Capítulo 14 - Tortura

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– Como estão todos aí, cabo Freitas? — Era eu perguntando sobre os novatos, que naquele momento estavam pendurados de cabeça para baixo na ponte de cordas.

– Ouço murmúrios, choradeira... As vezes tentativas frustradas de falas ou gritos, uma vez que cobrimos a boca de todos com a fita. Por enquanto está tudo tranquilo. — Ele responde sorrindo para mim, eu sorria de volta.

Eu havia voltado para a entrada da floresta, dessa vez com a camisa em mãos que eu logo jogava na direção do Daniel, o segurando. Eu estava somente usando a calça do meu uniforme, o par de coturnos e o meu óculos escuro, pois a luz direta do sol na minha vista sempre foi um grande problema desde muitos anos. O cabo de aço que eu pegara mais cedo agora estava na minha mão novamente, pronto para executar a parte final daquele plano que logo se tornaria uma prática de tortura, onde eu tinha certeza que me arrependeria amargamente depois.

– Marcelo, Sargento, você está maluco? O que vai fazer com esse cabo de aço? — Era o Daniel tentando me confrontar, quando me viu enrolar parte do cabo de aço na mão e indo em direção àqueles corpos pendurados, pingando de suor daquele sol das 06h45.

– É hora da punição, cabo Freitas. — Foi tudo o que consegui falar. Eu de fato não estava mais pensando direito, raciocinando com exatidão.

Quando o primeiro estalar que logo marcou perfeitamente as costas de um daqueles novatos ali pendurados, o fazendo soltar um grito preso na garganta por causa de fita adesiva colada em sua boca, o Daniel se desesperou, os outros novatos pendurados também, tentando gritar, cada um deles.

– Você maluco Sargento? Para, agora! — Daniel gritava, tentando me impedir, entrando na minha frente.

– Agora é tarde demais Daniel. Sai da minha frente ou vai sobrar pra você. — Sim, eu de fato não estava mais raciocinando.

O empurrei longe e continuei com aquele castigo, que mais tarde eu sabia que iria voltar todo contra mim de uma maneira horrível, mas que naquele momento era tudo o que precisava ser feito para mostrar para aquele bando de moleque que aquele lugar não era uma colônia de férias, uma escola do ensino médio, ou uma creche. A minha raiva era tamanha que por alguns minutos eu esquecia até mesmo que o Sully existia.

– Sargento, para por favor! Para com isso, você vai se dar muito mal. — Daniel implorava, enquanto me via chicotear as costas de cada novato pendurado ali, fazendo pingar sangue com suor naquele momento.

– Ou o quê Daniel? Você vai fazer o quê, me diz? — Respondia com fúria enquanto não parava com aquela cena de tortura em meio a gritos abafados de desespero.

– Eu só estou pensando em você, na sua carreira profissional agora. Me escuta, para com isso, eu imploro. — Ele falava desesperado, sem saber para onde apontar aquela pistola que carregava consigo.

– Você é um covarde, sabia? Um covarde e um fraco. Você tem tudo pra me parar agora mesmo, e nem isso o faz. Então me diga; o que te fez pensar que transar com aquele cretino iria me ajudar de alguma forma? — Sim, o Sully havia voltado inconscientemente à minha mente, me deixando com os olhos vermelhos e marejados de raiva.

– Eu não vou ter essa conversa aqui com você. Não agora, e não desse jeito. Eu sou um covarde para você? Que seja, tudo bem porque eu não ligo, Marcelo, mas fraco eu não sou. Então eu vou te pedir mais uma vez, e vai ser a última; para agora com isso, você me ouviu? — Ele responde, dessa vez apontando a arma bem na direção da minha cabeça.

– Ainda não me convenceu Daniel! — Respondi aos gritos de fúria.

Em cada novato que eu passava rápido, aquele levava uma chicoteada forte e segura, seja nas costas ou no peito, com a maior força que eu tinha naquele momento; uma força de raiva; de ódio... de tristeza também, de muita tristeza apertando o meu peito. Ouvir cada tentativa de grito agonizante vindo de cada novato ali com fita adesiva colada à boca me fazia chorar por dentro, pois era difícil acreditar no homem que eu havia me tornado em questão de dias, e infelizmente eu não sabia como parar aquilo, eu não sabia mesmo como parar de torturar aqueles homens.

Batalhão 16: A Lista de Fogo (Romance & Mistério) - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora