Capítulo 10 - The King

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-Quem é o rei mamãe?

-Como assim? - A pergunta tirou-lhe da concentração.

-Uma vez você me disse que cada peça desse jogo representa cada pessoa e suas devidas funções no mundo, mas quanto ao rei? Nunca me respondeu isso.

No chão da sala estavam as três reunidas para o jogo de tabuleiro, Asami e Kira de frente uma para a outra, e Ashrah sentada no colo da mãe apenas observando tudo com curiosidade e tédio ao mesmo tempo.

-O rei? Eu tenho que pensar muito nisso – Seu olhar foi para a peça e na sua mente ficou apenas a pergunta “quem seria esse rei?’

-Tudo bem, eu espero e... - Movimentou as peças do jogos e com um grande sorriso voltou-se a mãe – Finalmente você ganhou! Sabia que aprenderia com facilidade.

-Finalmente, já estava na hora  – Respondeu Ashrah revirando os olhos.

-Finalmente os humilhados foram exaltados – Tirou a menina de seu colo e então levantou-se – Vamos agora fazer o que a Ashrah quer, é a vez dela.

-A minha vez vai ser a mais legal! - Bateu palmas alegre – Vamos ter um dia de spa!

-Pensando bem, eu realmente preciso hidratar meu cabelo – Disse segurando as pontas enquanto analisava - Faz tanto tempo que não cuido de mim, devo tá uma desastre.

-Eu disse que seria uma ótima ideia.

-Não importa o que esteja ocorrendo ao redor, o importante é está sempre hidratada – Concluiu Kira.

Algumas horas do dia cuidando de si e das filhas sutil um grande efeito que não ia apenas no brilho do cabelo ou na textura da pele, ia além de se sentir bem com as pessoas ao seu redor nas simples coisas do dia.

-Agora eu tenho o cabelo do tio Mako – Com toda a espuma no cabelo permitiu que pudesse deixá-lo todo para cima.

As três estavam dentro da banheira, da suíte do quarto, que estava preenchido com água morna, espuma e loções.

-E eu tenho um bigode – Kira encheu toda a mão com espuma e colocou no rosto.

-Esse é o mar mais doido que já vi – Referiu-se aos brinquedos que estavam dentro da banheira. Ideia das filhas de fantasiar tudo – Tirem as espumas que já vamos sair.

-Ah não. Só mais um pouquinho.

-Okay, só um pouquinho e nada mais que isso.

.....

-Oi?

-Eu perguntei como estão as coisas lá? - Repetiu mais uma vez a pergunta.

Ela estava tão longe de si, anos passaram, o passado deixado para trás mas ainda sim tinha momentos que se pegavam pensando de forma tão profunda.
Lembra da menina rebelde e dos seus pais cansados ao ponto de entregá-la para outra pessoa. Da nova e grande família que a acolheu, da mulher que a fez se sentir especial mas que nunca chamou-a de mãe. Da traição e de tudo que fez quando obteve poder. De que viu esperança no perdão em que teve ao ter sua vida salva, de ter consertado o erro do passado, do perdão que recebeu e de finalmente chamar e aceitar aquela mulher como mãe, e por fim do perdão da pessoa que amava.

Anos e mais anos e Kuvira ainda podia assistir tudo aquilo passando diante de si, mas aquilo tudo serviu como aprendizado, que as pessoas estavam em constante mudanças e que nessas mudanças muitos caminhos poderiam ser seguidos. Cada um era responsável pelo caminho que se encontra e ninguém mais.

-Estão ótimas, estamos recebendo esse ano mais alunos de fora – Bebeu um pouco do chá e então colocou em cima da mesinha. Não era muito fã de chá mas sabia como Opal as vezes poderia ser persuasiva – Sua mãe não pensa em se aposentar tão cedo e o seu pai de lamentar sobre as dores nas costas.

-Nossos pais são uma loucura – Respondeu com um sorriso.

Desde os oito anos Kuvira acostumou-se a viver em uma grande família, sendo os dois mais velhos e mais seis crianças, contando com ela, em uma só casa, porém o lugar era espaçoso e permitia que cada tivesse um espaço privado.
O templo lembrava Zaofu, e ambos estiverem e continua em constante mudança a cada ciclo de pessoa, tinham que atender a necessidade de todos.

-O Huan finalmente saiu de casa e resolveu que iria viajar pelo mundo vendendo sua arte, os gêmeos estão namorando gêmeas.

-O que?

-Isso mesmo e não me pergunte como as coisas funcionam pois ninguém além deles conseguem entender essa dinâmica.

Tecnologicamente os quatros cantos do mundo evoluíram e se sentem mais próximos apesar das distância, o meio de comunicação foi o maior passo dado e tudo isso se deve a união de todos com a intenção de fazer tudo valer. Apesar disso Opal adorava ouvir pessoalmente, sentia que aquilo provocava mais emoção.

-Em breve iremos visitar Zaofu, mas Bolin e eu decidimos esperar o bebê nascer.

-Mais um? - Arqueou a sobrancelha.

-Sim, será o mais novo e último membro da família.

-Entendo.

-E você e o... - Antes que terminasse fora interrompida.

-Não sendo grossa, mas creio que não nasci para ser mãe. E Baatar e eu estamos muito ocupados ultimamente que não poderemos cuidar de crianças. Em falar em crianças, cadê o restante? - Geralmente era sempre atacada a cada vez que vinha a Cidade República.

-Saíram com o Bolin, mas estranho que ele não me contou para onde iam.

-Soube do que ocorreu com Asami.

-Oh!

E era com isso que ela estava mais preocupada. Que caminho tudo seguiria agora?

.....

O momento pedia sua total atenção mas nem diante da presidente que lhe dizia coisas de grandes importâncias ela não conseguia manter o foco. Não quando a sua mente vagava na “conversa” nada agradável que tivera com Asami ou na forma fria que ela tem lhe tratado desde então. Mas o que podia fazer? No momento nada mais esperava consertar toda essa situação. Ela amava Asami e se esforçaria novamente para conquistá-la novamente se fosse preciso, mas não, não desistiria dela.

-Não gostou de nenhuma ideia?

-Que? - A pergunta foi retórica, não fazia ideia do que fora dito pela mulher a sua frente.

-Realmente está apta para isso? - Perguntou Zhuli Moon, presidente da República Unida - Não que eu esteja duvidando da sua capacidade, mas você sabe onde quero chegar.

-Desculpa, me distraí.

-Pela terceira vez.

-Me desculpa pela terceira vez? - Sorriu.

-Claro Avatar. Problemas pessoais? - Recebeu a resposta com o balançar de cabeça - Certo. Se não fosse algo tão importante não teria te chamado, mas somos mulheres a governar, de formas distintas, mas com o mesmo alvo – Ajeitou o seu óculos após o fim da fala.

-Posso levar uma cópia? Quero dar uma olhada melhor e se puder ver o que posso sugerir.

-Certo, mandarei fazerem uma cópia, não demoro – Levantou-se deixando apenas o Avatar na sala.

Korra suspirou e então recostou-se naquele sofá aconchegante de olhos fechados. Toda vez que resolvia algo, um problema maior surgia, mas estava acostumada com isso, desde Zaheer tornou-se uma pessoa melhor e sempre escolhia quais batalhas deveriam ocorrer.

-Com licença? - Ouviu uma voz infantil que a fez abrir os olhos.

-Você aqui! - Falou com um enorme sorriso no rosto, alegre com a surpresa.

-Resolvi te visitar.

Bastava a presença daquele ser para despertar em Korra os mais sinceros sorrisos, não que com os outros não fosse assim, mas com ele era espontâneo, não sabia explicar. Ele é o seu companheiro desde que se encontrava no fundo do poço, a guiou até Toph quando queria se encontrar e sabe lá que coisas a mais. Ele ia mas sempre voltava para rever uma velha amiga.

-O que anda fazendo Tutti-Frutti? - Foi o nome carinhoso que deu ao mesmo quando experimentava o novo sabor de sorvete na companhia dele, e após a comparação de ser tão doce como ele, resolveu chamá-lo assim.

-Coisas de espirito – Respondeu sorrindo – Senti que estava com problemas e então vim.

-Você sempre sabe né? - Concordou – Talvez eu realmente esteja com problemas.

-E por que não a resolve? Estou tentando mas não depende só de mim.

-Do que mais?

-É complicado.

-Descomplique. Aja como Korra e não como Avatar.

-É o que eu estou fazendo.

-Prontinho, Korra – Zhuli entrou na sala com uma enorme pasta em sua direção - Atrapalhei algo?

Korra olhou ao redor mas assim como vinha, ele desaparecia. Apenas negou com a cabeça e então pegou a pasta de documentos de sua mão.

.....

Já era tarde quando Korra retornou para casa, com todo cuidado do mundo entrou no local fazendo o possível para não acordar ninguém, tanto que preferiu a chama em sua mão para iluminar todo o seu caminho naquela mansão.
Seu primeiro objetivo era tomar banho, por mais que estivesse cansada não iria conseguir dormir sem isso. Já pronta encaminhou-se até o seu segundo objetivo: a cozinha.

-Que susto! - Exclamou ao acender a luz e perceber que sua fuga para cozinha fora “descoberta”.

-Estranho, achei que cuidar de mim hoje me deixou mais irresistível - Deu de ombros.

-Oh, agora ela fala – E como resposta recebeu da outra um revirar de olhos – Que seja.

Dirigiu-se em busca de alguns aperitivos e após encontrar o que pudesse matar a sua fome, pôs tudo em cima do balcão e sentou-se ficando de frente para Asami, que mantinha o seu olhar no prato a sua frente.
Ora comia, ora Korra observava a mulher a sua frente e assim que foi flagrada desviou o seu olhar envergonhada. Ficaram assim em silêncio até que a outra quebrou o silêncio.

-Quem é o rei?

-Que?

-Daquele jogo de tabuleiro. Não soube responder a Kira.

-Oh, sim – Pensou um pouco elaborando o que dizer – O rei é alguém que devemos proteger, nos sacrificar, cuidar... pensa mais um pouco.

-Entendi. Alguém que damos as nossas vidas, então o rei são as futuras gerações, as crianças - Concluiu colocando a colher na tigela – Ah, e não, não é porque acabei de falar com você que te faz pensar que te perdoei.

Levantou e colocou na pia o que usou, saiu deixando Korra sozinha com os seus pensamentos.

-Primeiro ela me ignora, depois fala comigo, depois me ignora de novo! - Revira os olhos – Que Raava me ajude.

Raava, e aquele simples nome acendeu mais que uma chama em sua mente, foi a Raava a quem ela recorreu quando esteve perdida após a sua luta com um grande espírito.

-Isso mesmo! Como eu nunca pensei nisso?! Céus, isso pode dar certo.



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