Capítulo 14

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Grace estava sentada em sua cama envolta em uma manta fina, esperando que a casa se silenciasse. Tinha um plano, e nada a atrapalharia de realiza-lo. Passou o dia tentando chegar a Hamish, mas não conseguiu. Ele passara muito mal, e a febre não cedia, então resolveu ir a botica próxima ao ateliê da senhora Ward, e comprou folhas de  freixo para fazer um chá. A curandeira sempre usava isso, e ela já vira sua eficiência, por isso, mesmo que ninguém acreditasse, já que se tratavam de londrinos incrédulos, ela mesma daria a ele. Por isso foi a cozinha e ela mesma preparara o chá, usou uma quantidade um pouco maior, por causa da estrutura de Hamish, colocou em um pequeno bule, pegou uma caneca e foi para seu quarto.

Ouviu a última porta sendo fechada e então se preparou para sair. Abriu a porta levemente e olhou o corredor escuro. Pegou o bule e a caneca e saiu do quarto, não precisou de uma vela, pois era muito boa em andar no escuro, pois nem sempre tinha esse luxo então se acostumou. Passou a mão pela parede contando as portas para chegar ao quarto de Hamish e quando alcançou viu uma pequena chama acessa embaixo da porta paralisou, quem estaria ali afinal? Mas agora já era tarde, entraria mesmo assim. Ao abrir a porta viu a senhora Byrne perto da cama com as mãos em oração. Ela dizia coisas muito profundas, Grace entendeu um pouco, pois a senhora mostrava uma pronuncia bastante profunda do galês, mais antigo. Ela percebeu que alguém entrara e se virou com lágrimas nos olhos, ao ver Grace ela sorriu levemente.

- - Venha menina, venha. Ela se virou para Hamish e ajeitou a coberta sobre ele. Grace se aproximou e colocou as coisas que trouxera sobre a mesa ao lado da cama. Sra Byrnes apenas observava, e quando Grace se aproximou com a caneca, ajudou a levantar a cabeça de Hamish para que ele tomasse. Ele tentou cuspir, mas ela começou a conversar em galês e ele foi se acalmando.

- Ól mil. Beidh tú ag mothú níos fearr. ( Beba querido, vai se sentir melhor.)

- Tá sé uafásach cosúil leis an diabhal. ( É horrível como o diabo), ele respondeu num sussurro.

Grace e a Sra Byrnes sorriram com a exclamação pouco educada dele. Após tomar todo o liquido da caneca, e mais algumas imprecações, Hamish pareceu se tranquilizar e dormiu profundamente. 

- Então a senhorita entende de ervas? perguntou a Sra Byrnes.

- É Grace, pode me chamar de Grace. E sim, entendo um pouco sim, mas parece que não importa muito, já que tive que fazer tudo isso escondido. Disse Grace abaixando a cabeça desanimada.

- Ora criança, as coisas aqui não são tão simples não é mesmo.

Grace sorriu e balançou a cabeça negando.

- Sabe, quando ele chegou do jantar e foi direto para a cama, estranhei muto, pois ele fica até muito tarde lendo ou trabalhando. Fui de madrugada ao seu quarto e o vi ardendo em febre. Ele se debatia e ficava chamando por alguém, Aonach, ele dizia sem parar. Nunco o vi assim tão frágil, nem quando menino, na verdade, pensando bem, nunca o vi doente.

Grace o observava pensativa, ele a havia chamado assim naquele dia na confeitaria. Achava se tratar de um apelido, mas não conseguia se lembrar da tradução.

- Aonach, perguntou ela, o que significa?

- Bem , a Sra disse passando um pano molhado na testa dele, o condado de Clare, onde a família Callaghan vive, é cercada de penhascos e ilhas. Existe uma lenda, muito antiga, que uma jovem chamada Aonach, filha de um senhor muito rico e poderoso, prometeu a filha a um Viking em troca de misericórdia por suas terras, mas a jovem já amava outro, um rapaz pobre filho do ferreiro. Ela ficou tão desesperada que preferiu morrer a ser vendida para os bárbaros que dizem que ela se jogou de um dos rochedos, mas ninguém encontrou seu corpo, foi reclamado pelo mar. Porém, dizem que ela pode ser vista andando pelas areias da praia, usando apenas um vestido branco com os cabelos negros esvoaçando pelo vento, chamando por seu amado, atormentando os sonhos de qualquer homem que a veja. Na verdade eles a comparam a uma ninfa ou fada.

Grace ouvia a história atentamente, não poderia ser comparada a uma fada ou coisa do tipo, era comum demais, mas ele a chamara assim, e continuava a chamar em seus sonhos. Será que era mesmo ela?

Uma Promessa e Nada maisOnde histórias criam vida. Descubra agora