Não se apaixone

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Conte uma história em que quase não há ninguém, uma em que sentiu estar coberto pelo universo de uma só pessoa. Eu a vi no início das aulas do 6° ano, mas não imaginava que algo poderia surgir dali daquela troca de olhares. Tu estás sozinho, meu caro, um ano se passou – eu me diria – agora era o 7° ano e depois veio o 8° ano. E foi neste último, no ano de 2009, que me apaixonei sem saber.
O tempo não passa rápido, são os bons momentos que encurtam o avanço dos dias. Qualquer uma hora se torna cinco minutos. Senta-te a frente da casa de um amigo, põe-te a conversar sobre as novidades no cinema, sobre os modismos da internet, eis a raiz do tempo se perdendo e tua vida se acelerando.
Lá estávamos, ela e eu, em turmas separadas. De repente apareceu na minha sala, com seus cabelos loiros tingidos e macios, sua feição delicada, seu sorriso amarelado encantador. A partir daquele dia em diante fomos melhores amigos, apesar do coração pedir algo mais e a estupidez da cabeça se iludir com outras coisas.
Quando se está começando a adolescência a mente é um poço raso, incapaz de ir além da infantilidade. Acreditei querer outra pessoa. É mais fácil se apaixonar por alguém que já gostou de ti, mas o que a mente infantil não entende é a natureza do amor de criança, que vem e passa, principalmente quando os hormônios acabam com a lógica das garotas.
É claro, a estupidez te faz cego para quem está te querendo de verdade. No meu caso me cegou e cortou as bolas. Eu a via em todo intervalo, eu a via quando terminaram as aulas. Segurava a sua mão, deixava-a me abraçar, talvez tenha recebido alguns beijos no rosto. Eu a tive e ela me teve, pois se me procurasse lá eu estaria com ela. Os dias em que ela faltava eram os piores. Não me recordo das nossas conversas, mas sei que todas eram especiais.
Claro que nem tudo são flores, e onde alguém não assume propriedade abre portas para novas propostas. A solidão não era mais a mesma, já haviam colegas na minha vida. E, é claro, uma concorrente tão meiga e ansiosa por atenção quanto a outra. Aquele sorriso comprido e os cabelos lisos pretos apaixonariam qualquer um, menos eu. Confesso, meu radar sempre foi meio quebrado para quem gostava de mim.
As piores brigas sempre são aquelas geradas pelo ciúme. Mas eu não sabia que dar atenção para outras iria fazer fúria em alguém que eu via como amiga. Ingenuidade. Cada dia que se passou foi para que o distanciamento acontecesse. Para os pós e contras, mudei de escola e não mais a vi com frequência.
As vezes, quando pensamos que aquele sentimento acabou, de repente ele retorna mais forte. Lembro perfeitamente daqueles cabelos cacheados de cor castanho a caju, da pele branca como porcelana fina, parecia macia como seda. Apaixonei-me mais uma vez para minha desgraça, pois mais tarde descobriria sobre o relacionamento que ela tinha com um cara mais velho. Tive o coração partido pela primeira vez naquele 9° ano.

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