Capítulo IV

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O sol nascia, me sentia solitária naquele corredor meio escuro, na minha cintura estavam as minhas facas, e na minha mão direita estava a lança de meu tio, meu coração batia rápido de mais, mais rápido que o som e a luz, a enorme porta começou a subir, a medida que fui subindo, a luz penetrava o comprido corredor escuro. Ouvi um enorme barulho de uma multidão sedenta por sangue, aquele barulho fazia minhas mãos suarem mais e meu coração bater mais rápido, eu nunca vi o inferno, até esse dia.

A porta estava totalmente aberta, congelei, não conseguia andar, o medo me dominou naquele momento, mas eu treinei a minha vida toda pra isso, para vencer o medo, então dei o primeiro passo em direcção a porta o barulho da multidão aumentava, aumentava em cada passo, me sentia pequena em cada passo e mais perto da morte em cada passo, então dei o último passo que me colocaria no inferno e dessa vez… não tive medo.

Entrei na arena, a enorme multidão a minha volta se levantou e começou a gritar, a arena era enorme, mas o barulho nas bancadas era maior ainda, olhei para cima a minha frente e vi a rainha sentada, no seu lado seus filhos, a terra começou a tremer, vi o centro da arena a abrir dentro dela saíram cubos do tamanho de uma árvore, vários cubos chegaram até a superfície, pareciam ter dois metros, estavam ligeiramente afastados um do outro, em seguida no meu lado esquerdo entrou um homem, caminhou até a uma máquina e
colocou sete lanças dentro dela e posicionou-se pronto a atirar, no meu lado direito a terra voltou a abrir, saiu uma jaula e dentro dela, havia um tigre que não parava de rugir, a rainha se colocou de pé, a multidão ficou em silêncio.

- Bem vindos ao torneio Oxum - disse a rainha - hoje a deusa Oxum será
brindada com o melhor entretenimento, a nossa concorrente representante da aldeia 1 terá um minuto para derrotar a nossa fera, quando o tempo acabar o nosso guerreiro começara a atirar contra ela.

A multidão começou a gritar de entusiasmo, a rainha pegou em um
temporizador que contia água na parte de cima, já tinha visto um desses, quando a água de cima toda estiver em baixo significa que o tempo terminou.

- Que comece o torneio!- Gritou a rainha, enquanto virava o temporizador.

A jaula se abriu e o tigre rugiu, começando a correr em minha direcção, fiquei estática mais uma vez, não conseguia me mover, estava tão perto de mim, vi a minha vida a passar pelos meus olhos quando ele saltou com a boca aberta prestes a morder meu rosto, finalmente consegui mover-me e joguei-me para o chão. O tigre passou por cima de mim e caiu no outro lado, não se dando por convencido, rugiu furioso. Deixei a lança no chão e comecei a correr pra frente, o tigre vinha atrás de mim e a multidão gritava
que nem louca, estava tão perto de mim, eu não conseguia ser mais rápida que ele, mas eu não parava de correr, pois a minha vida dependia daquilo, ele atingiu meu pé direito com suas garras por trás, caí na areia rebolei duas vezes, ele saltou pra cima de mim, fui rápida e puxei uma faca, acertei sua barriga ele se jogou no lado, o público continuou a gritar, ainda no chão olhei para o temporizador, estava quase no fim, o tigre ainda estava vivo, notei que
se o atingisse com facas não conseguiria matá-lo ágora, então decidi correr pra frente enquanto ele já estava novamente atrás de mim, mas dessa vez eu não corria para sobreviver, eu corria para que o tempo chegasse ao fim, pois,
quando terminasse o soldado começaria a disparar e eu pretendia fazer com que as lanças matassem o tigre.

A fera estava perto de mim de novo, olhei para o temporizador, caiam gotas, toda minha vida rezei para que a água no mundo nunca terminasse, mas hoje, eu só queria que ela cessasse, aquelas gotas de água se transformaram nos segundos mais longos da minha vida.

A última gota caiu, me joguei para esquerda e o tigre passou a minha frente, o guerreiro ergueu a arma e apontou pra mim, não me movi, o tigre saltou em minha e o guerreiro disparou, rebolei pra frente a lança acertou a barriga do tigre o fazendo cair, o guerreiro apontou de novo pra mim e disparou, consegui me esquivar e comecei a correr para onde eu estava no começo da batalha, enquanto eu corria ele disparava, uma lança atrás da outra, elas
chegavam perto mas não me atingiam, corri com todas as minhas forças, vi a minha lança no chão, me joguei pra frente peguei ela e dei uma cambalhota, ele virou a arma pra mim, disparou mas falhou, comecei a correr em direcção aos cubos com certeza no meio deles as lanças não me atingiriam, corria com tanta velocidade que quando entrei entre os cubos meu braço direito cortou-
se nas lâminas afiadas de um dos cubos, o soldado continuava a disparar mas as lanças não entravam, estava a sangrar no braço direito, comecei a caminhar entre os cubos, com cautela, estava a me aproximar do soldado, vi que as lanças dentro da arma acabaram e ele estava a carregar, peguei na minha lança, coloquei nas costas, comecei a trepar um dos cubos, as laminas me feriam, mas eu lutava pra subir ao topo do cubo, olhei para esquerda e vi
que ele conseguiu carregar, coloquei a mão direita no topo do cubo que não
tinha nada cortante e puxei meu corpo pra cima, a arma estava virada pra mim, comecei a pular de cubo em cubo em direcção da arma, tirei minha lança das costas, o soldado disparou, meu pé direito estava no último cubo antes da areia, me lancei para direita e a arma passou pela minha cintura de raspão.

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