Estava escorado na moto, que pelo que eu podia perceber, ele tinha trocado. Sua jaqueta estava quase apertada, ele com certeza estava malhando mais. Pelo que eu podia ver, ele não tinha mudado muito, a não ser alguns centímetros mais alto.
Os olhos azuis, o cabelo loiro cortado de uma forma diferente. O rosto magro e angulado, seu maxilar estava travado, as bochechas mais salientes. Ele estava bonito, e na verdade, ele sempre fora.
Até mesmo velho, ele seria o tipo de cinquentão que faria com que adolescentes caíssem aos seus pés. Mas o incrível era que mesmo parecendo um homem, eu ainda era mais velho que ele.
Quando ele me viu, abriu um lindo sorriso. Ele era lindo para caralho quando sorria, e o pior é que ele sabia.
Canalha desprezível.
- Ei. – ele disse.
Eu sorri.
Ele correu ao meu encontro, mas eu fiquei ali parado esperando ele vir me abraçar. Ele me abraçou e me apertou forte, seu cheiro era o mesmo. Era marcante mas não tão forte, era um tipo de amadeirado que se dava prazer em sentir.
- Senti sua falta. – ele disse. Dei um pequeno beijo em sua bochecha, rocei sua barba por fazer com meus lábios. Uma sensação esquecida a um tempo.
- Também senti sua falta.
Separamos-nos e eu pude olhá-lo de perto. Ele parecia um tipo de deus grego, mas parecia que só eu sabia.
- Você não mudou nada. – falei.
Ele levantou a sobrancelha.
- Isso é bom? – perguntou.
Você sabe que sim, seu canalha.
Ele ainda era o mesmo, não sabia aceitar elogios, ainda mais quando se tratava de meus elogios.
- Claro que é. – falei. – Continua bonito, pelo jeito anda malhando mais ainda, e o principal é que você ainda não sabe reagir aos meus elogios.
Ele soltou uma gargalhada.
- Eu mudei algumas coisinhas que, bom, talvez você goste. – ele disse.
Lucas era sempre cheio de surpresas. Ele sempre tinha alguma novidade, como da ultima vez uma moto. Ou talvez ter sido preso por dirigi-la bêbado, e ter ficado um tempo extra na cadeia por ter xingado o guarda.
Ou seus terríveis bolos de maconha – era gostosos, mas me tirava do ar por dias.
Enquanto eu o observava, ele tirava sua jaqueta de couro. Então seus braços fortes ficaram descobertos, não totalmente. E uau, se eu tivesse mais saliva na boca com certeza eu teria babado.
Ele tinha dezenas de tatuagens, por todos os seus dois braços. Era lindo, parecia um mapa antigo, cheio de desenhos e cores. Aproximei-me e vi mais de perto. Num braço, havia uma espécie de roseira. Com seus ramos atravessando por toda a extensão de seu braço. Rosas vermelhas e espinhos.
No outro braço, uma caveira colorida. Uma caveira mexicana, da forma que eu tinha lhe dito que eu achava lindo. As cores vibrantes contrastavam com sua pele clara.
- Uau. – suspirei.
Quando olhei para ele, ele estava sorrindo.
- Gostou? – ele perguntou.
Fiz que sim com a cabeça.
- Elas são... Lindas. Perfeitas, e isso deve ter doído para um caralho.
Ele deu um passo, quase colou seu corpo no meu. Lucas sempre fazia aquilo, ele avançava mais da metade do caminho e esperava eu avançar o resto, mas naquele momento eu não fiz aquilo.
- Tem mais um que você vai adorar. – ele disse no meu ouvido.
Afastei-me e olhei em seus olhos.
- Deixe-me vê-la. – pedi.
Então ele se afastou, jogou sua jaqueta na moto, então ele começou a tirar sua camisa. Por alguns segundos eu pensei que ele estava brincando, mas quando ele tirou toda a camisa. Eu tive certeza que ele não estava brincando.
Antes que eu pudesse registrar o que eu estava vendo ou pudesse guardar aquela imagem na minha cabeça, ele virou de costas.
Uma tatuagem cobria suas omoplatas e a maioria das suas costas. Eram asas de anjo, que chegava até seus braços. Parecia real, tive que tocá-las para ter certeza de que não era. Pousei minha mão sobre sua pele quente e desci até sua espinha. Ele se arrepiou e eu senti.
- Lucas... É lindo. – falei. – Parece real.
Ouvi sua risada, ele se virou para mim e eu me esforcei para encarar somente seu rosto. Não é muito fácil, mas se eu olhasse para baixo, tinha certeza que seria mais difícil tirar meus olhos dali ou me concentrar em alguma coisa depois daquilo.
Sua barba estava começando a crescer, seus dentes quase perfeitos, sua covinha nas duas bochechas. De certa forma ainda parecia que ainda éramos duas crianças aprendendo sobre o que gostavam. Não éramos crianças mais, mas também não éramos tão adultos. Estávamos na idade de fazer merda e não ligar.
- Que bom que gostou. – ele disse. – Quando fiz pensei em você, sempre disse que queria fazer uma.
Afastei-me um pouco, aquela proximidade entre nós, depois de tanto tempo sem nos vermos, certamente não era boa. E ele sabia, mas ele sempre gostou de me provocar, ele fazia porque sabia que eu reagia a todas suas provocações. Eu não me orgulhava de ser tão fraco quando se tratava dele.
Quando ele percebeu, colocou a mão no meu rosto e sorriu.
- Ei, não vou te morder. - ele disse. – A menos que você peça.
Coloquei minha mão na sua e sorri de lado.
- Que bom então que você não vai virar um canibal e me morder. – falei.- Mas eu acho melhor você vestir sua camisa de volta. Mal chegou e já está querendo causar?
Ele pegou a camiseta, olhou para cima, depois para mim e sorriu.
- O que foi? – perguntei.
Quando ele terminou de vestir a camiseta, me olhou de cima a baixo.
- O que você estava fazendo antes de eu chegar?
Não podia ser possível.
Richard. Lucas.
Lucas. Richard.
Meu psicológico estava acabado. Eu não sabia qual deles era pior para minha cabeça.
- Ajudando Richard a escrever. – entendi o olhar de Lucas. – Ele é filho do Robert, veio passar as férias aqui em casa.
Ele sorriu, passou a mão nos cabelos, olhou para cima e me encarou de volta. Eu já estava começando a ficar nervoso com aquilo.
- Por um acaso, esse cara que você está falando, é o mesmo que esta fingindo ler para nos vigiar da janela? – Lucas falou rindo.
Meu coração parou.
Virei-me rapidamente olhei para a janela do quarto que ele estava ficando. Ele realmente estava lá. Com o mesmo caderno e caneta na mão. Ele olhava para mim no momento em que eu virei.
Que porra? Me vigiando?
Vai se foder, Jaime.
Quando ele me viu, fechou o rosto e saiu da janela.
Eu não entendia o motivo de ele estar me vigiando. Ele não tinha motivo algum para fazer aquilo.
Olhei para Lucas e ele estava rindo, não sabia se era de mim ou da situação. Eu também ri, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde aquilo ia ficar na minha cabeça e iria me atormentar até eu descobrir o motivo de Richard estar me olhando de longe. Parecia coisa de maníaco.
- Quer saber? – Lucas disse. – Eu e você vamos dar uma volta.
Levantei a sobrancelha.
- Onde vamos?
Ele colocou a jaqueta, montou na moto e olhou para mim.
- Não confia em mim? – ele perguntou.
Confiei até demais.
Sorri. E ele tinha duvidas de que eu confiava nele? Ele estava em praticamente todas as coisas da minha lista.
- Vou colocar meus all stars. – falei.
Corri para dentro de casa, sentei na minha cama e coloquei meus sapatos. Troquei a camisa também, vesti uma blusa preta de mangas compridas
Quando saí do quarto, dei de cara com Richard, ele me olhou de cima a baixo e não disse nada. Eu acenei com a cabeça e saiu da sua frente, não tive coragem o suficiente para olhar para trás. Eu imaginava que Richard tinha feito o mesmo.
Montei na garupa da moto, passei meus braços ao redor de Lucas e ele acelerou a moto. Eu senti saudade daquilo. De quando ele acelerava a moto, meus cabelos iam ao vento e eu me sentia livre.
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Genius
RomanceJaime conhece Richard, filho de um amigo de seu pai, no começo das férias de verão de ambos. Uma irritação instantânea da parte de Jaime faz com que aquele novo hóspede, por mais indesejado que seja, seja seu divisor de águas. A mudança de comportam...