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Uma música ambiente, muito eletrônica para o meu gosto, soa como uma bagunça quando misturada com o barulho das rodinhas dos carrinhos de super-mercado e toda falação, é insuportavél. Estar sensivel a sons altos, provavelmente, era uma das consequências da internação.

Observo minha mãe e o seu rosto pálido, com meias luas, escurecidas, descansando sob os seus olhos. Uma reação comum em relação ao cansaço. Devo reconhecer, ela estava se dedicando cem por cento na minha recuperação. No dia á dia conseguimos nos dar bem mas não consigo esquecer o que aconteceu com nossa relação naquela casa.

As sobrancelhas dela franzem encarando suas mãos, ela está tentando escolher entre duas marcas de sabão em pó, um deles é extremamente cheiroso porém, o outro, tira manchas com mais facilidade. No final das contas é a minha mãe, então, ela apenas joga as duas embalagens dentro do carrinho.

Aquela era a nossa ultima sessão, então, depois de passarmos pelo caixa conseguimos fácilmente encontrar um táxi do lado de fora.

Pego as duas sacolas mais leves no porta-malas. Minha mãe insistiu, apenas para que eu não corresse o risco de romper meus pontos.
Porém, não vou mentir. Estou me aproveitando da situação.

Pego as chaves, que antes estavam no bolso traseiro da minha jeans Colcci,
e elevo meus olhos.
Meu coração quase deu um pulo quando vejo Carly parada na varanda de casa.

- O que faz aqui? - Pergunto, solto as sacolas no chão para abrir a porta. - Todos vocês estavam aqui ontem, não acredito que já está com tantas saudades! - Digo, alegre recupero as sacolas.

Carly apenas sorri fraco. Seu olhar ainda é pensativo e sério.
Calmo demais para uma tagarela.

Me viro e observo minha mãe por cima do meu ombro. Ela está distraída, conversando com o taxísta.

- Vamos, entre. - Peço, faço um sinal para ela me siga.

Carly me ajudou com uma das sacolas, deixamos tudo em cima do balcão da cozinha e fomos até o meu quarto.

É uma sensação estranha que não passa, esta de fazer esse antigo percurso até o meu atual e velho quarto. Mas, eu cheguei ontem do Hospital, não é possível eu achar qualquer coisa normal.

- O que... aconteceu? - Questiono, fechando a porta atrás de mim.

O quarto fica submerso a silêncio enquanto tiro minha regata roxa, restando apenas o top que estava por baixo.

Aquela blusa dá coceira na minha lesão.

- É o Dylan. - Diz Carly, hesitando.

Ela brinca com suas unhas grandes, nervosamente. O barulho que elas fazem; "tic tic", me pertubam.
Porém, não tanto quanto quando escuto o nome de Dylan.

Estou de pé, parada atrás da cadeira
deixada fora de lugar, no meio do quarto. No instante que escuto o nome dele, aperto o encosto aconchoado e florido, com preocupação.

Com a agitação que está no meu peito, provavelmente meu coração quer socar o meu cerebro, ou o contrário.

- O que aconteceu com ele? - Indago, tentando disfarçar a preocupação na minha voz, mas é inútil, porquê está estampada
na minha cara.

Infelizmente sou uma pessoa muito expressiva... menos na hora de mentir.

- Ele está doente... ou, está quase ficando. - Carly coça seu queixo, em dúvida.

Engulo seco e doeu. Parecia que eu estava engolindo pedras.

- Como sabe? - Pergunto.

- Fomos a casa dele ontem a noite.
- Carly começou a andar pelo quarto, com as mãos em frente ao seu corpo - Ele está horrivel, pálido como uma gueisha! - arregalou os olhos, para dar ênfase - Você precisa visitar ele.

Meu meio irmão! [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora