Capítulo Dois

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MARE

ELES ACHAM QUE EU NÃO SEI QUE ME XINGAM. Mas eu sei.

Alguns nem mesmo tentam disfarçar sua repulsa. Na maior parte do tempo, não me importo.

Eu faço meu trabalho. E só isso. E ainda assim, recebo os olhares acusadores ou magoados quando não sou o que eles esperam que seja.

Eles me vêm. E imediatamente criam uma imagem. Quando não cumpro o papel, sou julgada.

Argh. Depois me perguntam por que evito pessoas.

Depois da cena que o fracassado do Samson fez, me isolo em meu escritório. É pacífico e tranquilizador.

Ainda escuto o som baixo dos telefones e falação do lado de fora, porém aqui dentro é muito bom. Gosto de meu próprio espaço. Especialmente longe das pessoas. E melhor, pessoas que me odeiam abertamente.

Imagino a diversão que tiveram ao me ver sendo exposta e ridicularizada — ao menos vão ver assim. Samson colocou para fora tudo o que boa parte – se não todos – pensam sobre mim.

Que pena.

Uma notificação aparece no canto esquerdo de minha tela.

TIBERIAS CALORE: Judy e Tom querem falar com você imediatamente na sala de dela.

Eu bufo. Meus chefes. Pode pender para o bom ou ruim.

Normalmente é para o bom. Felicitação e agradecimentos por minha perfeita performance.

Não ficaria surpresa se fosse um novo aumento.

Eu quase repreendo Tiberias por chamar seus chefes pelo primeiro nome, porém me lembro de que presenciei os dois pedindo que o chamassem assim. Ele é querido por praticamente todo mundo.

As vezes o comparo com um Golden Retriever. A personalidade afável e calorosa, fácil de agradar os que o rodeiam. Eu nunca expressei esse pensamento, é claro. Comparar meu assistente a um cachorro seria errado. Por mais que eu o veja assim.

E eu deveria repreendê-lo por ter tocado em mim mais cedo.

Tiberias agiu como se se preocupasse com meus sentimentos. E eu sei que não é isso. Ele está preocupado com sua promoção para editor.

Sei que se divertiu as minhas custas.

Como todo mundo aqui.

Não erro quando fico na defensiva. Não vejo razão em socializar com quem me detesta.

Subo até o último andar, escritório da Judy. Meu pé bate inquieto, estou curiosa.

Deve ser por causa de Stuart.

Eu sorrio.

É um aumento. Com certeza.

Bato duas vezes na porta e entro.

— Bom dia! — Digo aos dois.

Eles retribuem, simpáticos.

— Mare, você se lembra que não podia sair do país, mesmo que fosse a trabalho, não é? — Judy começa.

Hm, isto não está indo como eu esperava.

Levo minhas mãos a cintura.

— Sei — respondo, acuada.

— E você saiu, mesmo assim? E lembra que seu visto está em análise? E que você deveria ter entregado todos seus documentos?

Ok, isto está indo muito mal.

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