CAPÍTULO 5 - SOBRE O QUE TODOS ESPERAM.

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A frase me acertou como um soco no estômago.

Fiquei olhando para a tela do meu celular, sem saber muito o que fazer. Na minha cabeça voava a ideia de que ele iria embora, como se fosse uma cena de um filme. Distante e, ainda assim, perto. Provavelmente estava me sentindo assim porque, primeiramente, não esperava ler nada do tipo. E é claro, eu não sentia nada por ele. Mas alguma coisa naquela frase me fez perceber que talvez fosse o contrário.

Eu o achei lindo por uma razão, obviamente. Não podia simplesmente virar a cara e ignorar o que senti quando vi os raios de sol sobre ele, no outro dia. Como me senti quando tudo o que via era um garoto dourado e adormecido. Parecia ter saído de um conto de fadas. Como se ele fosse um príncipe intocável, como se eu fosse um plebeu ignorado.

Mas aquilo não era um conto de fadas. Era a minha vida.

Acordei repentinamente do devaneio, fechando a janela do aplicativo e me forçando a pensar que não precisava dar tanta importância para aquilo. Me forcei a pensar que o achei lindo, no outro dia, apenas porque precisava de alguém e queria ter alguma companhia. Eu não precisava gostar dele, realmente não precisava; e nunca havia me apaixonado, mas achava que seria impossível se apaixonar em menos de (pelo menos) uma semana.

Afastei a ideia da minha cabeça e me levantei repentinamente. Entretanto, o celular continuou a vibrar incessantemente, com as inúmeras notificações que chegavam em meu nome.

— Theo? — Meu pai perguntou, me assustando. Olhei para ele e me lembrei do que havia pedido.

Alcancei a tigela de legumes e a coloquei perto de meu pai. Ele estava olhando para mim com a mesma cara de sempre: as sobrancelhas abaixadas, como se estivesse desaprovando alguma coisa. Conforme fui crescendo, percebi que essa expressão dele significava muito mais seu status na família do que qualquer outra coisa. Afinal, meu pai era quem mais contribuía para a casa (financeiramente e moralmente falando), então sua expressão costumeira era de um cara durão.

— Você pode atender. — Ele disse, se referindo a meu telefone. Balancei a cabeça negativamente.

— Não quero. — Respondi, mesmo que nem fosse uma ligação.

Meu pai nem podia imaginar o quão forte batia meu coração naquele momento. Ele e minha mãe, obviamente, já sabiam sobre minha sexualidade e quase todos os meus segredos. Mas não sabiam sobre o Mala Suerte, não sabiam sobre o garoto e, finalmente, não sabiam sobre o que eu estava sentindo no momento. Para ser sincero, nem eu mesmo sabia o que estava sentindo no momento. Apenas rezei para que fosse o efeito do susto: o coração acelerado, o suor nas palmas das mãos, a tremedeira e a inquietude.

— Como vai o Clube? — Meu pai perguntou, finalmente, e agradeci por poder pensar em alguma coisa além da partida de Brian.

— Bem, eu acho. — Respondi, novamente me sentando no banquinho do balcão. Dessa vez, não olhei para o celular e nem ousei tocá-lo. — Cora está um pouco receosa de que tenhamos que fechar. Estamos crescendo demais e o colégio, provavelmente, não suportará mais o tamanho do Clube.

— Se quiser, posso ver com uns amigos meus... talvez tenham alguma coisa para alugar. — Ele respondeu, provando um pouco da massa de tomate que preparava. Por sua expressão, estava aceitável.

— Não acho que poderia pagar. — Falei. — O dinheiro da mesada não cobre.

— Está reclamando da mesada? — Ele perguntou, com um tom inquisidor. Enquanto olhava para mim, pude ver o reflexo de um sorrisinho em seu rosto.

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