Capítulo 10 - Bem Vindo ao Inferno (parte 1)

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A sensação que eu sentia por dentro enquanto estava de pé em frente àquele rapaz, um rapaz muito bonito, deveria ter a idade do meu filho, era muito estranha, era diferente de alguma maneira, eu só não sabia ao certo qual era. O seu olhar da cor do mar me transmitia algo novo, uma energia estranha, porém, lá no fundo, boa de se sentir. Comecei a me arrepender naquele exato momento do que eu teria que fazer em seguida com aquele rapaz alí naquele Batalhão. Eu estava pedindo aos céus que o Cabo Daniel Freitas conseguisse executar a primeira missão que eu tinha dado para ele ir agir durante aquele dia e noite, e até lá, eu teria que fingir está seguindo o plano nojento daquele imundo chamado Stewart Sully.

– Você parece muito riquinho pro meu gosto, rapaz. Se achando todo, só porque aparenta ser mais forte que todos os outros recrutas aqui. — Falava, olhando seriamente para aqueles olhos azuis que me encaravam sem nenhum medo aparente.

Ele parecia suar frio enquanto eu falava, ele também não dava mais uma palavra, não piscava os olhos, apenas me encarava seriamente. Havia um pouco de temor naqueles olhos azuis que, vez ou outra, muito rápido desviavam-se dos meus e voltava a me encarar novamente, eu pressentia aquilo. Então, continuei a falar, mesmo contra a minha vontade, mesmo contra aquelas palavras que saíam praticamente obrigadas da minha boca, para satisfazer as imundícies daquele alemão nojento que estava a espreita observando tudo.

– Estão vendo aqui? Está na cara que esse homem se preparou muito para isso. Se treinou, buscou crescer fisicamente e psicologicamente, e ele quer ser um Bombeiro pessoal, igual todos vocês aqui. Ele é melhor que vocês? Vão deixar ele ser melhor que todos vocês?

Enquanto eu falara tudo aquilo, agora olhando para todos aqueles homens alí, aspirantes a soldados, ele, o rapaz parecia continuar firme, em pé, não olhava mais para mim que agora estava um pouco afastado dele, olhava para a sua frente, seriamente. Aquelas palavras continuaram saindo quase que mecanicamente de mim, e por dentro o arrependimento só crescia aos poucos, enquanto o Sully, ainda por trás de todos aqueles vinte calouros, recrutas, só fazia sorrir.

– Tá na cara que este homem é o melhor aqui dentre vocês, seus fracos. Por causa disso, desce todo mundo pro chão, agora. Quero ver todos pagando flexões, exceto você. — Apontei o olhar e o dedo em sua direção, que me olhou e em seguida desviou o olhar para a sua frente novamente.

– Ninguém para enquanto eu não mandar. Vamos, e quem desistir está fora logo agora.

Todos desceram de imediato ao chão, muitos olhando para o rapaz, o encarando com expressão de raiva. Todas aquelas palavras que eu antes falara pesaram como uma rocha contra mim, mas se eu tinha começado aquilo, agora teria que ir até o fim, para que o Sully não suspeitasse de nada.

Os dezenove recrutas que foram para o chão ao meu comando, para fazer as famosas flexões de Militar, ou Marinheiro, como eram conhecidas por serem as mais duras e cansativas de se fazer, muitos já estavam exaustos, alguns já caiam em desistência, mas por outro lado, aquilo me fez ver claramente quem de fato merecia está alí, estava preparado para ir para a escola de soldados e se formar como Militar e quem não merecia, pois eu sabia como aqueles treinamentos iam ser duros com eles, o meu trabalho era de fato fazer aquilo, conhecer o limite de cada um.

– Acabou. Parou. Todos de pé, agora. Vocês que estão aqui ainda, já para dentro. Vão conhecer seus dormitórios, tomar um bom banho, jantar e descansar, pois amanhã bem cedo teremos treinamento livre na floresta. Esses aqui, Cabo Freitas, pode dispensar. — Falei friamente, apontando para dez homens que tinham desistido durante as flexões.

– Sim senhor, Sargento Braz. — Respondeu.

– E você, seu grandão, quero você em dez minutos na minha sala, e nem ouse faltar, tá entendido? — Falei para o rapaz, o Marck Ribeiro, bem próximo dele.

Batalhão 16: A Lista de Fogo (Romance & Mistério) - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora