Vinte e Cinco

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O FIM

              "Começamos com
                  sinceridade, vamos
                    terminar assim também"
                      ( Ana Suptitz)






Três anos depois...
2015

Meus olhos se fixaram naquela mesa do fundo.
Meu coração pulou e eu perdi a voz. Perdi os sentidos e minha mente girou. Meus ouvidos zumbiam. Minhas pernas ficaram paradas no meio do café, minhas mãos estavam tremendo e quase derramei o café em minha mão.
Era ele.
Ele estava lá. Bebendo seu café forte e comendo um croissant. Tinha um livro em sua mão e o café na outra. Ele estava lendo meu livro, e eu estava quase desmaiando. O mundo parou ao meu redor.
Tudo parou e foi como se voltasse para aquele dia, o dia em que eu o conheci. O dia em que tudo mudou e que eu percebi que um segundo podia mudar tudo em nossa vida.
Parecia que ele sentia que eu estava olhando para ele, pois ele levantou seu olhar para mim e fez a mesma coisa que eu. Ele congelou com o café a caminho da boca, então ele voltou o café para a mesa e simplesmente olhou para mim.
É você?, foi o que ele perguntou.
Mas ele ainda estava incrédulo. Ele estava imaginando como eu imaginei nós últimos anos, que era somente um fantasma e que nada daquilo era real. Mas eu falei com ele, eu olhei em seus olhos castanhos pela primeira vez em quinze anos. E eu respondi.
Sim, sou eu.
E foi naquele mísero segundo de merda que eu entendi tudo. Foi naquele segundo de merda que eu percebi que a morte de Lucas e o divórcio com  Evan eram somente meios. Eram somente um caminho diferente que me levava a ele.
Todas as noites que eu chorei até pegar no sino. Todas as noites que eu o amaldiçoei por tê-lo conhecido, simplesmente se tornaram nada. Nada a não ser um teste.
Um teste para saber o quanto eu demoraria para perceber que um dia eu o encontraria. Que um dia ele estaria de volta e comigo. Para perceber que quando algo é seu, ele volta.
Jaime. – ele disse sem emitir som.
Mas eu conseguia ouvir o som da sua voz na minha cabeça. Eu conseguia ouvir tudo. Os seus batimentos, os meus, sua respiração quase ofegante. O som dele batucando os dedos nervosos em cima do tampo da mesa de vidro.
Minha alma quase derreteu e saiu do meu corpo. Por que... Meu Deus, aquele era ele. Era realmente ele. Não era uma alucinação causada pelo café forte que eu vinha tomando nos últimos dias.
- Richard. – falei também sem sair som.
Eu queria andar até ele, mas minhas pernas bambas não queriam andar, e eu achei melhor não forçar para não cair. Por ele eu sempre caía. Não importava onde, não importava quando. Eu sempre cairia por ele. Mas a pergunta que não saía da minha cabeça era, ele caía por mim também?
Ele se levantou e veio até mim.
E ele era o mesmo Richard de quinze anos atrás. Os mesmos olhos, o mesmo cabelo, o mesmo corpo, a mesma boca. Ele só carregava alguns sinais do tempo no canto dos olhos e na testa. Mas ele ainda era o mesmo universitário de férias, para mim. Ele nunca mudou, como um fantasma. 
E ele estava com os braços ao meu redor. E o perfume dele estava entrando em meu nariz. E eu podia ouvir as batidas do coração dele, retumbante como o meu. E sua voz estava falando em meu ouvido o quanto ele sentiu minha falta. E eu abracei ele de volta. E as lágrimas desceram pelo meu rosto.
Quando? Quando que eu imaginei que um dia aquilo voltaria a acontecer? Quando? Quando que eu imaginei que dentro de alguns anos ele estaria com os braços ao meu redor e tudo ficaria bem? Quando?
- Quinze anos... – ele sussurrou em meu ouvido. – Quinze anos sem você, Jaime. 
Quinze anos, duas semanas, três dias, cinco horas, quatorze minutos e cinco segundos. – sussurrei. Por quê sim, eu tinha contado cada maldito segundo.
Ele se afastou de mim e olhou em meus olhos.
Os seus estavam marejados, mas eu conhecia seus sinais. Engolindo em seco. Mãos nervosas. Sorriso fraco. Ele estava nervoso e controlando para não chorar. Eu ainda conhecia meu Richard.
Meu Richard. 
- Podemos sair daqui para conversar? – ele perguntou.
Fiz que sim.
Ele foi em sua mesa e pegou suas coisas, deixando algumas notas de dinheiro jogadas sobre a mesa e saiu, ele foi na frente. Eu estava com medo de cair, minhas pernas ainda estavam bambas. 

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