o assassino de corações - Falsa Submissão

EL TRAFICANTE

O bafo de ar quente interrompeu o sono tranquilo de Daniel no pequeno apartamento em Ipanema, fazendo‑o transpirar des‑ controladamente. O ruido dos automóveis lá em baixo fundiu‑se com as condições precarias daquele lugar discreto destruindo toda sua paz, Daniel espreguiçou‑se contrariado com aquele clima intenso e deixou‑se abanar pela corrente de ar ao lado da janela.

‑ Inferno! Que mierda tengo de salir daqui rapidamente!

Reparou na confusão de cariocas que se deliciavam em ba‑ nhos de sol. Outros mergulhavam entusiasmados com aquele paraiso constante que fazia jus ao nome de cidade maravilhosa, palmeiras, esculturas de areia, mulheres bonitas exibiam as coxas poderosas enquanto Daniel lamentava o poderoso calor. Um sorriso maroto desfez‑se nos seus labios que depois bateu no foco do sol voltando para realçar os seus sumptuosos olhos verdes.

Lembrou‑se de Luciana e da noite ofegante que tiveram na casa noturna, ele era um artista e estava a jogar intensamente em mais um projeto que rapidamente queria ver dar frutos. Voltou a espreguiçar‑se alisando depois os cabelos e viu‑se a abanar a cabeça com cada imagem do filme da noite passada.

Estava a ganhar a miuda pela ousadia e pela vaidade, ao contrario de outro homem, não se mostrava apressado em envolve‑la nos braços dele e sabia que essa ação a perturbaria fazendo‑a desejar morder loucamente a maçã em busca de um extase maior. A manhã era linda e tinha que pôr em curso mais uma etapa do seu plano.

Entregrou‑se ao chuveiro temperando as suas ideias e orga‑ nizando as suas proximas investidas sabendo que o tempo se escasseava. A policia começava a apertar o cerco, tinha que ser muito inteligente e via em Luciana o seu passaporte. Nas teias do seu cerebro rascunhou o seu plano de fuga e dirigiu‑se ao bar das redondezas para degustar do tão apreciado bolo de fubá

enquanto esperava pela hora certa. Precisava de encontra‑se

com o agiota.

Olhou para o telemóvel e aconchegando‑se num canto discreto fez uma chamada para o seu parceiro trocando algumas ideias so‑ bre o horario e localização. Abriu o jornal na maior simplicidade reparando numa rapariga que lambia um sorvete provocando‑o.

‑ Me gusta la brasileñas! São mucho gatas, hermosas, cheiro‑ sas e poderosas, garçon por favor.

Daniel lançava o primeiro galanteio para atrair a atenção da jovem rapariga que se mostrava um pouco timida, mas com uma certa redenção aos olhos exoticos.

‑ Que calor, gracias garçon – Provou o suco de acerola sempre com olhar intenso sobre a moça – Novidade por aqui, és muy guapa você se chama?

A moça revirou o olhar fazendo uma pose de desdém para o latino e mordiscou a ponta do gelado e lambeu sensualmente.

‑ És provocadora, sabes yo estou perdido necessito de um guia turistico aqui no Rio sabes donde posso encontrar?

‑ Cara teimoso hein, jogando charme para mim assim você vai me vencer pelo cansaço. Procura por ai está perdido?