Capítulo 5

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LEON

- O que está lendo? - Margery se aproxima de mim, assustando-me um pouco.

Fecho o livro, cruzo as pernas e mordo o lábio inferior antes de dizer:

- Sabia que uma das luas de Saturno se chama Phoebe? 

- Não - ela se senta na poltrona de frente para a minha - Nem que você se interessava por esses assuntos. 

Dou de ombros e volto a abrir o livro. 

Eu não me interessava. 

Mas quando conheci Phoebe - a garota, não a lua - e a maneira apaixonada com a qual ela me contava os segredos do universo, eu simplesmente desejei saber mais. Porém, quando sua prima Portia nos encontrou no terraço naquela noite, levando-a embora consigo, eu não tive tempo para saber mais sobre ela. E agora eu não sabia como encontrar essa garota de novo e pedir que ela me contasse mais sobre as estrelas. 

Por isso eu estava sentado na biblioteca da casa dos meus pais lendo um livro sobre as luas de Saturno. Há mais de uma semana me perguntando sobre essa garota que tinha nome de lua, buscando qualquer coisa que me conectasse novamente àquela sensação de novidade que ela trouxera para minha vida. Como a grama verde e fresca após as últimas geadas do inverno. 

- Está animado com o jantar de hoje? Soube que será uma ótima oportunidade de negócio para sua família - Margery diz retirando minha atenção do livro. 

Por um momento havia me esquecido do jantar. Sim, algo com comerciantes da Alemanha, acho. Um acordo interessante para retomarmos nossos negócios com eles após a guerra, mesmo que tecnicamente seja ilegal. Embora, se não estou enganado, a família é de ascendência alemã, não alemães propriamente ditos. Não consigo me lembrar o nome deles e sei que deveria pois, como Margery disse, é uma ótima oportunidade de negócio para os Hayes. 

Confiro o relógio de bolso que marca 16h, talvez eu devesse me retirar para meu quarto para me aprontar. 

- Com licença, Margery. Acho que estou um pouco atrasado para me preparar para esse jantar. 

Ela sorri e se levanta educadamente, cumprimentando-me com um meneio quando saio da biblioteca em direção ao meu quarto. 

Peço para as criadas esquentarem água para um banho e separo meu terno e camisa já engomados. 

Estou fazendo minha barba quando começo a ouvir o burburinho no andar de baixo. Droga, vou me atrasar e meu pai não irá me perdoar por esse erro estúpido. Termino de me vestir rapidamente e desço as escadas em direção ao hall. Felizmente, os convidados acabaram de chegar. 

- Que bom que nos deu o prazer de sua presença, Leon - meu pai me diz fuzilando-me com o olhar. 

- Perdão, pai, estava entretido com um livro e perdi a hora. 

- Ainda bem que o lembrei do jantar, senhor Hayes - Margery diz se aproximando e passando a mão pelo meu braço. 

- Ainda bem que será a esposa desse desmiolado, Margery - minha mãe fala sem humor enquanto meu pai dá um passo a frente assim que os convidados entram no nosso hall.

E é aí que a vejo. 

Os cabelos escuros perfeitamente penteados, um adorno brilhante em sua testa. Os olhos verdes de Phoebe cintilam quando ela me vê e sinto que estou me afogando em meu próprio estômago. 

- Ah, senhor Mann - meu pai saúda o visitante de braços abertos - Muito bem vindo a nossa casa. Por favor conheça minha adorável esposa, Lilia - ele aponta para minha mãe, que estende a mão para que o senhor Mann a beije - E meu filho, Leon, e sua futura esposa Margery. 

O senhor Mann nos cumprimenta e passa a apresentar seu próprio grupo. 

- E esta é minha filha, Phoebe - ela estende a mão e eu a seguro beijando-lhe. 

Estou olhando para Phoebe e ela cora levemente e, mais uma vez, sinto que meu estômago cavou um buraco para se enterrar.

O jantar se passa de maneira agradável. O senhor Mann e meu pai discutem sobre os negócios das famílias e fecham um acordo que parece interessante a ambos. Logo estamos sentados na sala, meu pai e o senhor Mann fumando charutos e Phoebe conversa de maneira educada com minha mãe. Há algo em seu jeito suave e gentil que me fascina e, de repente, quero muito perguntar se ela sabe que existe uma lua com seu nome. Mas com certeza ela sabe, não é? 

Então ela e Margery começam a falar sobre seus planos. E Margery está falando sobre como estaremos casados no próximo ano e eu nunca quis tanto que ela ficasse quieta. 

- Bom, no próximo ano eu estarei na universidade - Phoebe diz bebericando sua taça. 

- Universidade? - Margery ri - Acha apropriado uma mulher ir para a universidade? Ainda mais sem estar casada? 

Phoebe ergue uma sobrancelha e sinto que fuzila Margery com o olhar. 

- E por que não seria?

- Bem...

- O que irá estudar? - interrompo Margery. 

Phoebe vira o olhar para mim e sorri. 

- Astronomia, senhor Hayes. 

E eu quero dizer: é claro, é claro que você estudaria astronomia. 

- Deve, portanto, saber que uma das luas de Saturno também se chama Phoebe. Receio ter feito essa descoberta em um livro hoje pela manhã.

- Ah, sim. Ou, bem, sabe, Phoebe como em Shakespeare - ela diz se inclinando levemente em minha direção, como se estivesse me confidenciando um segredo. 

E mais uma vez meu estômago dá saltos em minha barriga e eu estou girando em direção a essa mulher.  

Após um tempo, Margery e minha mãe encontram-se numa conversa entusiasmada sobre nosso casamento. Procuro por Phoebe, mas ela se retirou e observa um mapa na parede. Aproximo-me dela de maneira silenciosa. 

- Perdoe meu atrevimento, senhorita Mann, mas fico feliz de termos nos reencontrado após aquela noite no terraço. 

Phoebe continua observando o mapa quando diz:

- Apenas se me chamar de Phoebe, senhor Hayes. 

- Muito bem, Phoebe. E, por favor, me chame de Leon. 

Dessa vez ela se vira e sorri aquele sorriso largo e bonito. Meu Deus, o que essa mulher está fazendo que está me causando essa vontade desesperada de dar mais um passo em sua direção? 

Limpo a garganta antes de dizer: 

- Aquela nossa conversa sobre o universo foi... fascinante. Senti-me compelido a saber mais sobre o assunto. Porém os livros não foram tão gentis quanto a senhorita. Nem tão apaixonados, eu diria. 

- Me perdoe por ter despejado tanta informação em você naquela noite. É só, sabe, algo que eu amo. 

- Não precisa se desculpar, Phoebe. Também poderia divagar por horas falando sobre o que me interessa. 

- E o que te interessa? 

E eu queria muito dizer: você, Phoebe, você me interessa. Eu não te conheço o suficiente, mas o tanto que conheço me instiga, me provoca a querer saber mais. Uma mulher que está me desafiando e está vencendo nessa batalha silenciosa que estamos travando. 

Ouço Margery me chamando para perguntar algo sobre meu sabor favorito de bolo.

- Eu adoraria continuar essa conversa, Phoebe, saber mais sobre essas coisas que você ama. Se desejar, é claro. 

- Me parece ótimo. 

- Me encontre para um chá amanhã então. Às 16h naquela casa de chá dos azulejos antigos. 

- Tudo bem.

Ela sorri e quebra um pouco meu coração antes que eu me retire para conversar com Margery. 



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