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Flashback on

É engraçado a forma como damos - conscientemente, um botão importantíssimo a alguém. Quando assinamos a cláusula do eu te amo, estamos dando um poder que no calor do momento, não percebemos. A pessoa que é receptora desse amor tem o poder de mudar sua vida completamente pra melhor. Ou, simplesmente, apertar esse botãozinho mágico e mesmo que inconscientemente, te destruir.

— Meredith, por favor, não chora!

Addison implorou, suplicante. Odiava ver a noiva chorar daquela maneira. Odiava o simples fato de não poder tirar toda a dor que ela sentia, por ser completamente inútil perante aquela situação.

Estavam juntas há cinco anos, noivas há dois e sentiam um amor tão grande que simplesmente não podia continuar crescendo no coração, precisava soltar para fora e se revelar em toda sua magnitude. E assim, resolveram ter um filho.

O sonho de Meredith sempre foi ser mãe. Gerar sua própria criança e educá-la da melhor maneira que conseguisse. Viver isso ao lado de Addison seria a realização de uma vida.
Mas como nada nessa vida sai conforme o planejado, três tentativas fracassadas de inseminação trouxeram os tempos ruins para o casal. Brigas, desconfianças, ciúmes, desentendimentos... Tudo estava bem, e no segundo seguinte, não estava mais.

Montgomery que sempre fora a mais paciente das duas, perdia a paciência com frequência com as crises de grosseria e choros de Meredith, e muitas das vezes, se exaltava demais.

A loira não queria outro meio. Queria a todo custo poder gerar seu próprio filho. Apesar das inúmeras outras possibilidades para que isso acontecesse, não era algo viável para ela e sua opinião não mudou.

— Para onde estamos indo com isso tudo, Addison? — Meredith disse em meio às lágrimas. Essa estava sendo a terceira briga da semana. Era extremamente cansativo, desgastante, para Meredith.

Seu psicológico estava devastado. Se sentia incapaz de realizar uma tarefa que seria natural para qualquer mulher. Era jovem, estava no auge de seus vinte e quatro anos de idade. Era saudável, e o mais importante: queria muito aquele filho. Precisava daquela criança quase como se precisasse respirar. Era seu sonho! Havia conquistado uma carreira legal, amigos legais, uma mulher maravilhosa para chamar de esposa, era amada e aceita... Não havia nada mais a se fazer. Precisava se sentir completa.

Addison por outro lado estava cansada. Cansada das brigas, cansada das lamentações. Queria ver Meredith feliz, e se para isso acontecer, ela precisasse ser mãe, Montgomery à apoiaria.

Quando fizeram testes para determinar como ocorreria, Meredith doou um de seus óvulos para o instituto como garantia, e decidiu que gerariam com um de Addison. Na terceira tentativa fariam isso. As duas primeiras eram testes. E isso a frustrava. Meredith não conseguiu segurar o filho delas com os seus próprios, então pensaram que seria diferente com o de Addison.

A terceira tentativa veio. E a frustração da falta de sucesso chegou. Era sua última tentativa e não havia conseguido.

O que Meredith não sabia é que no mesmo dia em que fez o procedimento pela terceira vez, Addison quis fazer uma surpresa. Sabia dos problemas que a esposa tinha e da baixa porcentagem daquilo dar certo. Ela fez inseminação. Mesmo doador e óvulos de Meredith. Mesmo dia inseminado.

Ambas não conseguiram. Ou pelo menos achavam que não...

Meredith nunca soube.

— Eu não sei! Eu não consigo ver nada além de brigas. Não consigo te olhar sem lembrar de tudo o que passamos nesse ano.

— Então o que eu ainda estou fazendo aqui, Addison? Claramente perdemos tudo! — Meredith disse suplicante, andando de um lado ao outro na casa que dividiam. — O que quer que eu faça, merda!

— Eu não sei, tá legal? Eu não sei... — Montgomery se pronunciou. — Eu só preciso de um tempo. De você é desse drama todo que você criou e me puxou pra dentro...

— Como é que é? — Gritou. — Eu não puxei você para dentro do meu drama. Você entrou porque quis. — Deu ênfase no "quis". — Assuma suas merdas uma vez na vida, Montgomery... E pare de tentar me fazer a vilã dessa história...

— A sua história! História onde apenas Meredith Grey pode brilhar. E os meus sonhos? E as minhas vontades? Qual foi a última vez que você me perguntou sobre o meu dia, Mer?

— Quando foi que eu não valorizei o que você queria? Por Deus! Você sequer está se ouvindo!

— Não abra a boca para falar de Deus comigo... O seu falso Deus nos deixou na mão. E por culpa dele estamos nessa. — Meredith a olhou incrédula. — Eu não quero mais. Eu não aguento mais isso. Se forçarmos mais um pouco, vou acabar ficando louca.

— Eu vou embora. — Meredith disse enxugando as lágrimas e se dando por vencida.

Addison apenas assentiu em concordância, recebendo em seguida dois anéis de aros finos. Sua aliança de compromisso, que fora dada por Addison ainda na adolescência de ambas, e seu anel de noivado, presente dado após a primeira briga de verdade das duas. A promessa da compreensão, do amor a cima de tudo, da conversa, de sempre ser e sempre estar, e principalmente, do nunca partir, havia sido quebrada. Não havia mais volta e ambas sabiam disso.

Os olhos de Addison ardiam como o inferno. Se recusava a chorar na frente da mulher. Se recusava deixar-se abater. Sempre pensou ser a mais forte dali e isso era uma espécie de conforto.

Entretanto, naquele momento, não havia forte ou fraco. Não existia um ganhador. Ambas estavam perdendo a corrida do destino ao traçarem uma luta incansável contra o mesmo.

O coração de Meredith estava destruído. Estraçalhado em milhões de pedaços. Seu ego ferido, e sua cabeça mal conseguia raciocinar direito. Era o fim. Era mesmo o fim de tudo.

— Se eu sair agora, nunca mais volto. Nada no mundo me fará voltar. Eu juro, Addison! — Tentou uma última vez. — Você tem certeza?

— Tenha uma boa vida, princesa. Bata a porta ao sair... — Deu as costas deixando o cômodo.

E assim o fez. Meredith fechou a porta, não só de sua casa, mas a de seu coração também. Addison no instante seguinte ouviu a porta bater e não se fez de forte. Desabou diante da casa, agora vazia, que fora palco do amor delas por tantos anos. Desabou sabendo que havia perdido todo o seu mundo. E ali permaneceu até que...

New York — 20h30min — Setembro, 25.

— Ai meu Deus, Arizona! Positivo, deu positivo!

São Paulo — 22h15min — Setembro, 25.

— Isso não pode estar acontecendo, Mark! errado, vamos fazer outro. Peça para Charlotte comprar quantos forem necessários. Essa droga precisa dar negativo!

Flashback off

La Guapa - Uma história MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora