A canção que não para

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Na parte da tarde algumas pessoas resolveram aparecer no museu, mas mesmo tendo alguma coisa para fazer eu permaneço em um estado tedioso e mal-humorada

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Na parte da tarde algumas pessoas resolveram aparecer no museu, mas mesmo tendo alguma coisa para fazer eu permaneço em um estado tedioso e mal-humorada. Matheus não admitiu que estava me pregando uma peça e eu preferi não insistir. Se ele que fazer hora da minha cara, ótimo! Que faça!

Me despeço de alguns visitantes e resolvo dar uma andada lá dentro para ver se alguém precisa de alguma orientação. Na sessão que possui diversos artigos utilizados por soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial havia uma menininha, com a aparência de uns sete anos, que observava um uniforme militar.

Fui em direção a garota, iria perguntar se ela havia se perdido de seu responsável ou se queria alguma ajuda. Ao chegar a alguns passos de distância escuto ela murmurar uma canção. Não demoro a perceber que é a mesma que eu podia jurar que Matheus estava batucando mais cedo. Curiosa, ando mais rápido para chegar até ela.

-Oi mocinha! -digo e ela se vira para mim, me olhando com aqueles olhinhos brilhantes que só criança tem. -Que música legal essa que você está murmurando, qual o nome dela?

-Que música? -ela pergunta com uma voz doce de criança.

Eu respiro fundo e me ajoelho para conversar melhor com ela, esperando que isso não seja maluquice da minha cabeça.

-Foi o tio lá fora que te falou pra me dizer isso? -pergunto.

Ao invés de me responder ela dá de ombros, junta as mãozinhas em frente ao corpo e se vira para o uniforme militar novamente, com os olhinhos cobiçando as medalhas pregadas na lapela.

-Você gostou da roupa? -pergunto e ela dá um aceno exagerado com a cabeça. -Que tal fazermos um trato? Eu te conto uma história sobre os soldados que utilizavam esses uniformes e você me conta qual a música que cantava, ok?

Mais uma vez a menininha não responde, apenas faz aquele irritante gesto de ombros. Respiro fundo e tento não perder a paciência. De vez em quando eu tenho que lidar com algumas crianças difíceis no museu, impedir que elas ultrapassem limites com seus dedinhos nervosos. Essa garotinha não passa nem perto da criança mais bagunceira que já passou por aqui.

-Bom, na época da guerra, muitos soldados tinham medo, os inimigos utilizavam submarinos para afundar navios. Em uma noite os soldados de vigia avistaram um periscópio na água. Eles acharam que era um ataque do inimigo, então atiraram sem rumo na água para tentar se defender do suposto submarino. Mas verdade, era um cardume de doninhas.

-Elas morreram? -ela pergunta e afirmo com a cabeça.

-Chega a ser um pouco engraçado, não?

-É triste.

-É, você tem razão. -digo suspirando. -Então? Vai me contar a música?

-Não tem música nenhuma. -ela responde.

Eu penso em pressiona-la, mas nesse momento a mãe dela chega, as duas tinham se perdido e ela me agradeceu por cuidar da filha. Volto frustrada para a bancada, onde Matheus está arrumando alguns panfletos.

-Não teve graça. -digo fechando a cara para ele.

-Que foi agora, Amanda? -ele pergunta revirando os olhos.

Eu não respondo. A música volta na minha cabeça e se repete de novo. Esfrego meus olhos, tento pensar em outras músicas, mas a canção simplesmente não para. Agora isso era tudo o que me faltava, minha sanidade indo embora.

 Agora isso era tudo o que me faltava, minha sanidade indo embora

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Palavras: 550

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