III

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Sete anos atrás

Bom, há cinco anos eu estava cansada de viver enclausurada no meu quarto da república e só sair quando tinha aula ou pra comer. Se bem que minhas amigas, principalmente Emília, viviam falando isso pra mim, mas é que eu e os meus livros formamos um bom time. 

Entenda, eu não sou uma nerd que fica apenas no quarto. Só na maioria das vezes. Sou bem social e comunicativa, mas prefiro ficar lendo ao invés de ir ao bar beber até perder os sentidos. Mas naquele dia em especial vi um banner bacana escrito "vem se desorientar" e achei que fosse uma boa ideia. 

Agora estou com um cropped preto que acaba assim que começa a minha melhor calça cintura alta e calcei meu all star, e estou oficialmente indo para esse encontro dos desorientados.

Sim, não faz sentido algum.

Quando chego ao bar da esquina da república, já consigo sentir o cheiro de maconha e minha mente pensa: "só gire seus calcanhares e volte, vá ao Burger King tomar aquele milk-shake que tanto ama”. Enquanto meu coração é bombeado com adrenalina e meus pés só seguiram em frente.

Para confirmar a presença chamei uma Danny, seu apelido para Daniela, no WhatsApp e acabamos conversando bastante, o que facilitou ainda mais a sensação de estar confortável com a situação.

— Mafê! — Uma ruiva correu até mim e seus braços me envolvem, apenas retribuo. Não consegui ver seu rosto, foi rápido demais. — A Danny falou tanto de você, fiquei tão curiosa. — Ela não era a garota que tinha conversado, mas apenas sorri tentando entender até que ela gritou: — Danny, a Mafê chegou!

Eu cheguei uns trinta minutos depois, propositalmente atrasados, para não ser arroz de festa e ficar isolada. Em uma mesa mais para o fundo consigo ver a Danny, morena de olhos verdes, com um grupo preenchendo duas mesas do bar.

— Desculpa, essa é a Roberta. — Danny diz se referindo a ruiva que me abraçou. — Vem conhecer o pessoal. 

Ambas me puxam até à mesa e me apresentam a todos, e em especial coloquei a mão na boca quando escutei "Esse é Boris" e alguns latiram. Para mim esse era o nome de um cachorro, mas ele não pareceu ligar. Eram ao todo doze pessoas; três meninos e nove meninas. 

Sentei ao lado do tal Boris pois era o único lugar vazio. Já tinha imaginado milhões de zoações com o seu nome ao ver o sorriso brincalhão que surgiu após as zoações, mas me contento em apenas beber a cerveja dele que estava na minha frente ao invés de ser mais uma usando seu nome contra ele.

— Ei, mal chegou e já bebe assim? — Seu tom parecia sério, mas não acreditei e apenas o encarei até vê-lo ceder e rir. — Me pega um açaí pelo menos. — Ele voltou ao seu jeito brincalhão e eu tampo a boca me obrigando a engolir a cerveja antes de começar a sorrir.

— Açaí não gosto, que tal um milk-shake? — Indago, me divertindo com a ideia de um pequeno flerte. 

— Não é um açaí, mas pode ser — ele diz dando de ombros. 

— Vou te levar para provar um, que não vai esquecer— digo realmente determinada a levá-lo ao Burger King para experimentar o meu milk-shake favorito.

— Eu vou cobrar — ele empurra de leve sua cerveja na minha direção como se permitisse eu bebesse agora.

Seu olhar era intenso, o que causou várias borboletas em meu estômago me fazendo pensar se flertar era mesmo uma boa ideia.  

Logo eu já sabia o nome de todos, mas eu conversava mais com o Boris por estar do seu lado e também por ser o mais divertido da mesa. Foi incrível, pareceu que tínhamos uma ligação daquele tipo que completávamos a frase um do outro e rimos disso, juntamos um complô para zoar alguém e minhas bochechas doerem de tanto rir pela primeira vez em tempos. 

Alguém que te transborde (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora