Capítulo 04 - O Estranho Pássaro

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    Eu estava assustada, não vou negar. Eu estava tremendo igual vara verde de tanto medo.

    Aquelas pessoas estranhas nos arrastaram floresta adentro, e meus pés já começavam a doer de tanto andar quando finalmente chegamos a um pequeno acampamento próximo a um riacho.

    Não passava de um acampamento de ciganos, com umas barracas mal montadas e uma pequena fogueira.

   Me amarraram em uma árvore, e fizeram o mesmo  com Allan, que tentou reagir e acabou levando um soco no rosto. Seu lábio inferior foi cortado.

    Nossos sequestradores estavam conversando entre si às margens do riacho, e eu pude ouvir partes do que diziam:

    — E o que vamos fazer? — A mulher repetiu pela terceira vez. — Eles não podiam estar aqui.

    — Devíamos ter deixado eles irem.

    — Podemos usá-los, eles podem ser úteis. Sabemos que são importantes em Winderwood.

    — E você acha que a mãe dela vai gostar de saber que pegamos a garota?

    — Ela não precisa saber. — Um dos homens disse e todos os demais se calaram. Ele com certeza era importante.

    — Isso é uma péssima ideia. — A mulher disse.

    — E que escolha temos? — O homem perguntou. — Estamos ficando sem tempo.

    — Você sabe que isso pode começar uma guerra. — Um dos outros homens respondeu.

   — Que comece, então.

    Enquanto eles conversavam, eu consegui me livrar das cordas que me prendiam. Depois de tanto tempo usando espartilho, a gente aprende a desfazer nós complicados. Aproveitei a distração deles e liberei Allan. Nós dois começamos a correr na direção oposta o mais rápido que podíamos.

    Corremos por horas. Aquele lugar era imenso. As árvores pareciam todas iguais. Não havia estradas nem conseguíamos ver o céu. Uma névoa fina e úmida atrapalhava mais ainda.
Parecia que estávamos andando em círculos.

     Quando eu já não aguentava mais andar sem chegar a lugar nenhum, me sentei no cão aos pés de uma grande árvores. Minha respiração estava alterada e eu morria de sede. Naquele momento, tudo o que eu queria, era que os nossos perseguidores nós encontrassem e nos levassem de volta para perto daquele riacho de águas tão cristalinas.

    Foi quando alguma coisa acertou a minha cabeça. Era uma semente do tamanho de uma uva. Algo normal no meio de tantas árvores. Só que então outra me acertou, e depois mais outra e mais outra. Olhei para cima com mais atenção para ver de onde vinham tantas sementes, e foi então que eu notei um par de olhos negros que me encaravam.

    No topo de uma das árvores, um animal grande de mais para ser um pássaro olhava para mim e jogou outra semente com suas garras afiadas, que acertou a minha testa e caiu na minha mão.

    Siga-me. Eu ouvi uma voz baixa soar. Olhei ao meu redor e tudo que vi era Allan deitado não chão com as mãos sobre o rosto e a respiração ofegante depois de tanta correria.

    O estranho pássaro então abriu suas asas meio desmanreladas e começou a voar por entre as copas daquelas árvores tão imensas.

    Me levantei com um pulo, e sem tirar os olhos daquele animal estranho, comecei a seguí-lo. Não me pareceu tão estranho na hora. O que podia dar errado afinal? A nossa situação com certeza não podia piorar.

    — Maddie, onde você vai? — Allan perguntou ao perceber que eu me afastava rapidamente.

    — Siga-me. — Eu respondi apenas repetindo o que tinha escutado. Ele se levantou com um pulo e começou a andar ao meu lado.

    — Onde está indo? — Ele perguntou novamente, mas eu o ignorei. Estava muito concentrada em não perder o meu pássaro de vista.

    Percebi que Allan olhou para cima, tentando ver o que atraia tanto a minha atenção, mas em vão. Acho que ele não enchergou um animal tão pequeno no meio de tantas árvores. Ou, apenas não tenha dado importância a uma criatura tão insignificante.

    Eu continuei meu caminho. O pássaro começou a voar mais rápido e mais rápido, e eu precisei correr para não perdê-lo de vista. Allan corria atrás de mim, repentindo uma pergunta ou outra de vez em quando, mas completamente em vão. Eu nem se quer o ouvia.

    Foi quando, depois de alguns minutos correndo atrás do meu misterioso animal, ele passou por detrás de uma árvore enorme e simplesmente desapareceu. Parei onde estava e procurei por todo lado. Ele havia sumido.

    — Como você sabia pra onde ir? — Allan perguntou. Foi então que eu abaixei a cabeça e olhei para ele.

    Ele me olhava com uma mistura de susto, alívio e surpresa, e apontava para um canto mais claro entre as aquelas árvores sombrias. Era a nossa saída.

    Nunca fiquei tão feliz por subir em um cavalo. Não pude deixar de notar que o burrinho da minha mãe não estava mais ali. Talvez ela já tivesse ido embora. Ou talvez alguém tivesse roubado o animal.

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O Crime dos InocentesOnde histórias criam vida. Descubra agora