Treze

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Não parecia certo eu me sentir daquela forma, mas ao mesmo tempo parecia tão certo eu me sentir tão mal. Era como se a dor que eu estivesse sentindo me fizesse sentir vivo e um péssimo exemplo da humanidade ao mesmo tempo.
Sinceramente, eu me sentia mal, muito mal. Da forma mais verdadeira possível, Richard tinha levado uma pequena parte do meu coração. Eu precisava dela de volta, ou dele. Ambos tinham o mesmo efeito.
Uma crescente dor se instalava dentro do meu peito sempre que eu via a cena de Richard se despedindo, na minha cabeça.
Era como um filme dramático que nunca acabava. Reprisava a vida toda até eu morrer. Até minha alma morrer, até o que tinha sobrado do meu coração morrer.  Como se eu tivesse morrido, ido para o inferno e somente aquela cena estivesse se repetindo, um filme único.
Quando entrei dentro daquela banheira me afundei e desejei que aquilo tudo não tivesse passado de um sonho ruim que minha cabeça tinha inventado para combater meu medo de ficar sozinho. Mas quando fiz aquilo meu pensamento foi em uma pessoa específica. Leila.
Será que ela tinha se sentido daquela forma? Sozinha? Vazia?  Morta por dentro? Provavelmente.
Alguns minutos depois eu abri os olhos e me deparei com tudo aquilo que eu mais tinha medo, o que eu mais temia. A partida dele.
Richard tinha ido embora.
Eu o amava.
Não conseguia fazer outra coisa a não ser lembrar da cena dele dizendo adeus para mim. A cena dele indo bora sem olhar para trás, como eu pedi. A cena de ver ele passando por aquele portão e saber que eu não o veria mais. O avião decolando e se tornando somente um pontinho quase inexistente.
Eu o amava.
Eu queria morrer.
Na minha cabeça era ridículo, era ridículo o fato de eu querer morrer simplesmente por que Richard tinha me deixado. Mas meu coração não achava isso, ele achava completamente prudente eu me sentir mal, eu odiava meu coração.
Quando eu disse que nunca me esqueceria dele, era somente um pedido silencioso para que ele não me deixasse um pedido silencioso para que ele me levasse com ele, para que se ele me amasse ele não me deixaria ali. Mas ao contrário eu disse que não esqueceria ele. Pura verdade. Nem em um milhão de anos eu poderia esquecer quem foi e o que Richard Harper fez na minha vida.
Lembro-me do beijo, mas não me lembro de ter dito a verdade. A verdade? Eu o amava da forma que nunca imaginei que poderia amar alguém. Pois ele não foi somente Richard, um amor de verão. Ele foi Richard, tudo para mim. O amor de verão que duraria no outono, inverno, primavera.
Ele tinha quebrado minha constância com sua inconstância. Eu o agradecia verdadeiramente por aquilo, pois ele mudou todas as certezas que eu tive. Ele derrubou o muro de insegurança que eu tinha construído ao meu redor.
Mas eu entendia.
Todo começo tinha um fim. Meu começo com Richard teve seu fim.
Eu entendia... Um pouco. Não tanto.
Richard não era meu, na verdade ele nunca tinha sido e nunca seria. Mas eu era dele, e disso eu sabia. Eu pertencia a ele, por inteiro.
Eu... Eu não sabia. Mas talvez sim, eu pertencesse a ele de uma forma tão irreal, que ele tinha ido e levado a parte viva de mim.
Por que ele tinha que me deixar? Ele não podia ao menos esperar eu ser mais feliz?
Ok. Certo.
Eu tinha que respirar, mas antes eu tinha que sair debaixo da água.
Era aquilo que Richard fazia, ele me fazia esquecer de respirar. Talvez ele tenha feito eu me esquecer de tudo, pois com ele eu tinha aprendido tudo de mais sagrado. Mesmo sem perceber, ele tinha me ensinado o amor.

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- Você está bem filho? – mamãe perguntou.
Levantei os olhos da minha sopa e olhei para ela.
Como se não fosse óbvio. Meus olhos estavam vermelhos, e eu preferiria mil vezes que o efeito daquilo tivesse sido a maconha, e não Richard. Mas o efeito era Richard. Vinte cinco mil vezes mais potente do que qualquer droga que eu conhecia.
Ele me deixou feliz, triste, com raiva e com tesão. Tudo ao mesmo tempo numa bagunça desgraçada dentro do mim. Filho da puta.
- Nem um pouco. – respondi com naturalidade.
Mamãe olhou  para mim como quem olhava para um cachorro com a perna quebrada. Droga, até eu sentia dó de mim.
- Isso vai passar. – ela disse.
Sim, no dia da minha morte.
Dei uma risada seca, um som cortante, quase metálico.
- É mãe, tudo passa. – falei com descaso.
Não era que eu queria tratar minha mãe mau, ela não tinha culpa de que todos os amores que eu tive, foram mal resolvidos.
Eu só queria parar.
De falar, de chorar, de sorrir, de amar ele, de respirar.
Muitas dessas coisas eu morreria se parasse de fazer, principalmente amar ele. Mas fazê-lo surtia o mesmo. Aquela vontade imensa de desaparecer.


Tentei não entrar em colapso, mas eu não conseguia, e a única maneira de fazer aquilo era esfriar a cabeça.
Eu só conseguiria fazer isso quando as garotas conseguiram enfiar um litro de vodka goela a baixo em mim. Com sorte eu teria um coma alcoólico e esqueceria de tudo que eu queria apagar do meu coração.
Mas o filho da puta escreveu seu nome com uma tinta que não saía nem a base de ácido. Ele colocou seu nome numa caixinha no meu cérebro e soldou.
Desgraçado.
Naquela noite de bebedeira eu não me lembro de ter beijado ninguém. Mesmo não querendo admitir, ele ainda era dono de mim. Queria enfiar o máximo de álcool que meu corpo conseguisse. O máximo de coisas que me fizessem esquecer que ele sequer existiu.
- Você vai seguir em frente. – Marrie disse. – Você sempre supera. Isso não é nada demais. Tudo bem, a vida é assim.
Eu ri para esconder o que realmente se passava. Era verdade. Eu sempre superava, mas não tinha como superar alguém como ele. Da mesma forma que só um gênio conseguia amar ele, somente um gênio saberia como arrancar ele das minhas entranhas.
- Isso é verdade. – falei.

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Minha primeira ressaca sem ele.
Quando me sentei naquela meã e não vi ele sentado perto de mim, minha vontade foi de voltar a noite passada e fazer o possível para que eu entrasse em um coma alcoólico.
Talvez não fosse tão ruim. 
Tomei meu café da manha quieto. Não falei nada com papai que estava na mesa. Richard não estava do outro lado da mesa me encarando por trás de seus óculos escuros. Não estaria mais.
Quando me levantei notei que mamãe me encarava da janela da cozinha, assim como ele fazia. Mas claro que eu não me senti da mesma forma, pois não era a mesma intensidade, não era ele.
Me levantei da mesa e saí caminhando.
Deixei que meus pés me levassem onde meu coração queria e meu cérebro repudiava.
Aquela grama ainda estava cortada da mesma forma, o céu ainda estava lindo da mesma maneira. Estava ventando, a grama estava quentinha da mesma forma.
Só estava faltando um pequeno detalhe.


Não me lembro de quanto tempo chorei.  A única coisa que me lembro é que quando eu sequei minha última lágrima, o céu estava escurecendo.
Percebi que seria um ciclo vicioso. Acordar, chorar, comer, chorar, dormir. Meu ciclo seria aquele até o dia em que eu conseguisse tirar ele de mim.
Nunca.

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