Capítulo I

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Estou correndo algures na floresta, ele está atrás de mim então não paro de
correr como se a minha vida dependesse disso. Tirei uma faca no estoque que
tinha entre a cintura ainda correndo levantei-a perto dos meus olhos para
que eu pudesse ver o que estava atrás de mim. Senti o ar mover as pontas
das duas tranças viradas que chegavam a tocar a minha cintura, mantive
meus olhos fixos a faca enquanto corria, então… vi ele. Joguei-me pra frente, enquanto ainda no ar virei meu corpo pra trás, lancei a faca acertando seu
ombro e ambos caímos. Cambaliei três vezes na areia misturada com folhas caídas das arvores.

- Ai! - Exclamei com a dor forte que senti.

- Acho que vou precisar de um ombro novo - disse meu tio de joelhos no
chão.

Ele se levantou e retirou a faca de seu ombro, escorria um pouco de sangue.

Meu tio treina-me desde os meus doze anos de idade, digo, há sete anos e nossos
treinos são sempre realmente perigosos. Com armas de verdade. Claro que meu pai não aprova mas nós fazemos isso escondidos dele.

- Como estava a minha velocidade, Muito lenta? Eu estou mais rápida? -
Perguntei, preocupada com meu desempenho.

- Relaxa Afro, você foi rápida - respondeu meu tio tentando me tranquilizar.

- Rápida que nem o vento? - Perguntei.

- Mais rápida que o vento - Respondeu meu tio - venha cá.

Me aproximei dele, olhei-o de baixo pra cima vi suas botas pretas e sua calça preta, cicatrizes no peito e nos seus braços largos.

Meu tio é o maior e melhor
guerreiro da nossa aldeia, o general dos guerreiros tigres.

Ele olhou pra mim
colocou as mãos na minha cabeça e disse:

- Lembra-te, que na vida existem dois tipos de pessoas. - Em seguida falamos ao mesmo tempo. “Os pregos e os martelos, tu escolhes quem queres ser”.

Sorri, meu tio diz sempre essa frase a mim, tenta mostrar-me que, se for para escolher entre sofrer e ser quem causa o sofrimento, devo escolher sempre ser quem causa o sofrimento, não há uma terceira pessoa, apenas essas duas, o que bate e o que é batido, o que mata e o que é morto.

- Agora vamos, antes que seu pai dê pela nossa ausência e comece a fazer
perguntas - Disse meu tio se virando e andando a caminho da aldeia
Pedi-o para parar, tirei um lenço do meu bolso e limpei o sangue no seu
ombro.

Começamos a caminhar novamente pela floresta, inalei o ar, amo sentir o
cheiro das árvores, amo a natureza em si, actualmente ela só sobrevive por
conta da chuva, chuva esta que aparece poucas vezes, tenho medo que um
dia ela desapareça de uma vez, falo da natureza, não da chuva, apenas chove
duas vezes de dois em dois graças ao ancião da aldeia e os seus rituais.

- Estamos quase a chegar Afro, esconda suas armas - advertiu meu tio.

Peguei no cinto composto de facas e joguei-o na mata, era tudo que havia
trazido para o treino de hoje. estamos perto, consigo ver o enorme portão de
palha da nossa aldeia, junto dele três homens segurando cada uma enorme
lança, nossa aldeia chamava-se “Aldeia 1” era toda cercada por paredes de
palha e madeira de três metros de altura que formavam um enorme circulo.

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