Capítulo 31 • O quanto for preciso

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Ambar Smith

- Oi pai - Digo tentando ser seca, mas sem sucesso, minha voz sai fina e ofegante.

Fico em silêncio enquanto ele pede o seu café. Para me distrair, tomo meu suco com a cabeça baixa, apesar de ela querer levantar e encarar os olhos dele.

- Filha... Obrigado por aceitar meu convite, fico grato por isso.

- Tudo bem.

- É uma bela barriga, não? Qual vai ser o nome?

- Linda. Vai ser Linda o nome.

- Bonito, é a sua cara colocar esse nome. - Ele sorri, mas eu não consigo nem me forçar a sorrir também.

Respiro fundo.

- Pode contar o que queria falar. Não estou me sentindo muito bem, acho que estou com a pressão baixa.

- Então é melhor marcar outro dia, Ambar. Um dia que você esteja bem.

- Não, Gary, fale agora, vai ser mais rápido.

- Eu estou com câncer, Ambar. Câncer no pulmão.

Câncer. No pulmão.

Minha boca se abre, mas não consigo falar nada, seus olhos estão cheios de lágrimas. Por isso a urgência de marcar esse encontro, ele não sabe quanto tempo tem. Meu coração começa a acelerar.

- Câncer?

- Sim, estou com câncer. Falar em voz alta dói mais. - Ele suspira. - Por isso estou no Chile, vou começar a fazer as químio terapia lá, em um hospital que é de um amigo meu. Por isso eu quis vir com mais urgência, antes dessa merda acontecer.

- Câncer... - Repito quase chorando. - Você está dizendo que eu nunca meu pai presente e agora ele vai morrer?

- Quase isso... Não sabemos se eu realmente vou morrer, talvez as quimios deem certo, eu sobreviva.

Não consigo controlar, começo a chorar igual maluca. Meus olhos parecem duas cachoeiras, preciso pegar guardanapos para secar e praticamente é inútil. Meu coração dói como nunca odiei antes.

- Não precisa chorar, eu já não era presente, lembra?

- Eu tenho um pai que não é presente, Gary, mas isso não significa que eu não sentirei falta dele.

- Desculpe, filha... Eu não queria me expressar dessa forma.

- Você tem razão. Acho melhor nós dois conversarmos outro dia.

Levanto da mesa deixando dinheiro para pagar meu suco e caminho entre as pessoas, mas sinto minhas pernas virarem gelatina, estou me sentindo mole.

Câncer.

No pulmão.

Câncer no pulmão.

Ele tem câncer no pulmão.

Estou prestes a chorar novamente, mas meus olhos fecham e eu caio no meio do restaurante ao ar livre.

•••

Meu corpo está todo dolorido, olho meio grogue para o lado e vejo alguém vestido todo de branco, acho que é uma mulher, mas não consigo decifrar. Essa pessoa passa a mão no meu cabelo. Sinto algo quente como uma agulha furando a minha pele.

- Calma, querida, não se preocupe, é anestesia. Você é seu bebê irão ficar bem. Seu marido está chegando e seu pai está na recepção.

pregnant | 🅴Onde histórias criam vida. Descubra agora