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Casas de mármore, com chaminés que expulsavam fumaça para o céu, com jardins que começavam a florescer, nada igual ao que eu havia acabado de ver, ladeavam a rua inclinada, de onde eu podia ver outros telhados já que a cidade inteira era construída na encosta de uma montanha. Bem na base da montanha o sidra corria até desaguar no mar. O céu azul e límpido contrastava com o intenso safira do mar...tão aberto, tão...livre e tão diferente do céu nebuloso e do ar opressor que eu estava acostumada.

Inspirei a brisa de sal e limão, e por um momento eu fechei meus olhos e deixei que aquele ar purificasse meus pulmões, purificasse a mim.

Quando voltei a abrir meus olhos, senti os olhos de Aedan em mim, como era possível que eu estivesse tão consciente sobre alguém.

Olhei para ele com a sobrancelha erguida em uma indagação silenciosa. Ele negou com a cabeça e começou a andar e eu o segui.

E então eu os vi.

Feéricos, em sua maioria eram Grão-feéricos, parecidos comigo porém com as orelhas levemente pontudas, enquanto alguns poucos tinham peles tão finas que quase se podia ver o interior de seus corpos, ou tinham a pele de casca de árvore como Alis, uns altos e humanoides e outros...bom, não eram. Todos tão alegres... vívidos.  Eram lindos, em todas as suas formas e cores, e aquele medo que achei que sentiria era aplacado pelo encanto que eu presenciava.

Andavam despreocupados, alguns acenavam para o futuro grão-senhor e outros faziam pequenas reverências com a cabeça.

— Já vai começar a gritar e começar a correr de volta para casa? — Aedan falou baixo, seu tom debochado não passou despercebido.

— Se olhar para você não me assusta — falei enquanto gesticulava com a mão para seu rosto— eles é que não conseguiriam. — cochichei de volta com tom divertido.

Ele parou de andar, com a mão no peito e uma expressão dramaticamente perplexa. O retrato da incredulidade.

— Assim você parte meu sensível coração, minha cara Dália —

Olhei para ele com zombaria

— Já pensou em desistir de tudo e ir trabalhar como ator? — perguntei, e a gargalhada inesperada que saiu dele me deu uma estranha sensação de contentamento, que deixei de lado logo após.

Continuamos andando rua a baixo, o frio do fim do inverno fazia meu nariz gelar, fora a isso eu estava bem agasalhada com uma calça marrom quentinha, uma blusa de gola alta preta e mangas longas e um blazer preto por cima, nos pés botas pretas de couro.

Nunca me acostumaria com a sofisticação daquelas pessoas.

Uma vez moletom, sempre moletom.

— Afinal de contas para onde você está me levando? — questionei.

— Tendo em vista que você não tomou café ainda, a estou levando para comer. — Ele falou, enquanto acenava e dava sorrisos calorosos para os cidadãos. Ele amava seu povo assim como seu povo o amava. Era tão certo quanto um mais um são dois.

—Deuses acima, essa foi a melhor coisa que você disse pra mim desde que eu cheguei — Sim, eu estava com fome, muita fome e eu podia me permitir um pouco de drama também.

Conforme caminhávamos eu conseguia ver as velas brancas de navios ancorados no porto, ouvir o burburinho de trabalhadores ao longe e o grasnar dos pássaros no céu. Foi seguindo o movimento de um que me deparei com as muralhas da cidade. Eram colossais.

Picos afiados de uma cadeia de montanhas que guardavam um dos lados do sidra, no outro lado a muralha continuava com seu topo plano e avermelhado e atrás de mim... imensas montanhas que pareciam dormir... mas a sensação é de que elas estavam olhando, guardando.

Corte De Memórias E ComeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora