Capítulo II

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Na manhã seguinte, acordei perto da fumaça da fogueira. Acho que adormeci aí, estava com a cabeça encostada ao colo do meu pai e minha mãe no outro lado estava deitada no colo do meu pai também. Levantei a cabeça esfreguei os meus olhos com os dedos e vi um monte de pessoas deitadas. No final dormimos todos ali, levantei em silêncio para não acordar ninguém pois o sol ainda estava a abrir, vi que Ashia e sua mãe não estavam entre as pessoas no local, então, as trombetas do portão da aldeia tocaram, ouvi barulho de
cavalos, o barulho aumentava a cada segundo parecia que eles estavam a se
aproximar, todo mundo começou a acordar, meu pai levantou junto com
minha mãe.

- Afro!- Gritou meu pai- vem e fique perto de sua mãe.

Fui ficar perto de minha mãe enquanto meu pai tentava acalmar as pessoas a volta
de nós.

- Líder da aldeia 1 apresenta-te - anunciou um homem que se aproximava em cima de um cavalo, tinha a barba enorme e bem desenhada, o cabelo médio e escuro, trajava vestimentas pretas o que me deu a entender que ele
não é de nenhuma aldeia.

- Estou aqui General - Gritou meu pai.

em seguida aproximaram-se mais dez homens todos com cavalos e vestidos
da mesma forma, vi meu tio e mais seis guerreiros a aproximarem-se .

- Segundo o protocolo primeiro devo me apresentar - disse o senhor com a voz audível. - todos ficaram atrás de meu pai, de um lado os nossos guerreiros e do outro os homens de preto completamente intimidadores.

-Meu nome é General Kwame sou general do exército do grande reino,
venho em nome da rainha informar que o grande torneio Oxum se aproxima e estou aqui para levar o guerreiro representante da aldeia 1 para o reino até o dia do torneio.

- Para este ano nós temos o guerreiro...

Meu pai foi cortado pelo general Kwame.

- Para este ano as regras mudaram, a aldeia não escolherá o guerreiro, pois a rainha exige que cada líder sacrifique um filho de sangue para o torneio.

- Não! - Bradou minha mãe em desespero segurando-me firme nos braços como se me quisesse proteger.
Vários outros murmúrios se faziam ouvir agora por toda aldeia.

- Ninguém vai levar minha filha de mim – desafiou minha mãe com as
lágrimas a escorrer-lhe pela face.

- Silêncio! - disse meu pai em tom de repreensão. - A aldeia toda fez silencio, fitando o general disse:

- General Kwame, eu entendo que as regras mudaram, mas eu tenho apenas uma filha e cá na aldeia mulheres não são guerreiras, peço que repense a ordem que lhe foi dada.

- Ordens da rainha, disse o general – contrapôs seco.

- Então tentem tirá-la a força- desafiou meu tio tirando a espada das costas.

Observei que os soldados do general começavam também a erguer as suas
armas e naquele momento pensei, nas várias opções, se não for o meu povo
terá que aguentar mais dois anos sem água e seria fatal, mas em
contrapartida, caso fracassasse , meus pais perderiam a única filha. Então
lembrei da noite de ontem, o ancião havia me dito que o grande dia estava
por vir, acho que ele se referia a isso, esse é meu destino e nada nessa vida é
mais forte que o destino.

- Eu vou! – disse.

- O quê? - Perguntou minha mãe incrédula - não vais a lado nenhum.

- Escuta tua mãe e fica quieta- disse meu pai rudemente.

- Se uma aldeia recusar participar, o torneio não se vai realizar – voltou o
general dizer, o que fez-me ficar desconfiada.

Então pensei, se o torneio não se realizar por recusa da nossa aldeia isso trará inimizades com outras aldeias, causaria guerra contra nós, eu não quero isso e nem meu pai, ele sabe o que vai acontecer caso não for, mas também sei que ele está disposto a correr esse risco por mim.

- Eu vou - voltei a dizer firme.

- você não tem treinamento Afro! - Gritou meu pai já impaciente.

- Eu treino escondida do senhor há sete anos, meu tio o guerreiro mais forte da aldeia dos guerreiros tigres foi quem me treinou, então eu vou. Não quero que sangue seja derramado por mim, não é justo – revelei com o coração a bater a mil, ao ver a expressão de surpresa de todos.
Ele olhou para mim e vi decepção nos seus olhos.

- Isso é verdade? – interrogou controverso.

- Sim - confirmou meu tio em com cabeça baixa.

- Pelos panos brancos de oxalá, por quê você fez isso? – berrou.

- Por momentos como esse que está a acontecer - disse meu tio.

Meu pai baixou a cabeça, levantou-a, passou a mão pelo rosto.

- Minha filha foi treinada pelo guerreiro mais forte de nossa aldeia, toda água que já tivemos veio por suas vitórias, nem no tempo de meu pai se conseguiu esse feito, então por mais que me seja difícil, pois eu a amo. A aldeia está em boas mãos.

- Não! - Gritou minha mãe chorando - vocês não têm o direito.

- Mãe, está tudo bem, olha pra mim - peguei o rosto dela, limpando as
lágrimas - vou voltar e viva, ainda vamos costurar muitos panos juntas.
Ela pegou-me no rosto maternalmente.

- Ogum vai proteger-te, vou gritar até ele e os outros Orixás ouvirem que
precisam cuidar da minha menina.

Apenas fiz que sim com a cabeça e deixei sair um sorrirso fraco... caiu uma lágrima no meu olho esquerdo, em seguida limpei as lágrimas.

- Estou pronta - Falei olhando ao general.

- Espera - gritou meu tio.

Aproximou-se e pegou nas facas tiradas do cinto preso na cintura deu-me. em seguida me deu-me uma lança com o metal afiado na ponta, recebi, ele colocou a mão na minha cabeça e disse:

- Lembra-te, nesse mundo existem dois tipos de pessoas.“ os pregos e os
martelos, tu escolhes quem queres ser “ - falamos em sintonia.

Avancei em direcção aos soldados, cheguei até meu pai, olhamos um no olho do outro, e abracei-o e ele retribuiu tão forte que parecia que o mundo não podia fazer-me mal nenhum aí, pois estava segura nos seus braços.

avancei até o general e subi no cavalo de um de seus homens na parte de trás, os cavalos começaram a andar, olhei para trás vi minha mãe ajoelhada quechorava sem parar. Meu pai abraçou-a e meu tio, bem este não nem tirava os olhos de mim, vi o ancião no fundo da multidão fazia um sinal de “boa sorte” pra mim. E minha aldeia toda gritava meu nome.

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