chegado.
Eu não consegui me concentrar em nada depois que Brian apareceu no Clube. Levantei o olhar do celular, apenas para ver seu sorrisinho quando percebeu que eu havia lido sua mensagem. Agora, sem saber o que fazer, desviei o olhar e fiquei tentando me esquivar da situação, fingindo que precisava me concentrar na partida de xadrez (mesmo que nem estivesse jogando). Mas, é claro, ninguém poderia acreditar que eu seria capaz de deixar para lá. Alguma coisa na mensagem que ele mandou, ou na forma como estava sorrindo quando olhei para seus olhos... alguma coisa simplesmente não me parecia certa. Respirei fundo.
— Acho bom você ir devagar no refrigerante. — Cora falou, com um sorrisinho de deboche, olhando pra mim com uma cara estranha. — Já está ficando verde.
— Eu não estou passando muito bem. Acho. — Falei, confuso. — Pode ser o calor.
Amelia olhou para mim e semicerrou os olhos. Por ser a única, provavelmente, que também havia visto a entrada de Brian, ela sabia que meu nervosismo não estava sendo causado pelo calor. Entretanto, alguma coisa em sua mente não a deixou falar nada. Em vez disso, seus dedos e seus pensamentos pareciam estar focados no jogo de xadrez.
— Vamos fazer a inscrição hoje à noite. — Cora disse. — Se, é claro, eu não conseguir convencer de que não precisamos disso. Não quero fazer essa inscrição, a não ser que seja obrigada.
— Digo o mesmo. — Amelia comentou, pensando novamente em qual seria seu próximo movimento.
Olhei para Brian nesse instante e captei seu olhar em cima de outra pessoa. Na verdade, havia todo um grupinho ao redor dele e de seus amigos, como se fossem um bando. Cora, provavelmente, via aquele grupo, no nosso Clube, como um câncer: como se estivessem prontos para derrubar nossa organização. Mas, supus, Cora somente gostava de brigar com palavras e não com ator. Ela nunca expulsaria ninguém do Clube – e também nunca pediria para qualquer um expulsá-los. Além de tudo, ainda havia o risco de retaliação, porque Cora sabia que o grupinho de famosos também podia revidar.
Fiquei observando o Brian novamente, por um pequeno segundo, e percebi o quanto ele parecia o estereótipo de garoto que eu nunca teria. Podia ser gentil, embora também pudesse ser grosseiro; podia ser sexy e, ao mesmo tempo, fofo; podia ser apaixonante e, contudo, repugnante. Eu sentia esse monte de coisas por ele por dois exclusivos e intensos motivos: por, primeiramente, ter caído de paraquedas naquela situação toda. E, em segundo momento, por eu mesmo ser um estereótipo de garoto que nunca ficaria com alguém como Brian. Era justamente essa noção de que isso era impossível que (teoricamente) me deixava tão preso a Brian. Na minha cabeça, era algo mágico e sobrenatural, mas apenas porque eu estava apaixonado.
— Eu acho que ele está apaixonado. — Amelia comentou, lendo meus pensamentos. Olhei com os olhos arregalados para ela.
— O quê?
Cora riu.
— Você está com calor num dia nublado e ficando com ansiedade numa frequência meio assustadora. — Amelia esclareceu. Cora olhou novamente para o tabuleiro, segurando o riso. Alguma coisa naquela situação me deixou nervoso.
— Eu não estou apaixonado. — Menti.
— É o efeito Mala Suerte. — Cora comentou. — Seja lá qual for o objetivo daquela merda, talvez sirva pras pessoas se apaixonarem umas pelas outras.
— Eu não estou apaixonado. — Repeti novamente. — Além do mais... eu estaria apaixonado por quem? Brian? Nunca.
Amelia olhou para mim no mesmo momento que eu tirava o celular do bolso novamente. Havia uma nova mensagem do garoto, mas agora não parecia tão assustadoramente estranho. Li pela barra de notificações.
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Mala Suerte
RomanceUm pretensioso jogo estudantil une dois alunos de personalidades completamente diferentes por pura coincidência, forçando a união de alternativo e popular. O que era para ser apenas um jogo de sorte, acaba se tornando uma terrível bola de neve, conf...