Paris, 1999
Do outro lado do quarto ele estava me encarando, sua silhueta esguia e forte do lado da janela, era inconfundível. Ele estava calado, mas seus pensamentos sussurravam aos meus ouvidos.
Meu coração estava martelando contra meu peito, quando eu olhava para meu torso desnudo podia vê-lo pulando num ritmo sem fim. Os únicos sons ali, eram do meu coração e da respiração irregular dele.
Meus olhos estavam fixos nos dele, parecia que ele me controlava com seus olhos. Onde ele olhava, eu olhava. Sem querer, era tudo calculado, um único ruído nenhum movimento. Então ele moveu a cabeça tão devagar, que se eu não tivesse quase estático, eu não ia perceber.
Ele estava quase calmo, quase pleno, mas suas mãos o denunciaram. Elas estavam inquietas, ele cutucava as cutículas, torcia os dedos, fazia tudo, menos parar quieto. Era o único movimento que ele fazia, a não ser o ritmo de respiração.- Você me chamou. – falei. – Pediu para eu te encontrar aqui. Por quê?
Ele fez que sim com a cabeça.
- Jaime, nós precisamos conversar, e sério. – ele disse, e eu pude sentir a tensão na sua voz.
Respirei fundo.
Haviam tantas coisas que devíamos conversar, mas tinham mais coisas ainda pelas quais devíamos nos calar.
Eu não queria conversar sobre o que devíamos, pois naquele momento meu cérebro não funcionava racionalmente, assim como meu corpo.
Me aproximei. Um passo, mais um.
Richard não se moveu, mas ele me olhava de uma forma que parecia que ele controlava todo meu corpo, fazendo absolutamente nada. Ele sequer abria a boca para respirar. Naquele momento, a distancia entre nós dois era mínima. Sem eu saber como aconteceu, minha mão subiu e pousou em seu rosto.
Ele estava quente, quente demais. O que fez eu me perguntar se não era eu que estava muito frio, tudo se esquentava perto dele. Até mesmo o inverno poderia virar verão.
- Jaime... – ele sussurrou.
Balancei a cabeça.
Não faça isso. Agora não. Por favor, me deixe sentir isso.
Mas nós precisamos, ele disse.
- Ricky, eu não quero conversar agora. Por favor, agora não. Depois.
Ele fez que sim com a cabeça, ele cedeu.
Meu dedo se arrastou e passou em seus lábios, macios e sedosos. Eles pareciam estar implorando para eu beijálos. E talvez não fossem só eles que estavam pedindo por beijos.
Richard se aproximou e colou nossas testas. Seu hálito quente, sua respiração sobre a minha. Seus lábios colaram nos meus, um selar rápido. Mas pareceu ter durado uma eternidade. Depois de alguns segundos, ele se afastou de mim.
- Sabe que isso é um problema, não é? Isso muda tudo sobre mim e sobre você. – ele disse. – Me diz, o que a gente faz?
A gente foge. A gente muda o nome. A gente vai embora daqui.
Suspirei.
Nós éramos um assunto complicado. Muito complexo para nossa cabeça. Principalmente para a minha, eu ainda não tinha tido nada como aquilo antes. Afinal, eu só tinha 17 anos. Era tudo novo e eu não sabia como tratar aquilo.
- Ricky, eu não sei. – falei. – Eu não sei lidar com isso. A complexidade do que eu sinto por você é muito para minha cabeça, e eu acho que até para a sua. Eu só acho que devemos fazer, sentir isso antes que você vá embora, pois você sabe que não vai mais voltar, não para mim.
Ele dirigiu seu olhar para baixo.
Eu sei disso. Eu queria poder evitar, ele disse.
Ele sabia que eu estava certo. Sabia que tudo aquilo se tratava de um amor de verão. Era coisa rápida, mas parecia que meu coração não se sentia da mesma forma que meu cérebro. E o que mais me machucava era saber que ele estava indo embora e eu não podia fazer absolutamente nada.
- Eu sei. – ele disse baixo. – Isso dificulta tudo, porque o que eu sinto por você – ele pega minha mão e coloca sobre o peito dele. - , não é algo passageiro. Eu sei que vai durar um bom tempo. Não vai acabar mesmo quando eu for embora, tudo vai ser a mesma coisa no meu coração.
Ficamos em silêncio. Então olhei o mais fundo que consegui.- Eu não estou afim de pensar nisso tudo agora. Eu só quero ficar aqui, passar esta ultima noite com você. – sussurrei.
Seus lábios tocaram os meus, era uma sensação quase esquecida. Mas dentro da minha cabeça estava gravado que eu já conhecia aqueles lábios. Eu me lembrava muito bem de quando o beijei debaixo daquelas árvores, enquanto ventava forte e não tinha sol. Aquilo aconteceu quatro semanas depois que ele chegou.
O primeiro dia que eu vi ele, ficou gravado como uma tatuagem. Ele me encarou e sorriu, disse que eu tinha crescido. Por alguns dias eu fiquei com raiva, mas depois ele não saiu da minha cabeça.
Senti sua mão ao redor da minha cintura, seus dedos apertaram minha pele, e mesmo depois de ele ter tirado a mão dali e ter colocado em meus cabelos, eu ainda sentia seu toque quente. O que eu mais quis durante dias foi seu toque, e agora eu tinha. Seu toque, sua emoção, mas não por muito tempo.
Eu estava a mercê dele, tudo que ele quisesse eu daria. Meu corpo, meu coração – o qual já era dele -, até mesmo minha alma. Era tudo dele e ele parecia não saber, ou talvez ele soubesse e não demonstrava.
- Há coisas que precisam serem ditas. – ele disse baixo. – Mas antes, há coisas que necessitam serem feitas.
E eu preciso fazer amor com você, senão vou desmoronar aqui agora mesmo.
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Genius
RomanceJaime conhece Richard, filho de um amigo de seu pai, no começo das férias de verão de ambos. Uma irritação instantânea da parte de Jaime faz com que aquele novo hóspede, por mais indesejado que seja, seja seu divisor de águas. A mudança de comportam...