CAPÍTULO 3 - SOBRE O QUE TODOS PENSAM.

3 0 0
                                    

O carro parou na frente de um grande prédio cinza.

Fiquei olhando pela janela durante todo o trajeto, vendo as luzes passando adiante e o barulho de movimentação. Ainda estava chovendo, então as gotas de água no vidro apenas davam um tom mais poético para a situação. Se eu pudesse escolher, teria colocado até uma trilha sonora.

O garoto ainda estava bêbado, sentado ao meu lado. Ele parecia entediado, para falar o mínimo, terminando uma garrafa de cerveja e começando outra (que ele tirou de algum lugar misterioso). Evitei olhar para ele por um bom tempo, virando a cara quando percebia que seu rosto estava virado na minha direção. Meu estômago ainda estava se revirando e, sinceramente, ainda estava com uma vontade pequena de chorar. A indiferença do outro menino só fazia isso piorar.

Quando o carro parou, olhei para a janela mais uma vez. Luzes douradas saíam das janelas do prédio e pintavam as gotas de água no vidro. Só percebi que precisava me mover quando alguém abriu a porta na minha frente. Senti o vento gélido da noite, e gotículas molhadas caíram nos meus cabelos. Parecia uma cena de filme. Alguém abriu a porta e estendeu a mão para mim. Quando segurei fortemente no pulso da pessoa misteriosa, percebi que provavelmente se tratava de um funcionário do hotel. Ele me acompanhou até a entrada do prédio.

O outro menino saiu do carro por conta própria, abandonando o uso de guarda-chuvas ou algo assim. Ele não parecia se importar com a umidade da situação. Veio andando até onde eu estava, cambaleando, e retorci o nariz quando senti o cheiro de bebida. Minha mente ainda continuava repetindo o mesmo mantra de antes. Tomara que ele não se lembre disso amanhã.

— Vamos logo. — Disse ele, passando por mim.

A entrada do prédio era um pequeno altar de pedra branca, com colunas gregas que ornamentavam uma grande porta dupla. Entramos por lá, sendo banhados pela luz dourada que vinha de dentro, e praticamente sentindo o calor na hora.

O hall estava uma bagunça. Uma confusão de pessoas indo e vindo, ajudantes e funcionários do hotel apressadamente carregando malas e dirigindo pessoas a seus quartos. Olhei em volta, vendo principalmente a decoração. Realmente, quem quer que fosse o organizador do Mala Suerte... provavelmente era alguém com bastante dinheiro. Entretanto, a pergunta rondava minha mente: por que alguém faria isso? Por que alguém criaria um sorteio do tipo?

Alguém provavelmente já sabia que estávamos a caminho, porque escutei uma voz falando de trás do balcão da recepção.

— O quarto de vocês já está pronto.

Olhei na direção da voz misteriosa e percebi que o garoto bêbado já estava tomando conta disso. Ele ficou conversando com uma das recepcionistas por um tempo, depois sorriu gentilmente (o que eu duvidava que ele soubesse fazer) e agarrou um par de chaves. Depois disso, fomos direcionados para a área dos elevadores o outro garoto se apressou a entrar, assim que uma das cabines ficou vazia. Eu não duvidava que ele seria capaz de subir sozinho, sem mim, se pudesse.

Ficamos à sós.

Foi a primeira vez que realmente ficamos sozinhos, sem uma multidão ao nosso redor, sem motoristas, sem funcionários do hotel. Não que fosse grande coisa (não parecia ser nada para ele), mas fiquei arrepiado só de pensar que minha esperança era arranjar alguém legal para aquela noite. Me amaldiçoei por ter apertado o botão de enviar.

— Então — falei —, qual o seu nome?

O garoto olhou para mim com uma cara de deboche que me deu outro tipo de arrepio. Não fiquei atraído por ele. Senti como se pudesse levar um soco a qualquer momento.

Mala SuerteOnde histórias criam vida. Descubra agora