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Raios de sol ofuscante atingiram meu rosto me despertando, o odor veio logo depois, meio doce meio salgado, fazendo meu estômago revirar antes mesmo que eu pudesse compreender o que acontecia.
Eu fiquei cega ao abrir meus olhos e a claridade inundar minha visão e a mera movimentação do meu braço para impedir toda àquela luz fez meu corpo inteiro retesar de dor.
Quando finalmente pude enxergar o meu redor com qualidade percebi que acima da minha cabeça pairava um cortinado azul-céu, bordado com algumas flores e plantas, ele era apoiado em um dossel de metal branco que adornava a cama... Mas... eu não tinha dossel nenhum... ou uma cama tão grande cheia de lençóis e travesseiros... ou janelas maiores que portas.

Essa não é minha cama.

Essa não é minha casa.

Levei pelo menos um minuto inteiro, deitada naquela cama enorme, em choque,  para me recordar de quem eu era, de onde estava e o que tinha acontecido...e então as lembranças vieram, flashes de uma perseguição, de sangue, de vidros estilhaçados, de uma risada maligna e de asas negras...  Toda aquela avalanche de memórias, que mais pareciam um pesadelo, me sobressaltaram e eu sentei em um pulo para trás, batendo no encosto da cama. Meu braço esquerdo latejou tão forte que eu arfei com a dor apertando meus olhos de tal forma que lágrimas começaram a se formar nos cantos.

Se eu tivesse levado um tapa seria menos desnorteador.

—  Calma, criança. Você vai acabar abrindo essa ferida se não se acalmar.— A voz baixa  ondulou pelo quarto. 

Olhei imediatamente para a direção que ela veio. E vi, sentada em um sofá de dois lugares azul marinho, uma mulher olhando diretamente para mim com uma taça de vinho na mão. Aquele mesmo instinto da noite passada pareceu rugir para que eu fugisse. Me encolhi contra a cabeceira da cama. A mulher, branca mas com a pele levemente bronzeada, trajando calças e um blusinha de mangas longas de... chiffon? Em cores cinzas e preto, o único ponto de cor em seu corpo era o enorme colar de pedras vermelho sangue, se levantou e veio em minha direção com passos resolutos e leves. Ela era baixa, tinha os cabelos negros como os meus, cortados em diagonal acima de seus ombros, e da cada lado da sua cabeça despontava orelhas... Deuses.. orelhas de elfo.

Mas nada era tão aterrador quanto seus olhos... levemente puxados e de uma cor acinzentada... era como se uma águia estivesse me vigiando 

O modo como ela andava, o seu olhar atento... aquela mulher era como uma lâmina afiada. Eu não escaparia dali viva nem em sonho. Algo, no entanto, era estranhamente familiar.

—  Q-quem é você? — Minha voz sai em sussurro fraco. Eu não me lembro de ter gritado, então porque minha garganta dói tanto? A mulher parece ter percebido porque foi até a mesinha da cabeceira e colocou água em um copo, me entregando em seguida. Eu tenho quase certeza como aquela jarra de água não estava ali antes, mas aceitei.

— Me chamo Amren.— Quase cuspi a água. — A curandeira disse que o tônico poderia deixar a garganta seca.
Repassei o nome na minha cabeça diversas vezes, ficando mais confusa a cada segundo. Não tinha como isso estar acontecendo. Tenho que estar sonhando. Precisa ser um sonho.
Ela se aproximou de mim e pediu meu braço com apenas um olhar. Uma mulher que estava acostumada a ser obedecida com apenas um reflexo. Amren retirou a bandagem para verificar a ferida. O corte estava limpo, mas ao redor a pele era avermelhada. O que mais me surpreendeu foi em como ele já estava quase inteiramente fechado, ontem parecia estar a um milésimo de encostar no osso... Como? Na hora que Amren encostou em meu braço eu me encolhi com a dor.  

Não deveria doer em um sonho, certo?

—  Está quase sarado... interessante— Ela falou e em um segundo sua atitude mudou— Seu cheiro é estranho menina. — Suas narinas se dilataram delicadamente e um estremecimento atingiu minha coluna. Se essa for a Amren que eu penso que é, então ela deve estar sentindo até as camadas mais sujas de minha pele. 

Corte De Memórias E ComeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora