MARIA MADALENA

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Lisboa.

Um frio de rachar. Ruas tristes abraçadas pelo manto inver‑ nal, o cheiro de café misturava‑se com o perfume das padarias que se espalhava pelas ruas. O murmurio do fado que arranhava as paredes dos casarios casava com o ritmo lento e nostalgico que o frio deixava por onde passava. Tombavam alguns pedaços de granito como uma chuva de pedras derrubando os vidros de alguns automóveis estacionados no coração de Lisboa. Sobre a janela apreciando aquela pequena trágedia estava Maria Madalena expulsando os bafos que absorvia do cigarro. Como numa peça de teatro observava o cenário onde os personagens embrulhavam‑se em pequenas conversas fugindo aquela fúria da natureza. Sacudiu os pequenos pedaços de cabelo que lhe escondiam o rosto e olhou para o pequeno relógio que lhe indi‑ cavam hora de entrada para as aulas.

Podia contar com os cuidados e a atenção do marido, mas continuava demasiado absorta em relação ao estado da filha que nos ultimos dias mostrava‑se muito reservada com os seus habitos alimentares descontrolados.

Bolimia. Desconfiava que a filha sofresse desse problema, mas precisava de exames para ter a certeza da sua aflição. Caminhando sobre o corredor da escola secundária desfez‑se num pequeno choro que logo foi amparado pela sua colega Soraia sempre muito atenciosa. Apesar da fragilidade tinha de recompor‑se para dar aulas e esquecer aqueles problemas que insistiam e tentavam derruba‑la.

‑ Tenta acalmar‑se Maria, eu sei que é um assunto muito deli‑ cado, mas faz um esforço, coragem amiga.

Soraia puxava por Maria na soturna caminhada pelo corredor, alguns alunos desconfiavam da fragilidade de Maria, mas prefe‑ riam conter‑se em sinal de respeito com a professora. Assim que chegou a entrada da sala, Maria desmaiou.

O murmurio carregado de panico entrara pela sala ao ver a mulher desalinhada no chão gelado. Um grupo de continuos


despachou‑se em intervir em seu socorro com a algazarra de alunos a inundar o corredor com comentarios tristes e desesperados.

O dia melancolico mostrava‑se ainda mais atroz para Maria que fora carregada por uma ambulância deixando a escola em estado de choque.

***

Embalada num sono profundo Maria repousava ao ritimo das gotas de soro que lhe reanimavam os sentidos abalados. Entrara em principio de uma depressãoo apegada ao amor que sentia pela filha Daniela, o relatório também divulgou principio de ane‑ mia. Pedro entrara de rumpante no corredor do hospital movido pelo amor que sentia pela mulher.

Presenciava o infortunio que invadira subtamente a sua his‑ toria. Os problemas de saude da filha, a crise que se instalara por toda a Europa e agora a mulher que começava a sucumbir ao seu estado emocional cada vez mais demente.

Queria dizer algo que a confortasse, agarrar‑lhe com firme‑ za as mãos, mas esta encontrava‑se num sono profundo. A boa nova é que o seu estado não era muito grave, o medico garantiu‑

‑lhe que em uma semana estaria melhor, o soro e a clausura no hospital eram apenas breves precauções.

A tarde em Lisboa teimava em ser gelada fazendo guerra aos mortais num sopro forte acompanhado por pequenas rajadas de chuva. Pedro fazia questão de aconchegar a mulher e passar o resto do dia ali, sempre fora um bom pai e um bom marido. Por outro lado preocupava‑lhe o desnorte e a alimentação da filha, apesar dos seus 17anos.

Porém. Algo maior o impedia de fiscalisar Pedro naquela noite só tinha de crer que ela não ia exagerar naquela noite em coisas que prejudicassem ainda mais a sua bolimia. Uma cha‑ mada rapida fora tudo que conseguiu fazer, partindo‑se em mil cuidados para filha seguir a dieta imposta pelo medico.

Voltando‑se para sua amada encheu‑se de pranto comovido com aquelas dificuldades, tinha que ser forte, em nome do amor, em nome da filha, como um pilar que não se quebra diante das adversidades, assim seria em prol da familia.

o assassino de corações - Falsa SubmissãoWhere stories live. Discover now