CAPÍTULO 8 - AQUILO QUE NASCE.

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Por incrível que pareça, eu e Brian ficamos conversando por quase toda a noite.

Não era como se estivéssemos esperando as respostas um do outro, mas ficamos "conversando" casualmente (demorávamos para responder qualquer coisa). Minha ansiedade não me deixava responder logo de cara, mas também não me deixava esquecer que havia algo em minha caixa de mensagens. E minha ansiedade também não me deixava olhar para aquela situação de uma forma mais ampla: eu ainda queria saber se ele tinha se inscrito para a segunda edição do Mala Suerte, mas não sabia como perguntar; ainda queria saber se Brian iria realmente embora – mas, também, não tinha coragem nem de tocar no assunto.

"Eu só quis pedir desculpas por ter sido babaca no corredor, por causa daquele outro dia", foi o que ele primeiramente me respondeu. E fiquei olhando para aquela mensagem por um bom tempo, imaginando se realmente tinha sido compreendido (se ele realmente tinha colocado a mão na consciência e estivesse pensando no assunto). Concluí que não se tratava disso.

Brian apenas respondeu meu "oi", no outro dia, por causa da forma como se comportou no corredor – quando foi estranhamente grosseiro na frente de seus amigos. Agora, somente respondeu minha nova mensagem porque eu a enviei. Duvidava que ele me mandaria qualquer coisa se eu não tivesse tomado a iniciativa.

"Você podia ter pedido desculpas pessoalmente. Ou, sei lá, podia ter tentando não ser um babaca", respondi, rezando para que ele notasse meu tom de ironia e visse o quanto fiquei irritado por sua grosseria no corredor. Eu já havia até (quase) esquecido aquela história, mas não conseguiria deixar realmente para lá – nem que tentasse.

Como disse, Brian demorava para responder. Fiquei contando os segundos, deitado em minha cama, olhando para o teto, enquanto os minutos se passavam. Fiquei me perguntando se ele estava na mesma posição, em algum outro lugar da cidade, ansioso e nervoso por causa da nossa conversa. Fiquei me perguntando se Brian sentia o mesmo formigamento que eu sentia quando pensava nele. Achei melhor acreditar que a resposta para todas essas perguntas era um grande e audível "não". Provavelmente, Brian estava demorando para responder porque estava trocando flertes com qualquer outra pessoa do colégio, enquanto fazia capturas de tela da nossa conversa para jogar nos grupinhos de garotos e me transformar numa piada. Eu sentia que esse seria o papel dele na minha vida: me transformar numa piada.

"Eu fiquei sem reação. Não sabia que você se preocupava com minha mudança", Brian respondeu depois de um tempo. A frase não foi acompanhada por nenhuma figurinha ou qualquer onomatopeia, então imaginei que ele estava falando sério (como se quisesse falar sobre sua mudança e, ainda assim, não soubesse como). Engoli em seco.

Se meu objetivo era soar como se nem ligasse para a existência de Brian, aquele não era o melhor caminho.

"Eu não me importo", respondi. "Só achei que seria algo que você me contaria no Mala Suerte."

"Pensou que a gente viraria amigos por causa do sorteio?" Brian perguntou rispidamente, com um pouco mais de velocidade dessa vez. Eu não respondi logo de cara e também não me preocupei com a confirmação de leitura (ele também não se preocupava, provavelmente).

Em vez de responder, apenas fiquei pensando na resposta. Não sabia se deveria falar a verdade – que a ideia de tê-lo longe de mim era pior do que ser rejeitado ao seu lado – mas também queria mentir. Para ser sincero, não queria mentir, contudo simplesmente não via outra solução. Minha intuição falava que qualquer coisa envolvendo sentimentos, naquela conversa, viraria uma piada em algum grupo de conversas por aí.

"Não", falei. "Imaginei que não seria um problema."

Ele visualizou logo na hora, mas não respondeu. Fiquei olhando para tela por mais alguns minutos, até perceber que a conversa tinha acabo. O que começou com um simples "oi" terminou como uma conversa sem pé nem cabeça: eu ainda não tinha descoberto o que pretendia e ele não parecia ter falado nada além do mínimo.

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