CAL
O DIA COMEÇA CEDO. Não é nem cinco horas da manhã quando escuto vozes altas vindas do térreo.
Levanto da cama e olho pela janela, mal amanheceu e há gente no jardim da frente trabalhando.
Estou tão ansioso que não acho que vá conseguir voltar a dormir. Não consegui fazer isso durante a noite, muito menos agora que está cada vez mais perto.
É isso. O dia chegou.
Vou me casar! A ideia continua parecendo surreal, porém estou em processo de aceitação. Já não me parece tão ruim como quando Mare me propôs toda essa loucura.
Mare.
Não sei o que está se passando com ela. A última coisa que ela me disse foi absurda. Ela quer largar tudo, quer ir embora.
Quando foi que ela ficou tão assustada? Foi por causa de ontem? Por causa do que aconteceu entre nós? Não sei. Preciso falar com ela.
Precisamos conversar.
Só preciso conseguir escapar de minha mãe. Ela foi bem firme sobre nos separar ontem. Nem mesmo permitiu que dormíssemos no mesmo quarto.
Embora tenha ordens de minha mãe, decido quebrá-las.
Pela primeira vez na minha vida, estou desobedecendo minha mãe.
É isso mesmo. Em vinte e sete anos de vida, eu nunca, nunquinha, fiz algo que minha mãe não permitiu.
Sou um santo.
Cuido de minha higiene matinal muito rápido porque não sei quanto tempo tenho disponível. Ou Mare.
Depois disso, espero os passos e conversas que escuto no corredor sumirem para que eu possa sair. Ando rápido pela casa, subo para o segundo andar, o quarto que Mare e eu dividimos nos últimos dias.
Tento abrir a porta, enquanto olho para os lados, torcendo para não ver minha mãe cruzando o corredor. Começo a bater e aguardo.
Não muito depois, Mare abre a porta, parecendo cansada. Deve ter dormido mal, como eu.
Ela me deixa entrar.
— Sabia que não deveríamos nos ver? Dá azar — apesar de tentar fazer uma piada, noto um incomodo. Algo a chateia.
— Você dormiu? — Pergunto, preocupado.
Ela nega. — Bom, eu tentei, porém só revirei. Então desisti — ela se senta na cama. Faço o mesmo, ficando ao seu lado.
— Sobre o que você disse ontem... — começo.
— Sobre ir? — Ela exala um suspiro cansado. — É uma possibilidade.
— Não é lá uma possibilidade muito boa para mim.
Ela me encara.
— Você não sabe o que fala.
— Vamos começar com isso?
— Só quero seu melhor, Cal. Não quero te ver perdendo o que importa para você.
É inacreditável que ela não entenda. Que não queira entender.
— Está se incluindo nisso que importa para mim? Se você partir, perderei uma coisa importante.
Mare desaba na cama, leva as mãos ao rosto, o esfrega frustrada.
— Há tantas cosias em minha cabeça agora.
Deito ao seu lado.
— Eu sei. Na minha também. Mas estamos juntos nisso, não é? Desde o início.

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A Proposta
Roman d'amourMare Barrow é a editora chefe de Montford Books, mas sua carreira e estabilidade correm risco quando seu visto no país é negado e ela será deportada. Para evitar perder tudo, ela propõe a seu assistente, Cal, que se case com ela. Casamento esse que...