retorno

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Está um dia lindo hoje, sol não muito forte, uma leve brisa, ambiente calmo no reino.
Anna está a dar furo a uma papelada importante, uns contratos e leis novas. Enquanto isso, Kristoff está com Olaf no jardim do palácio, devem estar a fazer alguma brincadeira ou a tratar do pêlo do Sven. Estão todos ocupados no castelo e fora dele, com as suas atividades, tarefas e deveres. Uns a trabalhar, outros a estudar. A tribo na floresta também está toda praticamente ocupada, uns a cuidar, outros a ser cuidados. Elsa está a dar aulas a um grupo de crianças. Nunca pensou ser professora, nunca achou ter jeito para ensinar. Mas decidiu tentar e agora dá aulas de vez em quando aos mais novos. Todos querem e devem dar um pouco de si pela comunidade e Elsa não é diferente.

Elsa explica aos meninos e meninas algumas lições importantes de bondade, coisas simples que eles entendam. Pois, no início o que era uma aula de ciências naturais acabou por se tornar áquilo a que no reino chamam de aula de educação cívica. Ela ri se com algo que um dos alunos diz e corrige o educada e animadamente.

Enquanto Elsa está a explicar algo, as crianças ficam espantadas a olhar para o quadro de gelo, que antes da aula ela criou para desenhar um gráfico de fácil compreensão para os pequenos. Uns começam a rir, outros ficam confusos, mas a mais velha não entende o porquê. Ela pergunta se se falou algo errado e uma menina aponta para o quadro. Elsa ajeita o cabelo ao mesmo tempo que se vira para trás e percebe a razão de tanta agitação. Ela sorri involuntariamente. A rapariga sabe muito bem que é para ela.

O quadro foi embaciado e nessa zona foi desenhada um floco de neve. Ninguém sabe quem foi, nem mesmo Elsa ainda descobriu. Mas ela quer muito saber, está curiosa, impaciente, ansiosa por saber. Só não sabe como descobrir, nem se há de acreditar naquela história. Será que se acreditar naquela história ele pode ser visto? Mas ela não acredita muito, nem sabe muitos pormenores. É difícil acreditar em algo que não se conhece bem.

Elsa decide dar uma pausa às crianças para irem brincar um pouco e talvez comer alguma coisa. Entretanto, ela própria tira um tempo para si, para pensar.

O que ela não sabe, é que Jack voltou porém voltou por um bom tempo, e está bem ali, ao lado dela. Ela sente uma presença fria mas boa, sabe que ele voltou. Só não sabe quem é ele. E ele... Quem lhe dera poder falar com ela, tocar lhe, sei lá, conhecerem se. Talvez pudessem ser amigos, bons e verdadeiros amigos. A primeira verdadeira amiga como ele. Quer dizer, fora da base dele e para além dos amigos dele, claro.

Ambos querem comunicar um com o outro, como se sentissem e se conhecessem sem se conhecerem. Ambos querem descobrir a origem dos poderes um do outro. A ele, tudo o que ela faz parece lhe lindo. A ela, tudo o que sabe sobre ele parece lhe insuficiente.

• • •

Os dias passam, Jack continua por perto. Seja porque falta comida, seja porque começou a nevar de novo, seja porque aparecem flocos de neve desenhados nos vidros ou superfícies geladas, ou seja porque estão pequenas flores cristalizadas espalhadas por todo o lado. É a única forma de ele mostrar que ali está, e só Elsa percebe que está alguém ali, mais ninguém notou, pensa ela.

Anna tem notado muito bem as mudanças de humor da irmã cada vez que esta encontra um vestígio do novo espírito do gelo, e a ruiva fica feliz que a mais velha esteja ocupada a divertir se com esse mistério, ela parece feliz, mais feliz ainda. Anna não tem bem a certeza, mas pensa que talvez Elsa possa se estar a apaixonar. Mas Elsa, na realidade, não pensa nisso.

Então, com a forma de Jack mostrar que está por perto, surgiu a forma de Elsa comunicar, de alguma forma, com Jack. A rapariga loira deixa, todas as noites que dorme no castelo com a família, dois bolinhos caseiros da sua receita preferida do livro de receitas antigo de sua mãe. No primeiro dia, ela seguiu o livro à risca, mas depois deixou o trabalho para a cozinheira. Pois é, nessa noite a cozinha, essa coitada, parecia que tinha passado um furacão por lá, porque a ruiva decidiu juntar se à loira e todos sabemos como Anna é meio desajeitada e desastrada. Elsa, desde aí, deixa um bolinho para cada um da família, mais um bolinho para a cozinheira pelo mérito e agradecimento, e um ela esconde o logo antes que alguém coma. Esse guarda o para o espírito comilão.

Então, antes de ir dormir nessas noites, leva o seu bolinho e um outro e deixa os na mesinha de cabeceira. De manhã quando acorda, está apenas um prato vazio ali. Nos primeiros dias, Jack deixava o outro bolinho para Elsa. Mas um dia, Elsa adormeceu sem comer o seu e esse acabou também por ser comido pelo rapaz. Esse, claro, não reclamou. Ao que parece, também ficou fã dos bolinhos caseiros favoritos das irmãs.

Ora, isto, apenas nas noites em que a mais velha vai dormir com a mais nova. Que, por puríssimo acaso, tem acontecido mais vezes que o esperado. Jack não se importa com isso. E para os dias em que a Princesa não vai ao palácio real nem ao reino, eles encontraram outras formas de comunicar. Comunicar é como quem diz, saberem da presença um do outro. Elsa, com pauzinhos e galhos pequenos, faz parte de um floco de neve, para na manhã seguinte encontrar um floco de neve completo e, por vezes, com gotas de orvalho. Todos na tribo já entenderam a mania dela, mas continuam sem saber quem completa a sua mania, tal como ela.

Outras vezes até, para surpreender Elsa, Jack faz um pouco de neve num espaço suficientemente grande para duas pessoas deitadas e faz um anjo de neve esperando que a rapariga faça um seu também. Ou então enchendo um jardim de flores de gelo, uma a uma de vez em quando, para vê la fazer o mesmo por ele. Quem ver a cena toda, diz mesmo que eles estão a apaixonar se. Só que eles não se conhecem. Quer dizer, ela não o conhece, porque ele já a conhece mais ou menos, depois de tanto tempo dedicado a fazê la sorrir com esculturas, desenhos, ou presenças noturnas. Ele tenta aparecer só quando ela está ocupada com outras coisas ou a dormir. Durante o dia ele passeia pelo reino, pela floresta, ou então aproveita para visitar países vizinhos.

Anoiteceu mais uma vez. E mais uma vez, Elsa lança o isco: um floco de neve incompleto feito de madeira, e desta vez também um bolinho. Não da mesma receita, mas pode ser que ele goste. A rapariga ajeita se e fecha os olhos esperando um dia ver a pessoa que a surpreende todos os dias.

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