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Passei a madrugada arrumando o meu quarto. Depois de analisar tudo em seu devido lugar, aquilo me trouxe um pouco de paz. Mesmo que não seja a quantidade que eu precise.

Na verdade, fiz tudo isso porquê eu não conseguia sequer pregar meus olhos desde que Dylan saiu daqui. Essa foi a única forma com que eu parasse de chorar. Eu estou arrasada. Com um sentimento de peso no meu peito e um gosto amargo na boca. Sem contar com o meu peso na consciência.

— Obrigada. — Agradeço me soltando dos braços envolventes da minha mãe.

Noto uma doçura em seus olhos castanhos, há tempos não vejo esse olhar.

Há poucos minutos, foi uma surpresa e alívio vê-la chegar sem o Bruno.
Não iria saber como reagir agora ele sabe que sei exatamente de tudo.
Minha mãe disse que ele chegará muito tarde. Provavelmente há algo com o grande golpe de hoje.

Estarei livre até a noite e se a operação motivada por Martha der certo, para sempre.

— Deseja algo de aniversário, querida? — Perguntou e mentalizo ambas arrumando nossas coisas e indo embora.

Ela aposentou seu blazer nas costas da cadeira da sala e sentou-se.

— Meu celular quebrou ontem a noite. — Comento franzindo os lábios.

— Então vamos comprar um. — Sugeriu sorrindo e não posso negar que fico surpresa com a sua atitude. De pé novamente, ajeitou sua calça preta social. — Onde está Dylan?

Escutar o nome dele, simplesmente me causou um forte desconforto no pé de estômago, como um soco. Encolho meus ombros e finjo não saber.

— Dessa forma, seremos apenas nós duas.  — Assegurou tocando meu ombro. Sorrio sentindo uma sensação otimista na sua voz. — Se troque, iremos passar o dia fora. — Ordenou e vibro internamente.

Apesar do meu desânimo consequente do meu término com Dylan, uma parte de mim brilha ao saber que ela se importa.

No instante em que sai do banho, tentei sair da zona de conforto de roupas. Porém, acabei voltando ao meu traje típico; jeans cintura alta e uma querida blusa branca.

Encontrei minha mãe na sala, ainda com seu traje social. Me diverti quando ela reprovou o visual simples que utilizo no meu aniversário.

Os diálogos com a minha mãe no carro, foram super divertidos. Isto me frustra quando penso que poderia ser sempre desse jeito.

Não duramos muito tempo na loja de eletrônicos. Fico feliz com meu novo aparelho. Ele não é tão diferente, mas ainda é superior ao outro.

Posteriormente, tínhamos um compromisso com o shopping e me aproveitei da calmaria dentro do carro para configurar meu novo aparelho. Mensagens que eu não pude receber ou ler antes apareceram, e não me importei em responder.

Meu dia com a minha mãe é mais importante. Tempos depois paramos em uma loja de roupas do shopping e agora minha mãe está comicamente indignada com meu comentário.

— Ele não é feio, Mendy! — Negou examinando o vestido que ela segura, após segundo encarando a peça, sua expressão muda. — Ele é... rústico. — Acabou-se por soltar um riso e eu gargalho.

— Rústico é novo sinônimo de feio, mãe. — Lanço um olhar de desdem ao vestido. Posso descreve-lo como uma mistura de um campo de flores semeadas aleatoriamente e um pedaço do inferno. — Solta ele, vamos embora. — Agarro o vestido colocando-o na arara de roupas.

Posso ver o sorriso sem graça da atendente quando passamos ao seu lado. Ela nos seguiu desde que entramos na loja, foi desconfortável, mesmo que seja o trabalho dela.

Caminhamos por mais algumas lojas e depois fomos em direção a praça de alimentação. Durante esse pequeno percurso, tivemos uma crise de
risos quando minha mãe gritou em público, que comeria qualquer um no shopping graças a sua fome. Um homem nos escutou e nos reprovou com seu olhar.

Faminta, me sento em uma das mesas  aguardando minha mãe chegar com a comida. De repente, franzo meus olhos ao escutar um "bip" de algum celular ao meu redor.

Remexi nossas sacolas sobre a mesa e consegui achar a fonte, era o meu novo celular.

O nome de Martha brilha na tela e imediatamente cerro os olhos e recuso. Um sentimento de ansiedade bateu na porta do meu peito instantaneamente.

Me sento abrindo o aplicativo de mensagens.

Há mensagens de diversas pessoas, até mesmo um número desconhecido. Curiosa, checo-o em primeiro lugar.
Bufo frustrada quando vejo que era apenas um curioso do colégio perguntando sobre meu relacionamento com Dylan.

Evitando rodeios, entro nas mensagens de Martha lendo-a imediatamente: "Boa notícia. A polícia está com o segurança, parece que ele não abriu a boca sobre a operação e irá cooperar conosco. Salvas!"

Sem dúvidas, essa conversa tirou um  peso dos meus ombros. Logo agradeci a nova notícia dada por Martha. É uma pena que tudo isso não passa de um fingimento seu.

De bobeira, caço outra conversa no meu celular. Porém, me nego a encarar o aparelho quando vejo que há mensagens de Dylan, de ontem a noite.

Infelizmente, curiosidade é meu ponto fraco. Hesito com o dedo em frente a tela antes de ceder e abri-la: "Onde você está e por que não está no seu quarto?  Tive que lhe dar cobertura para os  nossos pais". Quando essa mensagem foi enviada, ainda era cedo. Provavelmente ele ainda não tinha encontrado os papéis.

Quando lembro da forma como discutimos, sinto uma sensação avassaladora de tristeza e meus olhos se enchem de lágrimas.

— Na próxima vez que viermos ao Shopping, você fica na fila! — Escuto a voz da minha mãe soar atrás de mim e imediatamente enxugo minhas lagrimas antes de sequer escaparem. 
— O que aconteceu? — Minha mãe perguntou despejando as bandejas na nossa mesa.

— Nada. Eu só... — Fungo tentando interromper futuras lágrimas — estou muito feliz pelo dia de hoje. — Digo e ela senta-se na minha frente, sorrindo.

Não é de toda mentira. Uma enorme parte minha está muito feliz por estar aqui com ela porém, a outra está muito machucada com o final do meu relacionamento.

— Eu também gosto muito de estar com você, filha. Então, chega de choradeira. — Sua voz pareceu mais empolgada. — Engole esse hambúrguer aqui. — Ela me empurrou a banheira — Pode checar se não tem ouro, estava caríssimo!

— Certo... — Confirmo aos risos pegando um dos hambúrgueres e mordo-o com apetite.

Comemos uma montanha de comidas de Fast Food naquela tarde. Minha mãe nunca havia comido tanto quanto eu. Mas naquele fim de tarde, estávamos quase que competindo.

Depois entardecer do dia no Shopping, apesar de eu implorar para que nós duas ficássemos mais um pouco, ela praticamente me arrastou para ir embora.

Alguns momentos depois, minha mãe estacionou o carro em frente a garagem de casa. Metros antes da porta ela comenta:

— Achou que estávamos no desafio vinte quatro horas no shopping? — Eu rio sem vontade com seu comentário.

— Poderíamos ter passado no fliperama. Compramos mais coisas pra você, do que pra mim! — Acuso indignada.

— Quem tem o cartão de crédito? — Perguntou e eu a aponto com olhos. Paramos em frente a porta e
a casa parece estar estar vazia. — Então... eu escolho o que eu compro. — Seu tom saiu debochado e bufo.

Quando toco a maçaneta para destrancar a porta, sinto que ela está aberta e gelo imediatamente.
Nós não deixamos a porta aberta e se há alguém em casa, por que todas as luzes estão apagadas? Uma sensação de receio me acompanhou enquanto eu abro a porta e acompanho o movimento com um passo.

#63

Preparados para saber o que aconteceu com a Mendy?

Meu meio irmão! [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora