CAPÍTULO 6 - AQUILO QUE SE EVITA.

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Meu coração parou de cem jeitos diferentes.

Eu realmente senti meu coração parando, aquela palpitação estranha que veio logo depois que entendi o que aquilo significava. Na verdade, minha mente não deu toda a volta e ficou imaginando um futuro com Brian, apenas por aquela mensagem, mas também não encarei como se fosse qualquer coisa.

Ainda havia a sala inteira ao meu redor. Cora e Amelia ainda estavam lá, me observando silenciosamente. E por mais que eu quisesse me virar para elas e contar a novidade, tive que me conter. Só Deus sabia como Cora reagiria àquilo, então me convenci de que (talvez) precisasse contar primeiro para Amelia. Mesmo assim, não fiz nada.

Fiquei olhando para a tela do celular, por um bom. Eu sabia que ele já conseguia ver que eu visualizei sua mensagem. Eu sabia que, provavelmente, Brian estava esperando pela minha resposta. Mas alguma coisa naquela situação toda não me deixava achar que o garoto era do tipo que ficava nervoso com alguma coisa assim. Alguma coisa também não me deixava confiar inteiramente nele, porque, sejamos sinceros: Brian não deixava de ser o garoto grosso e insensível apenas porque me respondeu. Ainda era ele. E há cinco minutos tinha praticamente me humilhado na frente de seus amigos. Uma mensagem não consertaria aquilo.

Tive que esconder as diversas formas que meu rosto se acendeu. Ninguém podia saber o que estava acontecendo, ainda que minha vontade fosse espalhar para todo mundo sobre aquilo (como uma forma de me vingar contra a grosseria de Brian). Se o professor chamasse minha atenção por causa do telefone, eu poderia mentir. Poderia falar que não tinha nada a ver com ninguém por perto. Podia dizer que era sobre minha família.

Mas não era.

— Então — o professor continuou —, as organelas são praticamente os órgãos das células. Alguém pode me dizer quais as diferenças entre as células animais e as células vegetais?

Ele olhou para mim, se aproximando do meu grupinho lentamente. Era um homem alto, narigudo e meio careca. Se eu temesse alguma autoridade do colégio, com certeza seria ele. Escondi o celular entre as pernas e tentei não mostrar que estava distraído. Para ser sincero, nem me lembrava se ele havia dado "bom dia" antes de começar a aula.

— Theo? — O homem disse, levantando as sobrancelhas.

— Eu... — Comecei a responder.

— As células vegetais possuem parede celular e cloroplastos, o que não existe nas células animais. — Uma voz atrás de mim disse. Um timbre curiosamente familiar, mas soava diferente por estar confiante. — Além disso, as células vegetais têm forma fixa e praticamente retangular, enquanto as células animais não têm formas fixas e são mais arredondadas.

O homem parou e olhou para Amelia, parecendo curioso e, ao mesmo tempo, autoritário. Ele se virou para trás e voltou ao quadro negro, com um sorrisinho cínico.

— Muito bem, Amelia. — Disse ele. — Mas, da próxima vez que salvar seu amigo de uma bronca, os dois perderão pontos.

Depois desse fiasco, voltei a colocar meu celular em meu bolso, mas me certifiquei que o aparelho estivesse completamente desligado. Não queria me distrair com mais nada e não queria ser o alvo das atenções novamente (no sentido negativo). De nada adiantaria ficar correndo atrás de um garoto, para, depois de um tempo, ver que minha vida estudantil foi para o brejo. Se eu pudesse focar nas duas coisas, tentaria focar. Mas não podia.

Amelia foi muito gentil por me defender. Algumas pessoas com certeza viram aquilo como, na verdade, um ato de ego inflado – como se ela quisesse responder apenas para mostrar que era mais inteligente. Provavelmente, até mesmo Cora interpretou a resposta desse jeito. Mas eu olhei para Amelia, assim que o professor se virou de costas, e vi seu olhar brilhando na minha direção. De alguma forma, ela sabia que eu estava distraído por algo. E, sinceramente, Amelia sempre teve uma intuição quase sobrenatural: ela provavelmente já sabia que eu estava distraído por causa do Brian.

Mala SuerteOnde histórias criam vida. Descubra agora