Alguém que te transborde (Completo)

IX

Cinco meses atrás

Estávamos próximos ao final do ano e eu e o Heitor completamos três anos juntos a dois meses atrás. Final de Novembro já estava com a expectativa do Natal em Dezembro. Heitor tinha feito um vídeo cantando para mim aquele ano como presente de três anos juntos afinal ele estava em mais uma conferência, mas achei fofíssimo e atencioso da parte dele.

Eu disse que não suspeitava de nada.

Tinha aquele final de semana livre e Boris me chamou pra sair. Íamos ao parque, eu andava de patins e ele iria correr depois íamos almoçar algo. Fazia um tempo que não fazíamos isso porque ambos estavam ocupados com a própria vida e depois de anos de amizade aceitamos que isso é normal desde que nada mudasse quando nós encontramos. Sabe aquela amizade que você fica tempos sem ver, porém quando vocês se encontram é como se esse período sem se ver nunca tivesse acontecido e estavam a onde tinham parado? Então, achávamos que isso sim é uma amizade verdade e era o que tínhamos.

Naquele dia, Boris parecia nervoso, ansioso e deixava-me andar de patins na frente dele enquanto fazia seu cooper e me observava. Talvez ele achasse que eu não tinha percebido nada, mas eu o conheço a quatro anos. Como não iria perceber a mudança no seu comportamento? Contudo, eu simplesmente o deixei no espaço dele. Eu sabia que quando eu quisesse falar sobre, ele ia então respeitei o seu tempo.

Brincamos durante o tempo em que ficamos no parque quando ele não estava em sua pequena bolha privada. Logo depois fomos ao Subway que era bem perto, talvez uns dez minutos andando. Não tínhamos percebido, mas ficamos quase duas horas na brincadeira no parque então estávamos mortos de fome!

Uma característica muito forte no Boris era que ele comia muito. Enquanto eu pedi apenas um lanche de 15 cm pensando que talvez nem aguentasse, bom, ele pegou o de 30 cm dizendo que comia o resto do meu se eu não aguentasse e depois ele pediu mais 15 cm. Ele se considerava meio ogro quando se tratava de comida e dizia que era grosso, bruto, porém eu nunca vi esse lado dele e mesmo assim eu o chama de meu shrek.

As minhas suspeitas de um Boris nervoso e ansioso se comprovaram assim que começamos a caminhar de volta pra casa dele, que era mais perto do parque.

— Por que você ainda está com ele? — Foi a pergunta que endossou o comportamento dele.

— Porque eu o amo. É por isso que você está meio sombrio hoje? — Não demorei a perguntar, eu queria entender o que estava acontecendo na cabeça dele.

— Estou assim a muito tempo, Fefe. — E aí está o apelido. Algo estava acontecendo e eu não tinha percebido. — Você merece alguém que abra a porta do carro pra ti, sabe? Você merece todo o respeito, todo o amor que alguém pode dar pra você. Ele não te dá isso. Eu sei disso, eu sei de tudo que ele já te fez passar, tudo o que você já sentiu em relação a ele. Ele não te merece. Você merece muito além dele.

Meu shrek estava nervoso com a situação e uma parte de mim sabia que o que ele estava falando era verdade, mas naquela época eu estava feliz com o Heitor. Eu estava cega, para ser sincera. Não queria enxergar nada além do nosso amor. E o Boris estava tentando abrir meus olhos por mais que o jeito que ele abordou naquele dia não tenha sido dos melhores. Eu o entendo agora.

— Boris..

— Não, Fefe. Você não precisa dizer nada. Não sei por que disse isso. Foi errado, desculpa. — Depois de explodir, ele entrou em negação.

— Boris, você me ama? — Indaguei.

Aquele era o momento, eu precisava saber e tirar isso a limpo.

— Claro que amo. — Sua voz saiu com um tom de ofensa.

Ele estava tentando sair do assunto que ele mesmo trouxe para a roda... Então eu sorri com sua tentativa, parei de andar o segurando-o pelo ombro. Nossos olhos se encontram e tentei transmitir o que eu realmente queria saber apenas com essa ligação.

— Boris, você me ama? — Indaguei mais uma vez e o Heitor surgiu na minha mente falando que o meu melhor amigo gostava de mim.

— Amo. Amo muito. — Seus olhos tinham um misto de tristeza e felicidade.

Naquele momento sabia que eu o transbordava.