CAPÍTULO 7 - AQUILO QUE MUDA.

2 0 0
                                    

Eu não acreditei em mim mesmo depois que enviei a mensagem.

Fiquei olhando para a tela por um tempo, incrédulo, enquanto ele visualizava e não respondia. Brian estava, provavelmente, em algum lugar da cidade, olhando para o celular do mesmo jeito que eu, bravo ou confuso pela minha resposta. E não vão negar, minha primeira vontade foi de enviar outra resposta e dizer que estava brincando, mas, por algum motivo, não podia fazer isso. Quando pensei em escrever outra mensagem e quando pensei em enviá-la, o rosto de Cora apareceu na minha mente com um grande aviso do que poderia mudar.

Eu amava a Cora do melhor jeito que podia, e não podia dizer que ela estava errada quanto aquele assunto. Geralmente, existem regras no universo que não podem ser quebradas. Assim como leis da física, química e matemática, o meu meio social era uma ciência exata: as coisas eram como deveriam ser. É claro que eu podia reenviar uma mensagem para Brian, é claro que podia forçar aquela mudança e realmente me entregar ao que estava sentindo, mas o que aconteceria se fizesse tudo isso? Seria tudo por causa de uma visão de um garoto adormecido e iluminado pelo sol? Seria apenas por causa da minha vontade de ser notado? Provavelmente me notariam da pior forma possível: como o garoto afeminado que se entregou ao que sentia pelo cara mais hétero do colégio.

Então não pude mandar outra mensagem, porque percebi tudo isso. Na verdade, já tinha percebi há algum tempo, mas ainda não queria admitir. Minha vontade, lá no fundo, era quebrar esses padrões e realmente sair atrás do que fazia meu coração bater mais forte, mas sabia que nem meu coração tinha tanta força assim. Eu não podia encarnar um revolucionário e mudar todo o sistema do colégio (ou de qualquer meio social parecido), não podia fazer com que todo mundo gostasse de mim. Não podia fazer com que ele gostasse de mim. Então, também, não podia deixar de olhar para o resultado do sorteio apenas como era (e como o nome sugeria): um horrível golpe de má sorte.

Quando voltei para o corredor, encontrei o cheiro de almoço e os risos da minha mãe. Eu sabia que teria que colocar uma máscara e fingir que nada estava acontecendo (porque eles não ligavam para meus problemas), mas também sabia que não era muito bom em mentir. Entretanto, eu tinha meus meios. Quando apareci na cozinha, eles olharam para mim e pararam de rir na hora. Eu sentia como se estivesse prestes a começar a chorar (e talvez estivesse mostrando isso na minha expressão).

— O que houve? — Minha mãe foi a primeira a perguntar. Andei em direção da mesa.

— Nada. — Falei, esfregando os olhos. — Eu só estou meio gripado. E descobri que não tirei 10 na avaliação de matemática.

Meu pai deu um risinho, enquanto servia o prato da minha mãe. Pareciam radiantes, como sempre pareciam. Eles tinham esse brilho de casal, o brilho que eu queria ter com qualquer garoto. Parecia que tinham nascido um para o outro.

— Não tem problema. — Meu pai disse. — Não é sempre que dá pra tirar um 10.

— Eu sei. — Respondi. — Mas vocês sabem que eu fico chateado com essas coisas. Estudar é tudo o que sei fazer.

Minha mãe olhou caridosamente para mim, mas não fiquei sustentando seu olhar por muito tempo. Eu não suportava a caridade dos outros porque isso justamente me fazia ver o quanto precisava de caridade, de simpatia e empatia.

Comecei a me servir e fiquei escutando enquanto meu pai falava sobre os trabalhos que havia feito em casa. Aparentemente, o dia dele foi muito mais interessante do que o meu. Após terminar seus trabalhos de escritório em casa, limpou todos os cômodos (e nossa casa não era tão pequena), preparou o jantar e até organizou alguns filmes uma sessão em família. Minha mãe também falou sobre seu dia, sobre como foi fazer compras e sobre como sua cliente parecia mais legal do que ela mesma – imaginei que, como personal shopper, o trabalho da minha mãe também incluía idolatrar suas clientes. Guardei tudo isso para mim.

Mala SuerteOnde histórias criam vida. Descubra agora